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sábado, dezembro 31, 2005

RETROSPECTIVAS E BALANÇOS

Hoje é dia, mesmo no plano pessoal, para retrospectivas e balanços.
O Quinto Poder também faz uma do ano de 2005 , recordando uns tantos postais publicados no ano agora a findar.

Este de 5 de Janeiro-sobre a campanha eleitoral para as legislativas, aqui na Figueira
Este de 11 de Janeiro-sobre o orçamento municipal para 2005
Este de 16 de Janeiro-sobre o segredo fiscal

Este de 6 de Fevereiro - sobre os Carnavais na Figueira

Este de 8 de Fevereiro-sobre a hipótese de co-habitação entre Sócrates e Cavaco

Este de 18 de Fevereiro -sobre uma declaração de votos nas eleições legislativas

Este de 4 de Março - sobre a ponte dos arcos da Figueira da Foz

Este de 10 de Março-sobre o regresso de Pereira Coelho à Câmara da Figueira

Este de 17 de Março - sobre dívidas a fornecedores da Câmara da Figueira

Este de 6 de Abril - sobre a escolha do candidato do PS à Câmara da Figueira

Este de 10 de Abril - sobre a escolha do candidato do PS à Câmara da Figueira

Este de 11 de Abril - sobre as obras no castelo Engº Silva

Este de 21 de Abril - sobre o tarifário da água na Figueira

Este de 7 de Maio-sobre as opções insustentáveis no País e na Figueira

Este de 15 de Maio - sobre as dívidas do Município da Figueira

Este de 9 de Junho-sobre declarações de Pereira Coelho a justificar 300 mil euros investidos em festas

Este em 7 de Julho-sobre declarações de Mário Soares a proposito do atentado terrorista em Londres

Este em 11 de Agosto- sobre as composições das listas para as eleições autárquicas

Este em 16 de Agosto-sobre avenças e avençados na câmara da Figueira

Este em 30 de Agosto-sobre a despesa de 106 mil contos no Estadio, por causa do futebol

Este em 30 de Setembro-sobre o cenário de Duarte Silva não terminar o seu mandato

Este em 6 de Outubro-sobre a declaração de voto nas eleições autárquicas

Este em 25 de Outubro-sobre as candidaturas de Cavaco Silva e Mário Soares

Este em 27 de Outubro-sobre a atribuição de vários pelouros a Pereira Coelho

Este em 4 de Novembro-sobre a concepção de cultura de Mário Soares

Este em 15 de Novembro sobre declarações de Pereira Coelho a propósito da gestão financeira da Câmara da Figueira.




sexta-feira, dezembro 30, 2005

O DESESPERO E O PATÉTICO

Estou verdadeiramente banzado e estarrecido.
Agora mesmo, na SIC Notícias, um dos mais fieis sobas de Mários Soares, o inefável e acaciano ( de Conselheiro Acácio, do genial Eça..) Vítor Ramalho, acaba de passar um atestado de tótós e de prostituto(a)s a um grande número de jornalistas, ao acusá-los de se submeterem aos patrões e dirigentes da comunicação social, desfavorecendo intencionalmente a candidatura de Mário Soares na sua cobertura noticiosa.
Nem a nenhum dos mais fieis acólitos de Santana Lopes ouvi coisa parecida, nos desesperados tempos que antecederam a queda do santanismo e a vitória de José Sócrates.
O desespero atinge agora a escala do patético.




ONDE É QUE EU JÁ OUVI ISTO?

A diatribe de Mários Soares, hoje pronunciada, contras certas estações de televisão ( ver esta notícia) de

estarem a fazer um exercício de falta de liberdade e isenção, ultrajante para a liberdade de imprensa, procurando convencer as pessoas de que há um vencedor antecipado

faz-me lembrar aquela outra de Rui Gomes da Silva, fiel acólito e ministro do governo de Santana Lopes, quando em público acusou a TVI de não conceder o direito ao contraditório às crónicas políticas domingueiras de Rebelo de Sousa.
E que tanta indignação e celeuma provocou na opinião pública, lembram-se?

Em ambos os casos se tratou de descaradas tentativas de condicionamento e manipulação dos meios de informação.
Como de resto Mário Soares sabia muito bem fazer ( será que ainda sabe? ) , dando crédito ao que conta num livro a sua antiga assessora de imprensa, Estrela Serrano.

A NOVA LEI DO TABACO EM ESPANHA

Se fosse hoje, Antero de Quental já não poderia titular de “ Causas da decadência dos povos peninsulares “ a sua famosa conferência do Casino.
Espanha, o nosso vizinho peninsular é agora uma potência na União Europeia, e a 8ª economia mundial.
O seu Produto Interno cresce a taxas da ordem dos 3% ao ano, enquanto o do seu vizinho pobre, Portugal, se limita a crescer a umas escassas décimas percentuais.
Cavaco Silva tem razão quando diz que não dá para entender porque assim é .

Não terá muito a ver com isto, mas o PUBLICO de hoje, na sua primeira página, publica uma grande foto colorida mostrando a entrada de um espaço público em Espanha. Parece ser uma entrada para o Metro. Merece alguma reflexão.
No pavimento, um gigantesco sinal de proibido fumar. Um cigarro fumegante, dentro de uma coroa circular vermelha, cruzada por uma linha vermelha. Sem complexos, a mensagem, autoritária, é de que "é proibido". E pronto.
Não é como os envergonhados avisos de “Não fumadores”, em pequenos rectângulos de papel colados nas paredes, que aqui pela nossa terra se colocam nos espaços públicos, por exemplo nos comboios, no aeroporto ou no metropolitano. Tão pequenos e tão envergonhados, que mal se conseguem enxergar…
Com a nova legislação (aprovada nas Cortes, por unanimidade) proibindo ou restringindo o consumo de tabaco nos locais públicos, a Espanha junta-se assim a outros Estados europeus, modernos e prósperos, como a Finlândia, a Holanda, a Irlanda, a Suécia e a Itália.

O dr. Pulido, na sua crónica do PUBLICO de hoje, a propósito de outra coisa, e no seu habitual registo avinagrado e de ressaca, fala “ da mania da imitação que distingue o indígena e vem da inferioridade e do atraso do país”.
Pela minha parte, só vejo vantagens em ir ver como se faz “lá fora” (em vários domínios, desde a justiça à administração escolar) e imitar depois o que se faz bem e com bons resultados.
Quando “imitaremos “ então em Portugal o que se está a fazer bem em Espanha?
Adoptando, por exemplo, uma idêntica, ou pelo menos semelhante, legislação sobre o consumo de tabaco, como a que vigorará em Espanha a partir do próximo dia 1 de Janeiro.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

INCOERÊNCIA OU MEMÓRIA CURTA

Ouvi ontem o candidato Francisco Louçã propor, naquele seu estilo e voz de Cónego Remédios, profundas reformas na Justiça. De entre as quais, uma muito concreta : a criação de uma carreira de defensores públicos, para colmatar as falhas dos defensores oficiosos ( uma proposta completamente tonta, assinale-se...)
Hoje foi a vez do candidato Jerónimo de Sousa não propor, mas reivindicar, a intervenção do Presidente da República no diferendo que opõe o Governo e os sindicatos da função pública quanto ao aumento salarial para 2006.

Por coerência com as afirmações críticas que os dois fizeram ao candidato Cavaco Silva, por este ter feito uma anódina sugestão ao Governo, os prosélitos daqueles dois candidatos deverão considerar as propostas por eles apresentadas como intoleráveis intromissões do Presidente da República nas esferas de competência do Governo. Ou não?

Muitos outros exemplos como os citados se poderão encontrar em afirmações de todos os outros candidatos.

É só uma questão de ter alguma pachorra para os procurar e registar.

UMA NOVA SECRETARIA DE ESTADO ?

Neste postal, o prezado colega Amicus Ficaria teve a gentileza de fazer um comentário a este outro postal do Quinto Poder.
Ora eu torno a recomendar ao Amicus Ficaria para ler bem, mais de uma vez se for preciso, com atenção, e na íntegra , o teor da resposta dada por Cavaco Silva à pergunta do entrevistador, da qual somente destaco estas parcelas :

“Há uma coisa que pode ser feita em Portugal (...). Podia existir um responsável do Governo que fizesse (...)
(...)
(...) um acompanhamento com algum pormenor que deveria ser feito por um secretário de Estado especialmente dedicado a essa tarefa”

Onde é que se pode ler, ou concluir, ou interpretar que Cavaco Silva propõe ( ou quer, como já tenho lido e ouvido...) a criação de uma nova Secretaria de Estado?

Insisto no que já escrevi.
Pode acontecer que aquele sugerido acompanhamento já esteja a ser realizado pelo já existente Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Economia ou pela API -Agência Portuguesa de Investimento ( e não pelo ICEP como por lapso referi no meu anterior postal). O Presidente da API , de nomeação directa do Governo, tem estatuto muito semelhante ao de um Secretário de Estado.
Não estou nada seguro que tal acompanhamento esteja de facto a ser feito. Parece-me que a API se tem dedicado muito mais à captação e acompanhamento do novo e grande investimento, sobretudo estrangeiro.
Mas se estiver, óptimo.
Admito que Cavaco Silva pudesse não estar bem informado nessa matéria.
E se o não estava, deveria estar, antes de fazer a proposta ; nisso estaria de acordo.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

LEGITIMAÇÃO DO TERRORISMO

Fernando Nobre, dirigente da AMI, fez a declaração a seguir transcrita do jornal O Diabo ( retirada do PUBLICO de hoje) .
Inacreditável? Não, não é.
A afirmação só espantará quem não conhecer o dito dirigente, e outras tiradas muito semelhantes frequentemente lidas e ouvidas de algumas personalidades bem pensantes da “intelectualidade” indígena.

“ O terrorismo não é só a bomba que explode, é também uma governação que deixa morrer à fome milhões de pessoas” .

A CRISE POLÍTICA NA CÂMARA DA FIGUEIRA

A retirada de pelouros e da qualidade de Vice-Presidente da Câmara a Pereira Coelho, era uma decisão política que o Presidente da Câmara tinha inevitavelmente que tomar . Era a menos má de um leque de soluções possíveis. Pelo menos limita os estragos já causados ou a causar no futuro.
Assobiar para o ar, fingindo que nada se passava e que tudo ia bem, seria insustentavelmente desastroso para o Presidente da Câmara, e em particular para a sua imagem.

Imagino que o futuro não vai ser para ele nada fácil de gerir politicamente.

A meu ver, é difícil de prever o que irá fazer Pereira Coelho.
Se fica ou não fica na vereação; se, ficando, vai ou não criar dificuldades aos membros executivos da Câmara e à própria Câmara Municipal em si mesma; se, em sessões camarárias, vai ou não juntar o seu voto aos dos outros vereadores não executivos eleitos pelo PS ; se vai pedir a suspensão do seu mandato na Câmara Municipal, dedicando-se somente ao exercício do seu mandato de deputado; e se, neste último caso, vai ou não continuar a, por via de terceiros e de pessoas a ele politicamente leais e dedicadas, a intervir e conspirar na vida autárquica local.

A acentuar o conjunto destas várias incógnitas, está desde logo a circunstância de eu não perceber porque é que Pereira Coelho, pessoa com muita experiência nestas coisas dos sinais e das tricas políticas, não se ter apercebido que o gesto do Presidente era inevitável, antecipando-se e sendo ele a devolver as suas competências e o lugar de Vice-Presidente.
Terá sido por arriscada sobre avaliação do seu peso político local ? Por necessidade de vitimização? Ou por estar na posse de trunfos políticos que desejará usar e jogar na altura própria?

De qualquer forma, o Presidente da Câmara apenas tem de se inculpar a si próprio por tudo o que aconteceu e por aquilo que eventualmente venha a acontecer, como consequência de só agora se ter apercebido da menos valia que Pereira Coelho representava na equipa de trabalho autárquico por si liderada.

Não conheço ainda, na íntegra, a justificação de Pereira Coelho para não ter aprovado a proposta de Orçamento para 2006, documento determinante da gestão da autarquia, assim rompendo com a solidariedade esperada pelo Presidente da Câmara, e devida à restante equipa do executivo camarário.
Mas não deixa de ser curiosamente paradoxal que aquela quebra de solidariedade, e a consequente perda da confiança política por parte do Presidente da Câmara tenham a sua origem numa decisão e num voto de não aprovação do orçamento, que a meu ver se justificavam e que foram bem tomados.
Decisão e voto que eu igualmente tomaria, face ao irrealismo da proposta apresentada.
Por razões que tenho justificado neste QuintoPoder.

terça-feira, dezembro 27, 2005

SUGESTÕES , INTROMISSÕES E INGERÊNCIAS

Vai por aí, de eco em eco, uma grande berraria a propósito das declarações prestadas por Cavaco Silva numa entrevista ao Jornal de Notícias.
Chegou-se mesmo agora o cúmulo do ridículo, quando, a propósito delas, um porta voz veio há momentos falar “numa ameaça de um golpe de estado institucional” .
De forma muito oportunista, já se ouve um coro crescente de afirmações indignadas e aterradoras de que aqui d’El Rei lá está ele a fazer interferências e intromissões na esfera da competência do Governo.
Pensei que seria melhor eu comprar o JN e ler a entrevista na íntegra. Foi o que fiz.

Desde logo, em destaque na primeira página, escreve-se a letras mais gordas:
“ Cavaco Silva quer um Secretário de Estado para acompanhar empresas estrangeiras”.
Ora, no corpo da notícia, Cavaco Silva não diz querer, de modo nenhum. Limita-se a afirmar que “Há uma coisa que pode ser feita em Portugal (...) “

Depois, é falso, como tenho já lido e ouvido, que Cavaco Silva tenha sugerido a criação de uma Secretaria de Estado.
Vou então transcrever, na íntegra, a pergunta e a resposta :

JN – Problema grave é o da deslocalização de empresas estrangeiras. Nessa matéria, o presidente pode ajudar?

Cavaco Silva – Há uma coisa que pode ser feita em Portugal, que eu sei que já foi feita noutros países. Podia existir um responsável do Governo que fizesse a lista de todas as empresas estrangeiras em Portugal e, de vez em quando, fosse falar com cada uma delas para tentar indagar sobre problemas com que se deparem e para antecipar algum desejo dessas empresas se irem embora, para assim o Governo tentar ajudá-las a inverter essas motivações. Tem de ser um acompanhamento com algum pormenor que deveria ser feito por um secretário de Estado especialmente dedicado a essa tarefa .

Oh que impertinente interferência! Oh que perigosa intromissão ! Oh que ameaça de um golpe de estado!


Como se pode ver, o que sugere, ou propõe, é “ (...) um acompanhamento com algum pormenor, que deveria ser feito por um Secretário de Estado especialmente dedicado a essa tarefa” . Não se fala numa Secretaria de Estado.

E afinal, aquela tarefa de acompanhamento já estará possivelmente a ser realizada por um Secretário de Estado do Ministério da Economia, ou por um organismo com estatuto semelhante ( ICEP? ). Se assim é, óptimo .
Em tal caso, Cavaco Silva deveria era sabê-lo, talvez .

Curioso é que, ao longo da entrevista, podem ler-se muitas mais afirmações opinativas, perfeitamente alinhadas e semelhantes às frequentemente proferidas pelos outros candidatos e pelo actual Presidente da República, e que , sem necessidade de grande habilidade retórica, poderiam também, numa lógica de má fé, ser levadas à conta de perigosas intromissões nas áreas das escolhas e opções que são da responsabilidade do Governo.

Vejamos algumas :

“O Governo, como a maior parte dos economistas, sabe que é necessário fazer um esforço de contenção da despesa pública, que neste Orçamento parece que foi conseguido”

“ Defendo missões no quadro das organizações internacionais a que pertencemos, mas temos de ter em conta as nossas limitações de recursos”

“ (...) vejo com preocupação a possibilidade de actuações de forças portuguesas fora do território nacional, num quadro de divergências profundas nas forças democráticas”

“(...) se vir que é necessária mais uma lei para que a gestão pública seja transparente, irei sugeri-la “

“ (...) é uma ilusão pensar em substituir, de um momento para outro, os têxteis por indústrias tecnologicamente avançadas. Este sector tem de ser apoiado na direcção da qualidade, na marca” .

Que é que alguns parecem desejar? Um Presidente corta fitas e que de vez em quando, em visita ou em bailarico com as “populações”, diga só banalidades e baboseiras, assim ao estilo do antigo Venerando Chefe do Estado, Almirante Américo Thomaz?....
Será para isso que o povo português é chamado às urnas, para eleição directa de um cidadão para Presidente da República?

sábado, dezembro 24, 2005

FELIZ NATAL

...são os votos do Quinto Poder para todos os seus colegas da blogosfera e para todos os seus leitores.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

UM ORÇAMENTO DE FAZ DE CONTA

Os Vereadores da Câmara Municipal da Figueira da Foz que foram eleitos pelos PS, votaram contra a proposta de Orçamento para 2006 , que hoje vai à apreciação da Assembleia Municipal.
Quanto a mim, com toda a razão.
Mais uma vez, tal como de há uns anos a esta parte, estamos em presença de previsões de receitas completamente fantasiosas, quase delirantes.
Haverá alguém com algum bom senso que possa, de boa fé, afirmar que uma previsão de receitas de 75,2 milhões de Euros em 2006 tem um mínimo de realismo? Num contexto nacional de estagnação económica e de contenção geral , seria um verdadeiro milagre económico que as receitas pudessem crescer do actual nível real dos 45 a 50 milhões de Euros, para aqueles 75 milhões. Parece haver quem acredite em milagres, e no Pai Natal .


Recordemos como aconteceu num passado mais recente ( valores aproximados, em milhões de Euros) :

Em 2001:
- Previsão orçamental : 86,0
- Execução : 54,6
Em 2002:
- Previsão orçamental : 77,0
- Execução : 60,5
Em 2003:
- Previsão orçamental : 64,5
- Execução : 42,1
Em 2004:
- Previsão orçamental : 85,0
- Execução : 46,0
Em 2005:
- Previsão orçamental : 84,4

Não é conhecido ainda o resultado da execução de 2005, embora não fosse muito difícil a opinião pública conhecê-la, com bastante aproximação, se a Câmara Municipal revelasse as receitas realmente recolhidas até ao final de Novembro deste ano, por exemplo.
Como lhe competia, se quisesse dar um exemplo de transparência democrática, dando condições a quem tem de aprovar a proposta ( primeiro a Câmara Municipal e depois a Assembleia Municipal) para a poder apreciar com inteira consciência e fundamento.
Mas do que se vai sabendo do estado das finanças municipais, não custa a crer que a execução de 2005 tenha ficado ainda abaixo da de 2004, ou seja, abaixo dos 46 milhões de Euros.

Inscrever despesas totalizando um montante, como 75 milhões de Euros, que à partida não se acredita possa ser atingido do lado das receitas, nem de perto nem de longe, é enganar-se a si próprio e é lançar poeira momentânea para os olhos da opinião pública e dos Presidentes das Juntas de Freguesia.
Mais valeria por isso assumir agora, desde já, que não se dotam rubricas das despesas porque não há ou não vai haver recursos disponíveis do lado das receitas, do que criar falsas expectativas, prometendo que se vai fazer ou atribuir ( “até está inscrito no Orçamento...”) e depois nada ser feito ou atribuido.
Parece haver preferência para, mais uma vez, a estratégia do “ depois logo se vê...” que tem sido tão usada na política portuguesa, a nível local e nacional. Com os resultados desastrosos que se vão sentindo na situação em que os portugueses se encontram.

O Orçamento de qualquer organização é um documento que é para ser levado a sério, e que deve ser um instrumento orientador e condicionador da gestão anual.
A Assembleia Municipal deveria por isso ter a coragem ( sobretudo bem vinda por parte dos deputados municipais afectos à maioria camarária) de não aprovar tal Orçamento de faz de conta. Ou de pelo menos pedir que a proposta fosse retirada e reformulada numa base de bom senso e de responsabilidade.
Não seria um acto de hostilização política. Seria um acto de desejável pedagogia, de exigência, de rigor, e um bom exemplo.
Aqui na Figueira da Foz, e também a nível nacional.


LEGITIMIDADE E INTELIGÊNCIA

Não é por ter sido publicado no semanário O Diabo ( segundo transcrição do Publico de ontem) que o seguinte comentário de Medina Carreira deixa de ter toda a pertinência e de me merecer concordância :

“ É legítimo que uma sociedade diga : quero ser pobre, não estou para me chatear, gosto de pontes, de praia, de sol e de sardinha assada.
O que não é inteligente é dizer que depois disto queremos viver como os suecos ou como os alemães “.

IDEIAS ?...

No debate de anteontem, por 3 ou 4 vezes Mário Soares prometeu que ia também falar das suas ideias ( “Eu vou já falar das minhas, eu vou falar das minhas” )
Nunca falou.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

DESTAQUE E CONCORDÂNCIA
...para o teor deste postal do Portugal dos Pequeninos, ainda sobre o debate Cavaco-Soares de ontem.

CONTENÇÃO, CONVERSA , BOA EDUCAÇÂO E SENTIDO DE ESTADO

Conseguir ter contenção, sobretudo como reacção a afirmações a roçar a má educação, é uma qualidade importante para um político e sobretudo para um Presidente da República.
Pelo contrário, e para o mesmo efeito, ser desbocado (1) é um grave defeito.
“Ter conversa”, com serenidade, poderá ser um requisito para quem deva exercer o indispensável sentido de Estado de um Presidente da República .
Mas ter só conversa, e conversa pela conversa, já será uma grande desvantagem

(1) – Os mais antigos e o mais atentos deverão lembrar-se daquela cena do Presidente da República, então Mário Soares, dependurado da janela do autocarro onde seguia, a clamar em altos berros para um pobre guarda da GNR que fazia o seu melhor, sobre a sua moto, a tentar facilitar o trânsito: “ Ó senhor guarda, desapareça!..Desapareça!...”.

CASO ENCERRADO

Corroboro inteiramente o comentário muito sintético do Bloguitica , em jeito de balanço do debate Soares – Cavaco da noite de ontem :

Cavaco Silva conseguiu evitar todas, ou quase todas .
Case closed.


Ou seja, em bom português : caso encerrado .

PICARDIAS

Ainda transcrito do blogue O Insurgente, sobre o debate de ontem :

Soares procurou transformar o debate num interrogatório hostil a Cavaco.
Pouco fica para além dos ataques pessoais e da tentativa de demonizar Cavaco.
Soares ganha em ruído mas não apresentou uma única ideia; Cavaco não terá sofrido danos de maior.
Sócrates pode continuar descansado.

Em eleições para escolher companhia para jantar, Soares ganharia de caras.

-Estive em 28 Conselhos de Turma!
-Eu também! Eu também!
-Estiveste em um antes da turma se formar e eu fui professor.
-Eu também! Eu também! E escrevi muitos livros!
-Eu também! E até se podem ler em estrangeiro! E sou social-democrata!
-Não és nada! Eu é que sou!
-Sou sim!-Não és!
-Sou e pronto, acabou! E leio os dossiers.
-Ai é!? E eu não leio, queres ver? Sabes la tu o que é a globalização! Nunca me escreveste uma carta sobre isso!
-Sei sim senhor e escrevi. Tanto que até no Grande Satã a leram.
-Agora tens a mania que escreveste a Biblia! Sou agnostico e "isso agora não interessa nada"! O que interessa é que não sabes nada de Historia!
-E a Espanha, hã?! Hã?!
-E a Historia, hã? Hã?!

CRÓNICA BREVE DE UM DEBATE

Construida com uma colagem de pequenos postais publicados no blogue
O Insurgente ao longo do debate . A crónica e a transcrição estão obviamente incompletas.

Mário Soares faz a primeira série de ataques pessoais a Cavaco Silva logo depois de anunciar que não faria ataques pessoais.

Cavaco ignora Soares e fala no desemprego

Mário Soares assegura que foi o garante da estabilidade política e que resolveu a crise.

Soares diz que Cavaco é despesista.

Soares coloca-se na posição de entrevistar Cavaco.

Soares diz que se for eleito, Cavaco irá criar instabilidade social.

Mário Soares: "Eu sei economia suficiente"

Cavaco diz que pode "falar com as empresas para estimular a inovação".

(Já cansa o discurso vazio sobre a importância da "confiança".)

Soares tenta transformar o debate num interrogatório a Cavaco mas consegue apenas produzir ruído. Face à estratégia trapalhona do adversário, Cavaco aguenta-se bem embora sem marcar pontos.

Cavaco (com a grande ajuda de Soares) conseguiu desviar a conversa para a Economia. (Só ainda não percebi a relevância do tema tal como foi discutido até aqui para o debate presidencial). Cavaco discute assuntos genéricos sem sustentar a sua relevância e Soares faz ataques pessoais insustentados.Momento mais hilariante: Cavaco diz que foi professor e Soares para não ficar atrás começa a gritar em fundo "Eu também! Eu também".

Cavaco orgulhoso do apoio de centenas de sindicalistas.

Soares faz mais um ataque pessoal. Diz que Cavaco é inculto.

Soares diz que Cavaco é autoritário, porém um democrata.

Soares recorda que todos os economistas que consultou, o aconselharam a manter Portugal fora da CEE.Soares acusa Cavaco de ser só um economista, sem capacidades políticas, incapaz de desempenhar o cargo de PR.I (Irá Soares propor o fecho das faculdades de economia ou a restrição dos direitos dessa raça destituída de senso?)

Cavaco diz que é um homem de palavra. Soares toma a frase como um insulto.

Soares praticamente só fala do período em que Cavaco Silva foi primeiro-ministro e critica o seu adversário por não falar do futuro.

Soares diz que Cavaco só fala de coisas do passado. Que aconteceram há dez anos. Ele quer falar dos problemas do presente.De seguida fala no governo da AD.

Após Cavaco citar Sá Carneiro sobre prioridades em política, Soares diz que assim pensam os que têm o mínimo de formação política.

Soares garante que Cavaco é de direita.

"Eu estou convencido que a crise é grave."

Cavaco fala de Economia. Soares fala de Cavaco.

Soares é social-democrata encartado.

Soares tem visões.

Soares acusa Cavaco de ter vergonha do PSD para, poucos minutos depois, o acusar de procurar a desforra da derrota do PSD nas últimas legislativas

Soares diz que vai ser solidário com o governo. Cavaco defende a "cooperação estratégica".Quem souber o que isto significa avise.

Soares diz que se não tivesse dissolvido a AR, Cavaco não teria tido experiência política - a tal que Cavaco não tem.

Soares ainda não apresentou uma única ideia. Limita-se a tentar interrogar Cavaco e assustar o eleitorado.

Soares acusa Cavaco de pretender demitir o governo

Soares consegue dizer que também foi professor.

Soares assegura que Cavaco "não tem conversa".

Soares acusa Cavaco de não tagarela.

Soares lembra também ter sido professor.

Soares diz que já escreveu imensos livros.

(Eu também já dei aulas em Universidades).

Cavaco foi acusado de nunca ter escrito nada contra a globalização. Pelo contrário, o seu oponente/acusador enumera extensa bibliografia e actuação. E pensa estar certo...

Cavaco dá a entender que Soares é incompetente. Soares fica ofendido com o "ataque pessoal".

Parece que Soares se candidata a moderador de debates.

Mário Soares queixa-se do tratamento dos media.

Soares sabe que vai haver segunda volta por duas razões. Já percorreu o país e sabe o que o país pensa.

Soares cita Marcello Caetano.

Soares acha que os portugueses estão equivocados sobre os poderes do PR.

terça-feira, dezembro 20, 2005

ATITUDES E OPÇÕES SUICIDÁRIAS
Muito, muito preocupante é o teor desta notícia.
Não sei mesmo se, perante a pouca estabilidade emocional e a falta de unidade reveladas pelo colectivo dos trabalhadores da Auto Europa ( e os investidores não andam distraídos...) o futuro desta empresa, importantíssima para a economia portuguesa, não estará irremediávelmente posto em causa para além de 2007.
Tenho algumas dúvidas que ainda se possa ir a tempo de remediar todas as preferências suicidárias manifestadas por aqueles trabalhadores.

OBRIGAÇÃO E RESPONSABILIDADE
Esta notícia tem entrelinhas para ler.
José Sócrates anuncia que vai intervir e marcar presença na campanha eleitoral de Mario Soares.
Não diz que o vai fazer por desejar ardentemente que Mário Soares saia vencedor, mas porque é essa a sua obrigação e responsabilidade, em virtude de ser Secretário Geral do PS.
Diz que " o PS está empenhado" na eleição de Mário Soares. Não declara estar ele, José Sócrates, nisso empenhado.
E também declara que "achamos que ele é o melhor candidato". Não creio tratar-se do uso do chamado "plural majestático" , mas "Achamos" está ali na primeira pessoa do plural.
Ou seja, a organização/instituição Partido Socialista assim o considerou, segundo as suas regras internas de decisão. E ele, seu responsável superior, tem a obrigação e a responsabilidade de o declarar, em obediência a elementares regras de boa representação democrática.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

MEMÓRIAS SOLTAS (3)

O semanário figueirense “Mar Alto” , sob o título “ Viva o 31 de Janeiro!”, publicava no dia 7 de Fevereiro de 1985 a seguinte notícia:

Subscrita pelos democratas (......) recebemos a seguinte nota com o pedido de publicação :

A revolta do Porto de 31 de Janeiro de 1891 – tentativa de implantação da República para além do seu significado democrático e patriótico constitui, desde há muito, uma data celebrada pelos democratas como símbolo vivo da luta popular pela liberdade, progresso e pela Independência Nacional.
A actual situação que o País atravessa é motivo de grande inquietação.
Com efeito, a constante degradação das condições de vida da população, a escandalosa situação dos que trabalham e não recebem os salários, a permanente deterioração da situação económica e financeira do País, o agravamento do endividamento externo que põe em causa a independência nacional, as ameaças às liberdades e à democracia de que a proposta governamental da Lei de Segurança Interna é expoente, assim como a política geral do actual governo, suscitam fundamentadas e profundas preocupações dos democratas.

Por isso, comemorar hoje o 31 de Janeiro, para além de homenagear os seus heróis é, também momento de reflexão e acção comum dos democratas na denúncia da actual política e na exigência de medidas que conduzam a uma nova solução governativa, que promova a felicidade e o bem estar do Povo Português, que assegure a liberdade, a democracia e o progresso no Portugal de Abril.

Os democratas que estavam inquietos e muito preocupados, e assinavam esta nota, eram : Luís Melo Biscaia, Joaquim Namorado, Luís Pena, Carlos Alberto Maia de Carvalho, Isabel Pereira, Cerqueira da Rocha, Luís Ribeiro, António Menano, Carlos Manuel dos Santos Neto, João Manuel Bento Pinto, Nélson Fernandes, Pastor João Neto e Marcos Viana.

Mas o que isto tem de mais curioso é que, em Fevereiro de 1985, estava no poder o IX Governo Constitucional, chefiado por Mário Soares...imagine-se!.. .
O qual , no entender dos democratas subscritores, colocava em causa a independência nacional e ameaçava as liberdades e a democracia...
O X Governo Constitucional, chefiado por Cavaco Silva, haveria de sair das eleições realizadas em 6 de Outubro desse mesmo ano de 1985.
E entretanto, até hoje, passaram 20 anos de liberdade e de alternância democrática.

CRITERIOS EDITORIAIS

A 3 / 4 de toda a largura da sua primeira página, o Diario As Beiras de hoje exibe o seguinte título :

Figueira da Foz vai ter crematório

Lendo o corpo da notícia, verificamos não se tratar ainda, sequer, da entrada em funcionamento daquele equipamento .
Antes a Câmara Municipal, e apenas, pediu um estudo e deu a conhecer o anúncio da abertura de concurso...
Numa época natalícia, em que a vida política local na autarquia da paróquia fervilha quase até à ebulição, e em que circulam pela opinião pública local interrogações, dúvidas e perplexidades, não haveria assunto mais candente e pertinente, hoje ou nos dias passados, para originar uma retumbante manchete como esta, num órgão da imprensa regional ?

SOARES " LUZ E SOMBRA"

Merece uma leitura e muita reflexão este postal do Portugal dos Pequeninos.
Sobretudo para quem ainda tenha dúvidas quantos às qualidades e defeitos de carácter de Mário Soares.

OS MILHÕES DA UNIÃO EUROPEIA

A imprensa de hoje publica fotografias do primeiro Ministro exibindo um sorriso muito rasgado, no final da cimeira da União Europeia, realizada em Bruxelas no fim de semana.
Tinha muito boas razões para isso.
As verbas do orçamento comunitário de que Portugal vai beneficiar, no período de 7 anos de 2007 a 2013 ascende a um montante enorme de 22 485 milhões de Euros...Feitas as contas, corresponde a cerca de 8,8 milhões de Euros por dia .
Quase chegaria para construir por dia um Centro de Artes e Espectáculos como o da Figueira da Foz, que tem o glorioso nome de Pedro Santana Lopes.
Aquela verba de muitos milhões representará um decréscimo de 10% relativamente às que Portugal dispôs no Quadro Comunitário anterior .
Uma consequência do alargamento da União Europeia a 25 membros.
Todavia , a quebra deixou descansado quem temeria que ela pudesse vir a ascender a taxas da ordem de 20 % a 25% .
A este propósito, o Diário de Notícias de hoje publica também um editorial, do qual destaco os trechos seguintes, cujo conteúdo tem a meu ver grande pertinência :

Nestes 20 anos de adesão à União Europeia (...) instalou-se em alguns sectores, incluindo o Estado (...) uma preocupante irracionalidade e irresponsabilidade nos investimentos em infra-estruturas físicas.
Os exemplos de proliferação de rotundas, dos centros culturais em todos os cantos e das estações de tratamento de resíduos que não funcionam, são as faces mais caricatas e visíveis desse desperdício de fundos de Bruxelas por parte do sector público (...)
(...)
Neste momento festejam-se os milhões. Seria preferível pensar seriamente numa forma de os aplicar de forma mais eficaz que no passado, aprendendo com as razões que explicam a fraca capacidade de reprodução dos investimentos realizados.
É preferível não gastar tudo a investir em projectos que serão apenas custos no futuro


Acorre-me novamente à memória o Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, o qual cada vez mais adquire contornos de um verdadeiro elefante branco, por vir provocando um volume de despesas correntes a ele directamente associadas, insustentável para os recursos financeiros do Município, como agora se vai tornando cada vez mais claro.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

MEMORIAS SOLTAS (3)
Estudar e conhecer História sempre ajuda muito a compreender o presente e a intuir um pouco sobre o futuro.
Por isso eu acho que o texto seguinte deve merecer alguma reflexão.
Trata-se de uma transcrição, não retirada do contexto, de uma crónica de Vicente Jorge Silva, escrita a propósito da demissão de Vítor Constâncio de Secretário-Geral do PS, publicada no EXPRESSO de 12 de Novembro de 1988 . Já lá vão 17 anos!...Nessa altura, alguns dos actuais trintões da nossa paróquia ainda andariam somente interessados nas vitórias do Sporting ou do Benfica no campeonato nacional da 1ª Divisão...
Segundo o líder demissionário revelou no passado domingo, bastou uma semana, após a sua eleição como secretário geral, para perder as ilusões sobre a possibilidade de um relacionamento positivo com o seu antecessor e actual Presidente da República.
Apesar das suas demonstrações de bom comportamento e fidelidade a Mário Soares, este retribuiu-lhe com uma campanha sistemática contra a sua direcção.
Que fez Constâncio ? Continuou a guardar de Conrado o prudente silêncio, a oferecer cristãmente a outra face.
Apenas decorridos dois anos, tirou as conclusões definitivas desse prolongado masoquismo.
Demitiu-se e avisou “ rectrospectivamente” o partido de que “tem de encarar o problema e decidir de forma claramente assumida e, portanto, politicamente eficaz, se quer para secretário-geral um líder próprio ou uma espécie de assessor de Belém ".
De notar que este último trecho entre aspas é citação directa do que foi dito por Vítor Constâncio.
Concluindo : se Mário Soares ganhar a eleição e for Presidente, José Sócrates que se cuide.
Ou, como diz a sabedoria popular ; " quem má cama faz nela se há-de deitar" .
PS (Post scriptum...) : O teor deste postal "encaixa" bem no deste outro do colega Amicus Ficaria" .

quarta-feira, dezembro 14, 2005

A RESPONSABILIDADE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL

Face ao clima de grande tensão e viscosidade actualmente sentido e respirado no seio da maioria da Câmara Municipal da Figueira da Foz, e à muito preocupante situação das finanças municipais, já trazida ao conhecimento da opinião pública, parece impor-se como necessária a convocação de uma sessão extraordinária da Assembleia Municipal, exclusivamente destinada ao cabal esclarecimento de todos os aspectos que rodeiam esse clima e essa situação, e no exercício da sua competência consignada na alínea c) do nº1 do artigo 53ª da Lei nº 169/99 .
Consta deste artigo que :

1 – Compete à Assembleia Municipal :
(...)
c) Acompanhar e fiscalizar a actividade da Câmara Municipal (...) ;

A convocação da Assembleia Municipal extraordinária poderá ser feita por um terço dos seus membros, conforme reza o Artº 50º da mesma Lei nº 169/99 :

1- O presidente da assembleia convoca extraordinariamente a Assembleia Municipal, por sua iniciativa, quando a mesa assim o deliberar ou, ainda, a requerimento :
(...)
b) De um terço dos seus membros.

Será difícil recolher as assinaturas deste terço?

A DECLARAÇÃO DE VOTO...

Apenas pela rama, tomei conhecimento do teor da declaração de voto que acompanhou a abstenção do Vice Presidente da Câmara da Figueira, na votação da proposta de Orçamento para 2006 .

Falta-me lê-lo na íntegra. Bem gostaria de o poder fazer já.
Sobretudo para ler e analisar melhor nas suas entrelinhas, as subtilezas semânticas, as meias frases, e as insinuações de responsabilização dos outros e des-responsabilização do próprio.

Parece-me desde logo um documento com um claríssimo significado e peso políticos, muito, muito maiores do que o acto de abstenção em si mesmo, face ao qual o, ou os destinatários, das suas mensagens, provocadoras e acusatórias, não poderão continuar a assobiar para o lado.
Conhecido o perfil político do autor, e o seu desempenho na gestão autárquica durante o mandato anterior, é também um texto para cuja redacção foi obviamente requerida muita desfaçatez . Muita lata, para falar em linguagem simples, de pão-pão, queijo-queijo.

Seria por isso da maior importância que tal documento fosse dado a conhecer de imediato à opinião pública figueirense, para esta poder reforçar o devido e justo juízo, pelo menos no plano político, sobre o seu autor.
Seria de esperar que a imprensa regional já tivesse prestado esse relevante serviço público.
Ainda não prestou. É pena.

terça-feira, dezembro 13, 2005

ABSTENÇÃO NA VOTAÇÃO DO ORÇAMENTO

Dei comigo a sorrir ( bem..convenhamos...a rir mesmo) quando li a notícia de que o Vice-Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Pereira Coelho, se tinha abstido na votação da proposta de Orçamento Municipal para 2006, apresentada à reunião camarária de ontem.
Logo a seguir, afloraram na minha memória histórias antigas. Datam dos meados de 2002, quando eu era Vereador da Câmara Municipal .
É legítimo, oportuno e indispensável relembrá-las e delas dar testemunho.

Depois de, por diversas ocasiões, ter alertado para a imperiosa necessidade de mudar de vida na Câmara Municipal, especialmente em matéria de despesas, resolvi votar, em plena sessão de Câmara, contra a atribuição de dois pequenos subsídios. Foi em 7 de Maio de 2002.
Um, de cem contos ( na moeda antiga) , fora pedido para comprar umas “prendinhas” para os professores do Concelho, que iam realizar um jantar de confraternização. Outro, de 200 contos, era para um concerto rock em Brenha.
Ambos foram aprovados, com o meu voto contra. Todos os restantes vereadores votaram a favor.
Deixei em acta uma declaração de voto, na qual me referi aos “tempos muito difíceis que aí vinham”.

Era um voto meramente simbólico, feito com algum efeito de surpresa, que pretendia encerrar uma mensagem aos restantes membros executivos.
Mas foi como se tivesse caído o Carmo e a Trindade, ou fosse cair o Governo.
Numa das seguintes reuniões dos membros executivos da Câmara, o seu Vice-Presidente decide fazer, num daqueles discursos redondos de que tanto gosta, uma verdadeira catilinária contra a minha posição. Não gostei, nem do registo, nem do contexto. Nem tão pouco do silêncio do Presidente da Câmara .
Este andava então muito ocupado e ansioso com as festas e cerimónias de pompa e circunstância da inauguração do Centro de Artes e Espectáculos, e por isso limitei-me a ouvir com paciência, sem deixar de contra argumentar com ardor .

Passados uns dias, em 28 de Maio de 2002, dei uma entrevista ao Diário As Beiras. Nela reafirmava as posições que anteriormente havia assumido sobre as despesas da Câmara Municipal . Não dizia nada que os meus colegas de Vereação não soubessem já quanto à minha opinião.
O título da entrevista, que não reproduzia exactamente as minhas declarações ( eu nunca usara o termo “poupar”...), era o seguinte:

“Saraiva Santos quer que a Câmara poupe mais” .
E em subtítulo :

“Em declarações ao Diário As Beiras, o vereador responsável pela gestão financeira entende que “ ainda não se está a fazer o suficiente” para poupar “.

Em 3 de Junho, o Presidente da Câmara e os vereadores executivos realizaram nova reunião de trabalho. Não estava presente o Vice-Presidente, e a reunião decorria em ambiente cordial e mais ou menos descontraído, com profícua planificação do trabalho a levar a cabo no futuro a curto e médio prazo . Nada de anormal notei, a não ser uma vontade do Presidente em terminar a reunião o mais rapidamente possível.

Já estava quase tudo tratado, quando se juntou à reunião o Vice-Presidente.
Decorridos poucos minutos, eis que decide começar de novo uma agressiva catilinária, desta vez sobre o teor da minha entrevista.
Num ambiente de crescente crispação, feita de conflitos e divergências acumuladas, era a faísca que faltava.
Ali mesmo resolvi bater com a porta, anunciando que devolvia ao Presidente as competências que ele me havia delegado.
Não o fiz todavia devido à dita catilinária do Vice-Presidente, mas por causa do silêncio do Presidente, pesado como chumbo .

segunda-feira, dezembro 12, 2005

MEMÓRIAS SOLTAS (2)

Agora que tenho mais tempo para remexer em arquivos, documentos e papeis antigos, encontrei este pequeno poema de Orlando de Carvalho (1), datado de Dezembro de 1966 ( in "Vértice" de Março de 1969 ).
Achei-o curioso, pois parece um texto premonitório...

Quando este medo for
pequeno minotauro
uma sílaba grega
ou vestígio de vaso,
quando o vento polir
vermelho estatutário
esta pequena dor
como um pequeno orvalho,
quando tudo romper
na profusão dos cravos
e não ficar sequer
nenhum ramo parado
nenhum resto de Abril
anónimo e molhado

há-de doer, doer
esta palavra Maio !
(1)-Professor Catedrático de Direito da Universidade de Coimbra, foi candidato pela lista da Oposição Democrática do distrito de Coimbra nas "eleições" de 26 de Outubro de 1969.

AS FINANÇAS DA CÂMARA DA FIGUEIRA

É sem surpresa que leio isto no Diário As Beiras de hoje:

“ A propósito de finanças, numa reunião recente com os presidentes de junta, vereadores e mesa da Assembleia Municipal , que Duarte Silva revelou que a situação financeira que herdou do (seu) anterior mandato é mais delicada do que aquela que encontrou quando sucedeu a Santana Lopes”

Quase estava escrito nos astros que cedo ou tarde tal viria a acontecer .
Quando se insiste em gastar e gastar no acessório um recurso escasso como o dinheiro, algum dia este irá faltar para o essencial.
Torna-se agora assumido aquilo que de há muito era óbvio para quem tivesse um mínimo de bom senso, de sentido de responsabilidade, e de ciência para fazer umas contas muito simples com as quatro operações da aritmética.

A situação de quase pre-ruptura financeira em que de novo se encontra o Município da Figueira ( isto depois de nas suas finanças se terem “injectado” 20 milhões de euros em 2002, provenientes de empréstimos bancários!....) dever-se-à, em larga medida, e como o Quinto Poder tem frequentemente comentado, à prática irresponsável de no orçamento anual se sobrestimarem, em grande escala, as receitas previsivelmente a cobrar.
Consequentemente, do lado das despesas, as rubricas ficam dotadas com folga.
Mas com folga totalmente artificial e perigosamente enganosa.

Claro que assim, a chamada “regra de ouro” da obrigatoriedade de prévia cabimentação da despesa não serve para nada, não serve de instrumento de contenção e de disciplina na assunção de novos compromissos financeiros.
Perante a hipótese de um deles ser assumido, vai a ver-se o que está disponível na rubrica sobre dotada e, claro está, há sempre cabimento.
Só que as receitas sobrestimadas não entraram de facto nos cofres municipais; e a Tesouraria não consegue responder, por falta de disponibilidades, em tempo próprio.
A solução é não pagar aos fornecedores.
O Município fica caloteiro? Depois "logo se vê"...
E de "logo se vê" a "logo se vê" se vai indo . Até que um dia se tem de ver mesmo...

domingo, dezembro 11, 2005

CENSURA A JORNALISTAS "ENCOMENDADOS"

Recordo-me de aqui há uns dias ter visto e ouvido Mário Soares, com pasmosa lata, acusar os jornalistas que o entrevistavam, de só lhe fazerem as perguntas que os respectivos chefes lhes mandavam fazer.
Fosse Cavaco Silva a dizer isso, cairia o Carmo e Trindade, ficava a "intelectualidade" portuga toda enxofrada, e iria por aí um berreiro do caraças...

FAZ SENTIDO ?
Destaque para este trecho do Editorial do último número da revista SABADO :
(...) Esta semana, em entrevista ao Publico,[Soares] manteve o tom e disse, de braços abertos e deitado numa poltrona : "Aceitarei a sua legitimidade [de Cavaco] desde que as eleições sejam limpas "
Presumindo que Mário Soares não está a confundir Portugal com o Haiti, e dando por certo que já anda nestas coisas há tempo suficiente para só dizer aquilo que realmente quer, estamos perante uma estratégia de campanha : Soares quer aparecer como o candidato antifascista que luta contra o candidato quase fascista.
É uma estratégia absurda, que já foi usada pelo filho, João Soares, com a desastrada consequência de ter levado à eleição de Pedro Santana Lopes para a Câmara de Lisboa.
Como não resultou uma vez, usa-se uma segunda. Faz sentido.

CONSPIRAÇÕES ...

Nunca fui propenso a dar crédito às chamadas “ teorias da conspiração”, assim ao jeito de Graham Green ou de Le Carré, para explicar acontecimentos, comportamentos ou factos políticos.
Agora... tenho de concordar que estas previsões e interpretações especulativas , do colega local Pedro Ledo, fazem sentido, lá isso acho fazem.
Farão mesmo todo o sentido para quem conhecer minimamente os dois personagens das peripécias a que elas se referem, e a natureza do relacionamento pessoal que entre eles existe.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

MANUEL ALFREDO

Ausente e distante da Figueira da Foz desde há alguns dias, só ontem à tarde , depois de uma brevíssima consulta à blogosfera local, tomei conhecimento da triste nova : falecera o Aguiar de Carvalho.
Desliguei logo ali o terminal alugado, paguei, e fui libertar um pouco da minha angústia dando um passeio à beira mar, no final de uma tarde soalheira e quente.
A notícia não me apanhou de surpresa. Já há bastante tempo que sabia, através de familiares seus, da sua crescente debilidade física.

Fomos amigos, colegas de estudos universitários e de actividade profissional, vizinhos.
Fomos também companheiros na acção política municipal, em especial nos primeiros anos da consolidação da democracia e do novo poder local democrático.
Nos idos desses tempos, era o Manuel Alfredo.

Mais tarde, afastaram-nos diferentes feitios, gostos comportamentais e concepções quanto ao modelo concreto de acção política, que não divergências ideológicas de monta. Mantivemos sempre uma educada cordialidade e consideração mútua, mas ao Manuel Alfredo passei a referir-me mais habitualmente como Aguiar de Carvalho, como quase toda a gente . Entretanto, íamo-nos cruzando no elevador ou à porta das garagens.
Sem que tenha havido entre nós qualquer acrimónia pessoal, mau grado alguns pequenos conflitos intra partidários nos anos oitenta, fui crítico relativamente a muitos aspectos que caracterizaram a sua forma de intervir na política, designadamente na de âmbito autárquico .
Mas reconheço que o seu nome fica indelevelmente registado na história da Figueira da Foz, mais não fosse pela longevidade do período em que foi Presidente da Câmara (15 anos), creio que sem paralelo neste Concelho. O que já não é feito de pouco mérito.

Um melhor balanço global da sua acção deverá ser deixado para outra oportunidade, importando todavia destacar que ele também deva ser feito em termos relativos e comparativos ao que veio depois dele. E neste aspecto, bem vistas as coisas, contextualizadas as condições e considerados os tempos, quer-me parecer que acabará por sair bem colocado .

Depois da sua primeira intervenção às artérias do coração, visitei-o em casa umas 3 ou 4 vezes, tendo reparado, logo na primeira, na lentidão da recuperação e nas dificuldades do pós operatório. Numa delas, telefonei-lhe antes de bater à sua porta . Não lhe reconheci a voz de imediato, e por isso perguntei se quem falava era o Manuel Alfredo. Era. Novamente.

A morte e a sua iminência tem este poder e destas consequências, Manuel Alfredo. Voltei a tratar-te assim. Como nos nossos tempos de estudante.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

PRESIDÊNCIAS ABERTAS…

A jornalista Estrela Serrano foi assessora de Mário Soares para a comunicação social, ou coisa parecida, nos tempos em que ele foi Presidente da República.
Anos mais tarde, publicou um livro intitulado “ Presidências abertas de Mário Soares”, contendo revelações e depoimentos muito interessantes sobre as formas de instrumentalização e manipulação dos jornalistas que o ex-Presidente conhecia (e que conhece ainda) e de que fez muito uso, designadamente para a realização das suas chamadas “presidências abertas”.
Tenho grande interesse em ler o livro, sobretudo para fazer e fundamentar alguns juizos de ordem ética sobre alguns aspectos comportamentais do agora candidato. Dizem-me que o livro contem elementos importantes para o efeito.
Já consultei a página da FNAC. O título consta de facto dos arquivos, mas está indisponível. O que quer dizer que possivelmente estará esgotado.
Talvez um leitor do QuintoPoder me possa prestar uma informação onde e como poderei ter acesso a esse livro, o que desde já agradeço. Claro que irei também tentar uma consulta à Biblioteca Municipal.

AEROPORTO DA OTA – DICAS SOLTAS (6)

Em resposta à seguinte uma pergunta formulada pelo EXPRESSO do passado sábado:

A construção da Ota é a continuação da política do betão?

Pude ler as duas sensatas seguintes respostas, de pessoas avalizadas, insuspeitas, e com reconhecida competência em matéria de ciência económica :

Mira Amaral
- Embora tenha sido o PS a lançar essa frase nos governos de que fiz parte, não entro nesse registo.
O que importa discutir é se a Ota é necessária ou não, e o que é necessário é aplicar as metodologias de análise custo-benefício a tal investimento e reflectir sobre os resultados.

Teodora Cardoso-
- A política do betão tem dois vectores : o das infra-estruturas necessárias à competitividade da economia e o dos pretextos para despender fundos públicos .
A Ota insere-se no primeiro.

domingo, dezembro 04, 2005

O GOSTO PELA CULTURA DE UM PRESIDENTE

Sobre a cultura de um candidato a Presidente que se diz um homem culto e de cultura, porque leu um dia Os Lusíadas, acho oportuno dar destaque a um artigo de Francisco José Viegas publicado há um par de dias no Jornal de Notícias, do qual transcrevo este trecho:


Mas o que está em causa é "um presidente que dê a ideia de ser um homem culto".
A ideia é que ele respeite "a cultura" (a gente que assina documentos públicos e tem poder no "sistema cultural" e nas "associações do sector"), os músicos e os cineastas.
Não é má ideia, tirando que a literatura não se faz nas "associações do sector" e que a cultura não é propriedade do "sistema cultural" e do complexo de cargos para que há nomeações e comissariados.

O que me incomoda, e sempre incomodou, é a imagem do político que gosta de reunir essa gente e que treme de comoção quando "os artistas" lhe dizem que estão muito honrados por serem aceites na corte.
Um presidente que respeite a cultura e que não suborne os escritores, os músicos, os pintores, é bom. É magnífico.
Mas eu prefiro que, além disso, o presidente deixe "a cultura" em paz e que, em vez disso, seja honesto, imune a pressões corporativas e pedidos de favorecimento, e seja incapaz de pressionar "a cultura".

OS GOUVARINHOS , A CRUZ E O TRAPÉZIO

A Cruz e o Trapézio é o título de um excelente e clarificador artigo de opinião de João Bénard da Cosa, que hoje se pode ler no PUBLICO, ainda sobre a meio adormecida (talvez devido ao actual período eleitoral…) questão da retirada dos crucifixos das escolas públicas.
Bénard da Costa é católico, é verdade.
Mas é também um velho intelectual católico progressista, que sempre militou sem medo nem reticências cautelosas, mesmo nos tempos da ditadura, no campo ideológico daquilo que se costuma designar por “esquerda”. Porventura por razões de fidelidade atávica, pertence agora à Comissão de Honra de Mário Soares.
Convirá lê-lo e reflectir um pouco nos lógicos e pertinentes argumentos que aduz, sem complexos, e nos factos que relata.
Transcrevo apenas a parte final do seu artigo:

Desculpem-me a expressão, mas, “por amor de Deus”, parem com esta loucura ou com esse fundamentalismo reverso.
A não ser que se queiram imortalizar, como se imortalizou o Gouvarinho de Eça quando acusou os defensores da educação física de quererem substituir a Cruz pelo trapézio.
Como se costuma dizer, o ridículo mata.
E, só para não invocar o Santo Nome em vão, não termino esta crónica dizendo : “Haja Deus”, expressão corrente na boca de tantos ateus”


sábado, dezembro 03, 2005

COMPLEXOS DE VELHAS MENTALIDADES

Embora sem se referir explicitamente a este meu blogue, o colega Amicus Ficaria veio aparentemente replicar, anteontem, a um post publicado no QuintoPoder no qual eu manifestava desacordo relativamente ao teor de um outro post do colega Lugar para Todos, a propósito da questão da retirada do crucifixo das salas de aula do ensino público.

Parece-me que seria descabido e enfadonho, no âmbito despretensioso da blogosfera local, comentar e triplicar, ponto por ponto, argumento por argumento, às diversas considerações e juizos do Amicus Ficaria.
Até porque, sinceramente, e com o devido respeito, alguns deles se me afiguram tão frágeis ( para dizer o mínimo…) que nem sei como sobre eles poderia adiantar, em texto escrito e não muito longo, qualquer arremedo de contraditório.
Atenho-me por isso ao conclusivo parágrafo final, aqui reproduzido :

E é por isso que eu não concordo com a presença de símbolos religiosos em espaços públicos. Seja de ensino ou de outra espécie.

Deve ter sido para acolher tal tese e cumprir tal princípio que a Câmara Municipal da Figueira este ano cortou nas despesas das iluminações de Natal.
Órgão de soberania local de um Estado laico, não confessional, para cumprir como deve a Constituição da República, não poderia, segundo a tese do Amicus Ficaria, conceder verbas dos fundos públicos, pagos por contribuintes laicos e não confessioanais , para a colocação de estrelas de Belém, anjos de asas brancas, imagens de Nossa Senhora e do Menino Jesus, iluminando as ruas da cidade.
Poderiam, quando muito, ser colocadas umas florzitas laicas, umas árvores de Natal estilizadas e umas bolitas coloridas.
Nem mesmo sinos ou imagens do Pai Natal poderiam ser colocadas; convém lembrar que esta simpática figura de barbas brancas é a de São Nicolau, um santo do cristianismo e da civilização cristã ( greco-judaico-cristã, se quiserem…).
Presépios com o Menino Jesus nas palhinhas, com o burro e vaquinha, também não poderão obviamente decorar as praças, ruas e jardins da cidade, não fosse acontecer que se transformassem em locais de culto em espaços públicos, o que seria intolerável num Estado laico e seria contrário à Constituição...

Poderia levar-se a sanha e o complexo laicista e a esquizofrenia anti confessional muito mais longe.
As freguesias de São Julião e de São Pedro, na Figueira da Foz, teriam obviamente de mudar de nome. Como o mesmo teria de acontecer com terras como Santa Marta de Portuzelo, São João da Pesqueira e Santa Maria da Feira.
Ao jeito do que fez Robespierre, mudando os nomes dos dias da semana e dos meses, demasiado ligados a símbolos religiosos da antiga Roma, passando a chamar, por exemplo, Brumário ao mês de Fevereiro.

As capelas teriam de desaparecer dos hospitais.
As Instituições Privadas de Solidariedade Social ( as IPSS’s) como as Santas Casas da Misericórdia, com a palavra Santa no seu nome, com óbviã conotação religiosa, e com capelas e crucifixos, teriam de deixar de receber subsídios e recursos financeiros do Estado laico.
Estes seriam dados apenas às IPSS com nome e natureza verdadeiramente laica e não confessioanal, como Goltz de Carvalho ou Fernão Mendes Pinto.
A Câmara Municipal da Figueira também teria de deixar de subsidiar as festas de São João, padroeiro da cidade, e igualmente um símbolo religioso. Acabava-se com o esplendoroso fogo de artifício, com o que se poupava uma pipa de massa, embora tal argumento possa parecer muito economicista, como agora soe dizer-se quando o dinheiro a gastar não é o nosso.
A Câmara de Lisboa teria de fazer o mesmo com as festas de Santo António. A estátua deste, na Avenida de Roma da capital, seria obviamente retirada, por ser um símbolo religioso, não fosse ela também transformar-se em local de culto, num lugar público. Idem para a imagem de São Cristóvão na Rotunda do Relógio, junto ao aeroporto.
Em Viana do Castelo, as festas da Senhora da Agonia, com a sua religiosíssima procissão, também não mais contariam com recursos financeiros da respectiva Câmara Municipal para se realizar.
E até a republicaníssima sede do Parlamento da República Portuguesa, laica e não confessional segundo a sua prolixa Constituição, teria de mudar de nome, e não mais seria designada por Palácio de São Bento.
O nome de um Santo venerado pela Igreja Católica Apostólica Romana, vejam lá!....
Seguindo à letra o dito e defendido pelo insigne líder partidário Anacleto Louçã, o nome daquela casa, antes albergando a Assembleia Nacional, deveria ter sido mudado logo na tarde do dia 24 de Abril de 1974…

quinta-feira, dezembro 01, 2005

A CRUZ COMO SIMBOLO CIVILIZACIONAL

Como se poderá depreender de um anterior post do Quinto Poder, estou em grande desacordo com a tese defendida neste post do colega local Lugar para Todos.
Por efeito da minha falta de adesão confessional à Igreja Católica, estou à vontade, desde os meus 18 anos, para sobre este assunto falar e escrever como falo e escrevo.
Não confundo porém as coisas.
No seu artigo 43ª , a Constituição Portuguesa estipula realmente que o ensino público não será confessional.
Mas não diz que o ensino público tem de ignorar, apagar ou renegar a identidade cultural nacional, ou seus valores civilizacionais, uns e outros forjados e arquitectados com a cruz como símbolo e os valores cristãos como matriz.
A presença desse símbolo nos lugares onde se ensinam os novos portugueses, nas escolas públicas do Estado laico, não confere a esse ensino nenhum cunho confessional, para os efeitos da letra e do espírito da Constituição.

Não foi só o candidato Cavaco Silva que “aproveitou a deixa “ para se manifestar, contra aquela anunciada medida, como acusa o post do prezado colega local Lugar para Todos,
Também Manuel Alegre, poeta e homem de cultura, que gosta e não receia falar em Pátria , não teve complexos em declarar que não o incomodava nada a presença dos crucifixos nas escolas.

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