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sábado, dezembro 03, 2005

COMPLEXOS DE VELHAS MENTALIDADES

Embora sem se referir explicitamente a este meu blogue, o colega Amicus Ficaria veio aparentemente replicar, anteontem, a um post publicado no QuintoPoder no qual eu manifestava desacordo relativamente ao teor de um outro post do colega Lugar para Todos, a propósito da questão da retirada do crucifixo das salas de aula do ensino público.

Parece-me que seria descabido e enfadonho, no âmbito despretensioso da blogosfera local, comentar e triplicar, ponto por ponto, argumento por argumento, às diversas considerações e juizos do Amicus Ficaria.
Até porque, sinceramente, e com o devido respeito, alguns deles se me afiguram tão frágeis ( para dizer o mínimo…) que nem sei como sobre eles poderia adiantar, em texto escrito e não muito longo, qualquer arremedo de contraditório.
Atenho-me por isso ao conclusivo parágrafo final, aqui reproduzido :

E é por isso que eu não concordo com a presença de símbolos religiosos em espaços públicos. Seja de ensino ou de outra espécie.

Deve ter sido para acolher tal tese e cumprir tal princípio que a Câmara Municipal da Figueira este ano cortou nas despesas das iluminações de Natal.
Órgão de soberania local de um Estado laico, não confessional, para cumprir como deve a Constituição da República, não poderia, segundo a tese do Amicus Ficaria, conceder verbas dos fundos públicos, pagos por contribuintes laicos e não confessioanais , para a colocação de estrelas de Belém, anjos de asas brancas, imagens de Nossa Senhora e do Menino Jesus, iluminando as ruas da cidade.
Poderiam, quando muito, ser colocadas umas florzitas laicas, umas árvores de Natal estilizadas e umas bolitas coloridas.
Nem mesmo sinos ou imagens do Pai Natal poderiam ser colocadas; convém lembrar que esta simpática figura de barbas brancas é a de São Nicolau, um santo do cristianismo e da civilização cristã ( greco-judaico-cristã, se quiserem…).
Presépios com o Menino Jesus nas palhinhas, com o burro e vaquinha, também não poderão obviamente decorar as praças, ruas e jardins da cidade, não fosse acontecer que se transformassem em locais de culto em espaços públicos, o que seria intolerável num Estado laico e seria contrário à Constituição...

Poderia levar-se a sanha e o complexo laicista e a esquizofrenia anti confessional muito mais longe.
As freguesias de São Julião e de São Pedro, na Figueira da Foz, teriam obviamente de mudar de nome. Como o mesmo teria de acontecer com terras como Santa Marta de Portuzelo, São João da Pesqueira e Santa Maria da Feira.
Ao jeito do que fez Robespierre, mudando os nomes dos dias da semana e dos meses, demasiado ligados a símbolos religiosos da antiga Roma, passando a chamar, por exemplo, Brumário ao mês de Fevereiro.

As capelas teriam de desaparecer dos hospitais.
As Instituições Privadas de Solidariedade Social ( as IPSS’s) como as Santas Casas da Misericórdia, com a palavra Santa no seu nome, com óbviã conotação religiosa, e com capelas e crucifixos, teriam de deixar de receber subsídios e recursos financeiros do Estado laico.
Estes seriam dados apenas às IPSS com nome e natureza verdadeiramente laica e não confessioanal, como Goltz de Carvalho ou Fernão Mendes Pinto.
A Câmara Municipal da Figueira também teria de deixar de subsidiar as festas de São João, padroeiro da cidade, e igualmente um símbolo religioso. Acabava-se com o esplendoroso fogo de artifício, com o que se poupava uma pipa de massa, embora tal argumento possa parecer muito economicista, como agora soe dizer-se quando o dinheiro a gastar não é o nosso.
A Câmara de Lisboa teria de fazer o mesmo com as festas de Santo António. A estátua deste, na Avenida de Roma da capital, seria obviamente retirada, por ser um símbolo religioso, não fosse ela também transformar-se em local de culto, num lugar público. Idem para a imagem de São Cristóvão na Rotunda do Relógio, junto ao aeroporto.
Em Viana do Castelo, as festas da Senhora da Agonia, com a sua religiosíssima procissão, também não mais contariam com recursos financeiros da respectiva Câmara Municipal para se realizar.
E até a republicaníssima sede do Parlamento da República Portuguesa, laica e não confessional segundo a sua prolixa Constituição, teria de mudar de nome, e não mais seria designada por Palácio de São Bento.
O nome de um Santo venerado pela Igreja Católica Apostólica Romana, vejam lá!....
Seguindo à letra o dito e defendido pelo insigne líder partidário Anacleto Louçã, o nome daquela casa, antes albergando a Assembleia Nacional, deveria ter sido mudado logo na tarde do dia 24 de Abril de 1974…

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