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terça-feira, setembro 30, 2008

O QUANTO PIOR MELHOR

O professor Francisco Louçã, que fala muito bem ( carregando sempre nos errres....) e diz saber muito de economia, quer que o Primeiro-Ministro discuta na Assembleia da República a gravíssima crise financeira mundial e de confiança em que todos estamos e vamos viver . No ponto em que as coisas estão, quanto mais os governantes e os líderes partidários discutirem na praça pública a gravidade da crise actual, mais esta se agrava, por efeito do clima de crescente alarme ( ou mesmo pânico) que minará ainda mais a confiança das pessoas, dos empresários e dos bancos.
Mas a Francisco Louçã isso pouco lhe importa. Deve estar mais interessado em jogar na estratégia do quanto pior melhor . Assim poderá esfregar as mãos, mais contente. Quanto mais turvas estiverem as águas, melhor nelas poderá pescar. Um exemplo de repugnante cinismo. Por acaso, a extrema direita também costuma esfregar as mãos em situações e climas como os que vivemos.

segunda-feira, setembro 29, 2008

FRAUDES NADA INOCENTES

Pode ler-se no editorial de hoje do PUBLICO :

“Tantos orgãos e tanta gente que não serviu para quase nada. Assembleias gerais de accionistas, conselhos de administração separados das comissões executivas, comités internos de auditoria, conselhos de supervisão, agências de rating (avaliação de risco)seguidas cegamente, analistas de bolsa, comités de avaliação de risco. Foram todos criados para se controlarem e vigiarem de forma independente. Falharam todos ao mesmo tempo, contaminados uns pelos outros e numa teia de dependências, cumplicidades, desleixos e ganância. “

Será boa altura para reler a vasta obra e algumas das teses de John Kenneth Galbraith (JKG). Foi ele que, com a sua sabedoria, criou o termo de “ tecnoestrutura” , a nova classe dominante numa visão marxista ( ou marxiana) da história e do desenvolvimento do capitalismo.
O seu último livro, curto de apenas 94 páginas, publicado dois anos antes da sua morte (ocorrida em 2006), e de que dizia ser o seu melhor de sempre, chama-se “ A fraude inocente” .
Do seu capítulo 5 (“A empresa como uma forma de burocracia”) retiro os seguintes excertos, de especial substância e significado :

“ (...) A gestão empresarial é uma das formas mais sofisticadas de fraude e, nos últimos tempos, uma das mais evidentes. Tendo desaparecido a deprecativa palavra “capitalismo”, existe uma outra designação válida que poderia ser aplicada – burocracia empresarial. No entanto, “burocracia” é um termo que, como já indiquei, é escrupulosamente evitado ; a referência aceite é “ gestão” . Os donos e os accionistas das empresas são reconhecidos, venerados até, mas é por demais evidente que não têm qualquer papel na gestão dos negócios.

(...)
“Esta fraude tem aspectos cerimoniais bem aceites : um deles é o conselho de administração, eleito pelos gestores, completamente subordinado aos mesmos, mas ouvido como sendo a voz dos accionistas. Inclui vários homens e a necessária presença de uma ou duas mulheres ; apenas lhes é exigido um conhecimento superficial acerca da empresa e, salvo raras excepções, são fielmente aquiescentes. Juntamente com uma compensação financeira e alguns acepipes, os directores são regularmente informados pelos gestores daquilo que já foi decidido ou daquilo que já é do conhecimento público. A aprovação é um dado adquirido, mesmo para a remuneração dos gestores – remunerações fixadas pelos gestores para eles próprios. Estas, como não é admirar, podem ser bastante generosas. Na Primavera de 2001, durante um período de quebra no mercado accionista, o The New Your Times, uma publicação que não é radical, publicou uma página inteira acerca do contraste entre a queda dos preços das acções e o aumento das remunerações dos gestores. Estas últimas, que incluiam opções de compra de acções ( a preços favoráveis), chegavam, nalguns casos, a vários milhões de dólares por ano.
(...)
As remunerações generosas para os gestores são comuns a todas as grandes empresas modernas. O enriquecimento legal na ordem dos milhões de dólares é prática vulgar para quem governa estas organizações. Este facto não é surpreendente : são os gestores que fixam as suas próprias remunerações.

(...)
Não há dúvida : os accionistas – os donos – e os seus supostos directores estão, em qualquer empresa de grande dimensão, completamente subordinados aos gestores. Apesar de se passar uma imagem de autoridade do dono, ela não existe de facto.
Uma fraude bem aceite. “

OS CUSTOS DO SINDROMA ABEL XAVIER

Com inteira propriedade, um arquiteco madeirense, e antigo Vereador socialista da Câmara do Funchal, designa por “sindroma Abel Xavier” a genial obra do não menos genial Alberto João Jardim em criar exótica e artificialmente na Madeira umas tantas praias de areia branca, importada de Marrocos. Até agora, a coisa custou já para cima de 22 milhões de euros.
A líder nacional do PSD , sempre aparentemente muito rigorosa quanto aos balanços benefício-custo das obras públicas, não condena, nem sequer comenta, tal faraónico esbanjar de dinheiros públicos, nos tempos difíceis em que vive a economia portuguesa?
Ou será que dinheiro mal gasto ( que o há, de certeza, e em larga escala...) só acontece no governo de que José Sócrates é Primeiro-Ministro? A nível da governação regional da Madeira, ou de muitos municípios liderados pelo PSD, isso não se verifica?

quarta-feira, setembro 24, 2008

O VOTO POR CORRESPONDÊNCIA

No PUBLICO de ontem podiam ler-se dois artigos, divergentes no seu sentido de opinião, sobre a alteração recentemente aprovada pelo Parlamento, terminando com o voto por correspondência dos emigrantes, nas eleições para a Assembleia da República.
Um, o de Helena Matos, no seu habitual registo contundente e sarcástico, condenando a alteração. Outro, de Vital Moreira, no seu classico estilo professoral e escolástico, concordante com o fim do voto por correspondência.
Vital Moreira inicia o seu artigo com este arrasante parágrafo :

“A direita política, com o PSD à cabeça, reagiu veementemente contra a proposta do PS de acabar com o voto por correspondência na votação das eleições parlamentares no estrangeiro. Faz sentido esta oposição? “

Eu, cá por mim, não reajo veementemente. Logo, presumo que não deva pertencer à tal
“direita política” de que fala o autor. Reajo sim, com grande estupefacção perante alguns dos argumentos aduzidos.
O ilustre professor de direito escreve mesmo a certa altura que :

“(...) o voto por via postal não garante que a votação seja feita pelo próprio eleitor nem muito menos que o voto seja secreto. A coabitação com outras pessoas, bem como razões familiares , pode constranger ou inibir a pessoalidade do voto. “

Imagino que não se tenha rido quando escreveu tal inaudito argumento. Para além de ridículo, soa a atestado de menoridade cultural passado ao eleitorado português ( emigrante ou não), quase do mesmo grau daquele outro argumento de Salazar, que dizia que o povo português não estava preparado para a democracia, tal como era esta era vivida na Inglaterra. Pela mesma linha de raciocínio, não sei porque não se retira o direito de voto aos analfabetos ou aos cegos.

Não tardará muito tempo, e o mecanismo da votação deixará de envolver a urna e o papelinho dobrado em quatro. O direito/dever de votar passará a ser exercido em casa, através da Internet, ou numa qualquer caixa de mulibanco. Será que então se irão brandir os perigos e os fantasmas de tal novo sistema poder “constranger ou inibir a pessoalidade do voto”?.
De resto, o voto por correspondência está adoptado em muitos países europeus. Tanto quanto sei, desde há muito que na Suécia, por exemplo, se pode votar por correspondência. Não apenas os emigrantes ou estrangeirados. Um cidadão sueco que queira ir passar uns tempos para o estrangeiro, de férias, num período em que entretanto haja eleições, poderá deixar o seu voto por correspondência. Em Portugal, já há muito tempo que também se pode votar por correspondência para os orgãos dirigentes de clubes, associações e instituições privadas, sindicatos e ordens profissionais.

segunda-feira, setembro 22, 2008

DE COIMBRA PARA AVEIRO

A sede da Região de Turismo do Centro foi transferida de Coimbra para Aveiro. O Presidente da Câmara da Figueira não gostou. Acha que se deveria seguir a tradição e tudo continuar como tradicionalmente, ou seja, em Coimbra. Pela minha parte, e na minha qualidade de cidadão figueirense, concordo com a transferência. Ela significa e insere-se num processo de um redobrado reforço do eixo Figueira-Aveiro, em detrimento do tal tradicional eixo Figueira-Coimbra. De passagem , o novo eixo englobará também Cantanhede (com um crescente perfil de cidade virada à tecnologia e ao futuro) e Mira ( que em breve terá uma importante actividade no domínio da piscicultura).
Relativamente a Coimbra, Aveiro está mais virada ao futuro do que ao passado e à tradição, tem mais moderna e desempoeirada Universidade, tem melhor qualidade de vida, tem mentalidade mais aberta e liberal, tem agora mais fácil e mais rápido acesso rodoviário à Figueira, tem porto de mar como a Figueira ( complementando-se mutuamente), tem muita e mais poderosa actividade industrial. São todos aspectos com os quais a Figueira só terá a ganhar se procurar emular ou seguir os bons exemplos de Aveiro. E com Aveiro criar proveitosas sinergias.
Não vai ser por isso que a pequena e média burguesia de Coimbra e arredores deixará de vir à Figueira passar os fins de semana e metade do mês de Agosto, ajudando esta terra a manter a ilusão de que ainda é terra com vocação e potencial para o turismo.

sábado, setembro 20, 2008

A QUALIDADE DA DEMOCRACIA - bis

Juro que quando hoje escrevi o anterior post , reproduzindo o editorial do EXPRESSO, ainda não tinha lido esta notícia do DN de hoje...

JUSTIÇA RÁPIDA

Até na quase desconhecida Sérvia, a Justiça parece funcionar de forma mais lesta, eficaz e descomplexada do que em Portugal, como ilustrado
nesta notícia.

A QUALIDADE DA DEMOCRACIA

Escreve Henrique Monteiro, no Editorial do EXPRESSO de hoje :


“(...) Ao criticar o exagero da líder do PSD, não posso deixar de recordar que as suas razões de queixa não são diferentes daquelas que o PS apresentava ( com igual exagero) no tempo em que Cavaco tinha maioria absoluta e era Manuel Ferreira Leire uma ministra despreocupada com a qualidade da nossa democracia. Se a crítica tanto a Cavaco como a Sócrates é exagerada, qual a razão de ser absolutamente certeiro o facto de de muita gente e muitas empresas parecerem ter medo de falar?(...)
Vive-se demasiado da cunha, do chamado empenho; vive-se de certos conhecimentos que passam o papel da infindável burocracia para o topo da lista. Da multa perdoada a pedido do vizinho da prima. Do emprego que arranjou o padrinho do amigo. Do negócio chorudo ganho porque se apoiou o candidato ( e muitas vezes todos os candidatos). Do sucesso porque se conhece o líder...(...) o Estado tem demasiado poder ( embora pouca autoridade, que é bom não confundir com poder) e que a burocracia cria demasiados pequenos poderes não democráticos. E é por esta conjunção de factores que mais ou menos toda a gente tem de conviver com o poder e de se sujeitar aos seus amuos, birras e raivas. (...).

Mas não se pense que este quadro indicativo da inferior qualidade da nossa democracia ocorre apenas à escala do poder central. A nível do poder local, é ainda mais evidente e sentido no nosso quotidiano.

sexta-feira, setembro 19, 2008

AUTO CRÍTICA ?...ACTO DE CONTRIÇÂO?...

Em mais uma daquelas cerimónias publicitárias muito frequentes, desta feita no lançamento de um projecto de energias renováveis, o Primeiro-Ministro fez declarações curiosas que merecem destaque. Eis uma delas :

“(...) a melhor forma de reduzirmos a nossa dependência do petróleo é aumentarmos a percentagem de electricidade baseada em energias renováveis, aproveitar o potencial hídrico – que está desaproveitado de forma absolutamente irresponsável (...) “

Presumo que se tratará de uma afirmação de auto crítica, ou então de arrependido acto de contrição. É que José Sócrates foi Secretário de Estado e Ministro de António Guterres, líder de um governo que cometeu a “absoluta irresponsabilidade" “ de mandar cancelar a construção, que estava em curso, da barragem de Fozcoa. Tudo isso tão só devido à berraria levantada pela corporação dos arqueólogos, logo apadrinhada por ilustres mas complexados membros da Nomenklatura "intelectual " indígena.
Já não se lembrará ? Ou na altura andava distraido e ainda não se tinha apercebido da importância do problema criado por aquele desaproveitamento ? Ou já tinha dele tomado consciência mas não teve coragem para levantar a voz?
Terá agora uma boa oportunidade para corrigir o seu erro ou omissão. Será defender e tomar a decisão de retomar a construção da referida barragem. Os caboucos ainda lá estão. Olhe que é capaz de ganhar muitos votos se o fizer.

quarta-feira, setembro 17, 2008







A ASAE PARA NOVA IORQUE, JÁ!.......

Em Nova Iorque, todos os sábados, a 6ª Avenida ( ali mesmo, a 300 metros da 5ª...) encerra ao transito automóvel, desde a rua 42 até ao verde Central Park.
Ao longo de toda a larga avenida, instala-se então, devidamente orientada pela polícia, a mais variada e fascinante feira que se possa imaginar, fazendo lembrar as nossa feira do Relógio, em Lisboa, ou a feira da Tocha, aqui bem perto da Figueira.
Assiste-se a uma incrivel mistura de raças, brancos, negros, mulatos, amarelos, povos, cores, origens : europeus, chineses, indianos, tailandeses, árabes, turcos, brasileiros, latino americanos, africanos, todos em perfeita harmonia e convívio, uma espantosa amostra do verdadeiro “melting pot” cultural que é NYC .

A nossa portuga e higienista ASAE, do nosso hiper civilizado país, a agência que cuida das cores das facas, das colheres de pau e dos galheteiros, teria por lá muito e muito trabalho para fazer. Todas aquelas tendas, mesas, bancadas, iriam decerto ser corridas a coimas e a imediatas ordens de desmontagem ou encerramento.
(Clicar nas fotos para as aumentar)

terça-feira, setembro 16, 2008

PÔR ORDEM NA JUSTIÇA E PÔR JUIZES NA ORDEM

Ontem à noite, assisti a uma entrevista do Presidente do sindicato dos juizes, essa aberração portuga e terceiro-mundista. O Presidente do sindicato queixou-se que este não foi consultado para a revisão do Código do Processo Penal . Não se lembrou o jornalista de perguntar o que é que o sindicato tinha a ver com isso. Não é o sindicato apenas para tratar das condições de trabalho e de remuneração dos respectivos associados sindicalizados?
Já em entrevista hoje divulgada, para compensar , o Presidente do Conselho Superior da Magistratura e do Supremo Tribunal de Justiça (estes sim, foram ouvidos para a revisão do citado código), armado em dirigente sindical e deixando pelo meio uma ameaça velada, reclama que “ há 16 anos que as remunerações dos juizes não são actualizadas, uma situação que pode trazer consequências na qualidade e na independência dos juizes”. Isto está cada vez mais bonito, na Justiça em Portugal!...
As coisas ficam então claras . Para haver melhor justiça, o que os juizes necessitam é de mais cacau...Já podiam ter dito isso antes, co’caneco .
Nos idos dos anos trinta do século passado, ainda em plena ditadura militar, Oliveira Salazar, manhoso e esperto como um rato, já dizia, referindo-se aos tropas : “ Querxe a tropa caladinha? Paguexe-lhes bem!....”

O PRAZER E O DESPRAZER DE UMA TORNADA

Tornado de longe à pacata vida da Figueira, terra ex-Rainha mas onde sabe bem viver, eis que na comunicação social encontro notícias que logo fazem baixar o nível do meu contentamento :
- Falência do maior banco de investimentos dos EUA, cujo efeito dominó ainda está muito longe de ter começado a ser sentido no nosso quotidiano;
- Continuam a ocorrer diariamente assaltos a bombas de gasolina;
- A bagunça e o descrédito do sistema de Justiça em Portugal são cada vez maiores ;
- Juizes dizem que estão a ser soltos criminosos ;
- O Primeiro-Ministro português faz de nós parvos e acha que a redução de 13 % (relativamente ao ano passado) do número de chumbos (ou de “ retenções”, na nova linguagem politicamente correcta) nos exames de Matemática se deve à maior eficácia do sistema de ensino e à formidável acção do Governo na área da Educação, parecendo que o mesmo PM acredita nas varinhas de condão das fadas boas e no Pai Natal, e que eu, seguindo pelo mesmo caminho, juro a pés juntos ser o Napoleão Bonaparte ou o Mao-Tse-Tung :
- A comunicação social começa a falar de um estado de alguma crispação entre o PM e o PR ;
- Aqui pela paróquia, ouve-se dizer que “ caminhamos para a ruina em termos financeiros” .

No meio deste cenário de núvens negras, não haverá uma única razão para ficar optimista? Claro que há. Apesar de todas as malfeitorias que fazem aos figueirenses, continua a ser bom viver na Figueira. A nível nacional, o concerto da Madonna foi um êxito clamoroso. Estiveram presentes 75 mil pessoas, tenda cada uma desembolsado qualquer coisa como 90 euros ( ou terá sido mais?). Afinal, qual quê?. Não há qualquer crise na classe média portuguesa, como muito comentador económico para aí anda a dizer, a fim de atacar o Governo e o capitalismo neo-liberal. A não ser que os tais 75 mil pagantes pertençam todos à chamada classe alta. É bem possível. O que também será reconfortante. Afinal, teríamos mais gente rica do que aquilo que imaginavamos. E gente rica que não se importa de ir ver a Madonna ao Parque da Bela Vista, ali junto ao bairro de Chelas em Lisboa, em vez de ir ver e adorar a senhora no Central Park de Nova Iorque . Enfim, gente rica modernaça, que gosta de conviver com a arraia miúda.

domingo, setembro 07, 2008

OUTRO TESTEMUNHO
De um leitor do Quinto Poder, devidamente identificado, recebi o vivo testemunho que a seguir reproduzo, sobre a questão do laxismo reinante em certas forças policiais, permitido e de certo modo promovido por algumas das respectivas entidades tutelares .
"
Li com a habitual atenção o seu post sobre a comunicação de ocorrências às autoridades e devo-lhe confessar, que, para além de me rever no que escreve, acrescentaria ainda mais algumas considerações, bem espelhadas num episódio idêntico que passo a descrever:
Como habitualmente, sempre que ocorre qualquer distúrbio no espaço público da freguesia, quanto mais não seja por razões de contagem estatística, comunico à GNR local.
É claro que passo uma enorme “seca” sentado à frente do guarda, graduado ou não, que me pergunta dez vezes a mesma coisa e faz assinar uma quantidade de folhas para a que a queixa fique registada.
Já tive situações de uma hora à frente do guarda para formalizar a participação, contando obviamente, com o tempo de espera para o cafezinho. Normalmente recebo uma carta em casa, alguns meses depois, a informar que a queixa foi arquiva por falta de provas. Há uns meses, já nem sei precisar quantos, um “artista da Praia de Quiaios” decidiu arrancar uma sebe de arbustos ornamentais que se encontrava em determinado espaço. Fui alertado por um morador e acto contínuo apresentei queixa na GNR. Como também não me precisaram quem tinha sido, apresentei queixa contra desconhecidos, na esperança que os guardas se deslocassem ao local e perguntassem aos vizinhos se tinham visto quem tinha feito tal delito.
Algum tempo depois, recebi mais uma notificação a dizer (recebo tantas cartas do tribunal na minha morada que os carteiros já devem pensar que tenho algum problema com a justiça) que se não tivesse mais elementos a acrescentar a queixa seria arquivada.
Nesta altura, estranhando o silêncio da GNR, já tinha feito algumas perguntas aos vizinhos e apurado quem tinha sido o executante da tarefa. Desloquei-me novamente ao posto e informei a Guarda de quem tinha feito tal desacato. (só não disse quem o tinha mandado porque se o fizesse levava imediatamente com um processo em tribunal por difamação) Levei nome completo com respectiva morada e tanto quanto consegui apurar depois, a pessoa foi chamada ao posto e apesar de sofrer de alcoolismo crónico foi suficientemente ensaiada para não denunciar quem a mandou, negando ser o autor da façanha.
Recebi nova comunicação do tribunal a dizer que a pessoa que tinha indicado havia negado tudo (pudera) e não era possível apurar responsabilidades.
Fui novamente para a rua (armado em policia) falar com os vizinhos, que se dispuseram a confirmar, em tribunal se necessário, quem tinha sido o autor material dos distúrbios. Voltei a deslocar-me à GNR para indicar as testemunhas e continuo à espera dos resultados.
Um dos confinantes com a esplanada vedada com a sebe, optou por comunicar ao Departamento de Urbanismo da Câmara, supostamente a entidade que devia depois apresentar a queixa, e até agora… daí nem resposta.
Moral da história: o autor moral da coisa aproveitou para alargar a sua esplanada e continua impune.
Mas se esta história não bastasse para ilustrar o laxismo reinante, podia trazer novamente à cena uma anterior, em que uns quantos noctívagos, em noite de passagem de ano, se divertiram a destruir 20 arvores à frente do Posto da Brigada Fiscal e também aqui, apesar de termos apresentado queixa dois dias depois, a mesma foi arquivada porque ninguém viu."

sábado, setembro 06, 2008

DE BESTIAL A BESTA

Sobre o processo “kafkiano “ de Paulo Pedroso, lia-se no editorial da revista SÁBADO desta semana :

“A Justiça portuguesa demora a investigar, demora a acusar, demora a decidir, demora a recorrer, demora a condenar e, quando é caso disso, demora a corrigir os erros. Pelo meio de tanta demora, para juntar a agressão ao insulto, vai espalhando pelos jornais aquilo que considera serem provas absolutas, testemunhos irrefutáveis e escutas comprometedoras. Depois de muitos dias, muitos meses e muitos anos, sobram, aparentemente 100 mil euros. Ou seja, quase nada. “

Ao juiz Rui Teixeira parece estar-lhe a suceder algo de semelhante àquilo que ocorre com frequência a um treinador de futebol : passar rapidamente de bestial a besta. Há 4 anos, era incensado pelos meios de comunicação social, em particular pelas televisões. Faziam-lhe entrevistas, filmavam-no na rua, vasculhavam a sua vida pessoal, louvavam-lhe a coragem e a independência. A coisa aparentemente agradava ao juiz. Lá ia deitando uma ou outra dica, simulando uma timidez estudada, aparentando nada dizer, mas dizendo, e fazendo uma gestão da sua imagem através da sua exposição, dos seus silêncios e das suas meias palavras. Poderia facilmente interpelar um jornalista na rua e proibi-lo de o filmar. Nunca o fez. Parecia antes desejar construir a sua reputação de zorro justiceiro portuga, ao jeito do juiz Falcone, abatido pela mafia italiana, ou do juiz espanhol Garzon, ameaçado pela ETA terrorista.
Chega-se afinal à conclusão de que, “ em juizo temerário”, cometeu um “erro grosseiro”. E agora temos aí a comunicação social a zurzi-lo.
Com esta nódoa negra no seu currículo profissional, é bem capaz de não conseguir chegar a digníssimo Conselheiro do Supremo. Mas no estado comatoso em que está a Justiça portuguesa, lá que poderá ainda chegar a juiz desembargador, lá isso pode.

sexta-feira, setembro 05, 2008


AS PREVISÕES SOBRE O CLIMA

Nesta bela, chuvosa, ventosa e invernosa tarde de Verão, fico em casa a olhar pela janela a vala das Abadias, próxima do transbordo e da inundaçãoo do verde parque da Figueira da Foz. Quase apetece acender já a lareira. É também tempo de fazer um balanço.
Em Junho passado, como é ilustrado na fotografia acima, o PUBLICO noticiava com quase alarmante relevo: “ Previsões indicam tempo quente acima da média no Verão”. No corpo da notícia podiam ler-se previsões como esta:
“(...) o período destes 3 meses [Junho a Agosto] em Portugal continental será mais seco do que a média dos últimos 25 anos. Neste caso a região Norte do país será onde se poderá registar o Verão mais seco”.
Deve ter havido quem tivesse ficado alarmado. Pela minha parte, que já conheço “ o que a casa gasta”, fiquei apenas de pé atrás. Resolvi recortar a notícia e a foto que a acompanhava, para escrutínio ( coisa que em Portugal se faz muito pouco, relativamente a promessas eleitorais, por exemplo) ou para “registo da memória futura”, como se houve dizer por este País tão entretido agora com as aventuras, desventuras e poderes dos magistrados judiciais.
Temos assim que a alarmista previsão resultou em nada. Dá para eu continuar um pouco céptico (e de pé atrás...) relativamente aos muitos cientistas, jornalistas, meteorologistas e ambientalistas que frequentemente nos andam a metralhar com o anúncio da catástrofe iminente.
(Clicar na foto para a aumentar)

quarta-feira, setembro 03, 2008

O ARQUIPÉLAGO ZATO

Destaco o excelente artigo de Helena Matos no PUBLICO de ontem, do qual transcrevo os seguintes excertos :


(...) o arquipélago ZATO era a rede de cidades secretas onde a defunta URSS desenvolvia a sua tecnologia nuclear. Oficialmente o arquipélago ZATO não existia. Logo muito menos existiam problemas em ZATO.
(...)
Cada cidade tem o seu arquipélago ZATO com a respectiva rede de cidades fechadas e temas tabu. O nosso é constituido por este emaranhado de preconceitos ideológicos em torno do crime. À semelhança do que sucedia no ZATO original, também aqui as crises colocam em causa a seriedade dos números. Estes não medem a realidade. Constroem-na. Daí a actual discussão em torno do número de queixas. Quem já tentou apresentar uma queixa por agressão ou roubo sabe bem como os números estão longe de corresponder à realidade : o principal objectivo do agente que preenche os formulários indispensáveis à apresentação da queixa é explicar que aquilo não leva a nada. Aliás, um dos sinais evidentes da degradação das forças policiais é esta crescente vocação para amanuenses dos agentes. Atrás dum balcão ninguém os sova nem processa e se forem bem sucedidos ainda conseguem demover uma parte significativa dos potenciais queixosos. "


Também eu posso dar testemunho de uma visita recente ao arquipélago ZATO portuga.
Aqui há uns 2 ou 3 meses, o meu apartamento foi assaltado. Em plena luz do dia, entre as 11:30 e as 12:30 de um dia de semana, com arrombamento da porta fechada à chave, aparentemente com um pé de cabra. Os assaltantes não levaram praticamente nada . Umas notas antigas de pesetas, francos e marcos e pouco mais. Procuravam joias, ouro e dinheiro mais graudo. Devem ter sentido uma grande frustração, coitados dos pobres assaltantes, decerto umas vítimas desta injusta sociedade capitalista e do neo-liberalismo que por aí campeia de forma desenfreada. Deixaram todavia revolvido e despejado tudo quanto eram gavetas. O suficiente para eu ficar assustado. A primeira preocupação, imediata ao assalto, foi garantir nova e melhor fechadura na porta, e sossegar o reboliço que se levantou junto dos vizinhos.
Cerca das 18:30 fui então à PSP local. Espero junto de um pequeno cubiculo, enquanto vou olhando para um mapa antigo e amarelecido das estradas de Portugal pregado na parede . Deveria ter já muitos e muitos anos, a avaliar pela reduzida rede de autoestradas que dele constava. O senhor graduado de serviço estava no bar da esquadra a tomar um café. Se não me importasse, que esperasse um bocadinho. Chega um senhor graduado da PSP, de volumoso ventre. Não faz rondas nem caminha a pé há muitos anos, pensei com os meus botões. Lá me manda sentar, enquanto ele se pranta do outro lado da mesa, diante a um computador. Ao que vinha. Lá disse: o meu apartamento fora assaltado. Levaram alguma coisa de valor?. Respondi que quase nada. O senhor esta cheio de sorte, retorquiu com ar bonacheirão. Então diga lá ; e eu contei a história. Perguntou-me se era queixa que queria apresentar. Porque se era queixa, sublinhou com ênfase, ela depois seguirá para o Ministério Público e eu seria chamado depois para prestar mais declarações ; ou, se nada fosse descoberto, para ser provavelmente informado que o processo havia sido arquivado por não ter sido descoberta a identidade dos assaltantes.

[ Lembrei-me de um roubo de um aparelho de rádio de uma viatura minha, aqui há uns bons 20 anos. Para efeitos de seguro, apresentei queixa numa esquadra da PSP. Passados uns 3 meses, recebi uma convocatória, pelo correio, intimando-me a comparecer na secretaria do Tribunal no dia tantos de tal às tantas horas. Lá chegado, o funcionário queria saber se eu já tinha descoberto alguma coisa, e se suspeitava de alguem. Perplexo, respondi não às duas perguntas. Passados mais 4 meses, sou de novo intimado por escrito para comparecer às tantas horas na Secretaria Judicial . Foi para ser informado que nada havia sido descoberto, e que portanto o excelentíssimo delegado do Ministério Público havia determinado a arquivação do processo. Sorri com bonomia, encolhi os ombros e fui para o trabalho, que já perdera uma hora do mesmo...]

Com esta história na lembrança, respondi ao senhor graduado da PSP que não senhor, não queria apresentar queixa. Livra!...Eu sabia bem que não ia dar em nada. O que eu queria, frisei bem, era deixar registo do assalto, para efeitos estatísticos. Não fossem um senhor ministro ou o senhor primeiro ministro virem vangloriar-se, um dia destes, que a criminalidade tinha baixado pois o número de assaltos registados junto das autoridades policiais haviam diminuido de não sei quantos muitos por cento....E que portanto estava tudo bem, o governo era o melhor que Portugal tinha tido, e que merecia ganhar as eleições. O senhor graduado concordou e começou a escrever os dados no computador à sua frente. Nada mau...pensei. Ainda há pouco tempo, a coisa metia uma velha máquina de escrever, impresso próprio de formato A4, modelo xtpo, com umas 4 cópias e outras três folhas de escuro papel químico pelo meio.
Lá fui informando o nome, filiação, residência, número do bilhete de identidade, enfim, a liturgia habitual . O senhor graduado ia digitando as letras, no teclado do computador, unicamente com o indicador da mão direita, enquanto deitava frequentes e prolongados olhares ao monitor do PC, acompanhados de pequenas expressões como “enter”, e repetições das palavras ou números que paulatinamente ia escrevendo.
Nada adiantei para a estatísticas das queixas, porque queixa realmente não apresentei. Não sei se ter simplesmente comunicado ou denunciado o assalto fez movimentar algumas estatísticas oficiais desta nossa ZATO lusitana. Possivelmente não. Mas pelo menos tal não terá sido por completa omissão minha.

segunda-feira, setembro 01, 2008


MEMÓRIAS DO BAIRRO NOVO

Chegou-me às mãos uma excelente brochura intitulada “ Bairro Novo de Santa Catarina “, da autoria e edição de Cação Biscaia, em boa hora patrocionada pelo Casino da Figueira.
Trata-se de uma interessante e valiosa síntese histórica, em registo de memória viva, do Bairro Novo da Figueira da Foz, muito bem estruturada e documentada ( através de texto de qualidade e de documentos gráficos ), sobre o seu determinante papel para a construção do perfil e da imagem da cidade enquanto estância de veraneio de primeiro plano, na vida social portuguesa, até aos finais dos anos 70 do século XX.
Uma obra que irei guardar em lugar de destaque na secção-prateleira da história da Figueira da Foz da minha biblioteca.

Daquela brochura transcrevo um saboroso excerto que, por sua vez, deve ser transcrição de notícia ou relato de quem visitava e frequentava a Figueira da Foz na primeira metade dos anos 40 .

“O bairro velho – campo de actividades comerciais e industriais permanentes – é pacato, como convem a quem trabalha. Vizinho da praia, aberto sobre o Atlântico, com a Esplanada e a Av.do Mar em construção, o Bairro Novo recebe os banhistas e acomoda-os nos seus prédios, nos seus hoteis modernizados, nas suas pensões asseadas e confortáveis. É o bairro buliçoso dos cafés e dos casinos, onde se concentra a vida estival em toda a sua pujança”

“Na Figueira tudo é lavado, limpo, sadio, são. É varrido de puro ar. Esmaltado de claro sol. A maioria das ruas – nomeadamente as de maior trânsito – são asfaltadas. As outras bem compostas. A cidade é quase plana. E o piso é suave e doce. Todas as artérias são cuidadosamente limpas pela madrugada. “

O tempo não volta para trás. Nem vale a pena chorar ou mergulhar em saudosismos piegas. O perfil da Figueira da Foz e em particular do Bairro Novo, na anterior primeira descrição, não é recuperável. Haverá então que encontrar perfis novos para ambos . Não necessáriamente no domínio do turismo , e muito menos do turismo balnear .
O perfil da segunda é. Não a pensar nos turistas, veraneantes ou banhistas. Mas a pensar nos figueirenses que cá vivem todo ano, e que aqui querem continuar a viver.
(Clicar na imagem para a aumentar)

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