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segunda-feira, setembro 29, 2008

FRAUDES NADA INOCENTES

Pode ler-se no editorial de hoje do PUBLICO :

“Tantos orgãos e tanta gente que não serviu para quase nada. Assembleias gerais de accionistas, conselhos de administração separados das comissões executivas, comités internos de auditoria, conselhos de supervisão, agências de rating (avaliação de risco)seguidas cegamente, analistas de bolsa, comités de avaliação de risco. Foram todos criados para se controlarem e vigiarem de forma independente. Falharam todos ao mesmo tempo, contaminados uns pelos outros e numa teia de dependências, cumplicidades, desleixos e ganância. “

Será boa altura para reler a vasta obra e algumas das teses de John Kenneth Galbraith (JKG). Foi ele que, com a sua sabedoria, criou o termo de “ tecnoestrutura” , a nova classe dominante numa visão marxista ( ou marxiana) da história e do desenvolvimento do capitalismo.
O seu último livro, curto de apenas 94 páginas, publicado dois anos antes da sua morte (ocorrida em 2006), e de que dizia ser o seu melhor de sempre, chama-se “ A fraude inocente” .
Do seu capítulo 5 (“A empresa como uma forma de burocracia”) retiro os seguintes excertos, de especial substância e significado :

“ (...) A gestão empresarial é uma das formas mais sofisticadas de fraude e, nos últimos tempos, uma das mais evidentes. Tendo desaparecido a deprecativa palavra “capitalismo”, existe uma outra designação válida que poderia ser aplicada – burocracia empresarial. No entanto, “burocracia” é um termo que, como já indiquei, é escrupulosamente evitado ; a referência aceite é “ gestão” . Os donos e os accionistas das empresas são reconhecidos, venerados até, mas é por demais evidente que não têm qualquer papel na gestão dos negócios.

(...)
“Esta fraude tem aspectos cerimoniais bem aceites : um deles é o conselho de administração, eleito pelos gestores, completamente subordinado aos mesmos, mas ouvido como sendo a voz dos accionistas. Inclui vários homens e a necessária presença de uma ou duas mulheres ; apenas lhes é exigido um conhecimento superficial acerca da empresa e, salvo raras excepções, são fielmente aquiescentes. Juntamente com uma compensação financeira e alguns acepipes, os directores são regularmente informados pelos gestores daquilo que já foi decidido ou daquilo que já é do conhecimento público. A aprovação é um dado adquirido, mesmo para a remuneração dos gestores – remunerações fixadas pelos gestores para eles próprios. Estas, como não é admirar, podem ser bastante generosas. Na Primavera de 2001, durante um período de quebra no mercado accionista, o The New Your Times, uma publicação que não é radical, publicou uma página inteira acerca do contraste entre a queda dos preços das acções e o aumento das remunerações dos gestores. Estas últimas, que incluiam opções de compra de acções ( a preços favoráveis), chegavam, nalguns casos, a vários milhões de dólares por ano.
(...)
As remunerações generosas para os gestores são comuns a todas as grandes empresas modernas. O enriquecimento legal na ordem dos milhões de dólares é prática vulgar para quem governa estas organizações. Este facto não é surpreendente : são os gestores que fixam as suas próprias remunerações.

(...)
Não há dúvida : os accionistas – os donos – e os seus supostos directores estão, em qualquer empresa de grande dimensão, completamente subordinados aos gestores. Apesar de se passar uma imagem de autoridade do dono, ela não existe de facto.
Uma fraude bem aceite. “

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