quinta-feira, junho 24, 2010
RECUPERAÇÃO URBANA NO BAIRRO NOVO
No muito figueirense Bairro Novo, a dois passos do Picadeiro, na Travessa Nova, está um excelente exemplo de recuperação urbana, como ilustrado na imagem acima. Vai lá abrir uma nova unidade hoteleira, o Hotel Lazza. Fica com muito boa pinta. No telhado, ao que parece, está instalado um painel foto-voltaico para produção de electricidade.
Como seria atraente e convidativo o Bairro Novo , com todos os seus edifícios bem recuperados como aquele, e sem prédios em ruina a conferirem um ar decadente a toda a área!
(clicar na imagem para a ampliar)
“ERROS” DE ESTALINE
Camaradas!
A questão da guerra ou da paz entra numa fase que, para nós, é crítica. Se fecharmos o tratado de assistência mútua com França e a Grã-Bretanha, a Alemanha renunciará à Polónia e procurará um modus vivendi com as potências ocidentais. A guerra será descartada, mas o desenvolvimento dos acontecimentos poderá tornar-se perigoso para a URSS.
Se aceitarmos a proposta da Alemanha para a conclusão de um pacto de não-agressão, ela atacará naturalmente a Polónia e a entrada da França e da Grã-Bretanha nesta guerra tornar-se-á inevitável.
(...)
A Alemanha reserva-nos plena liberdade de acção nos Estados bálticos e não levanta nenhuma objecção ao regresso da Bessarábia à URSS. Eles estão prontos a deixar-nos a Roménia, a Bulgária e a Hungria a título de esfera de influência.
(...)
Assim, a nossa tarefa consiste em tentar que a Alemanha conduza uma guerra o mais prolongada possível, de forma a que a Inglaterra e a França estejam a tal ponto esgotadas que não consigam representar uma ameaça para a Alemanha soviética. Enquanto nós conservarmos uma posição de neutralidade à espera da nossa hora, a URSS acordará com a Alemanha actual uma ajuda que lhe fornecerá matérias-primas e o reabastecimento de que necessita.
(...)
Camaradas!
É de interesse da URSS, da Pátria dos Trabalhadores, que a guerra rebente entre o Reich e o bloco capitalista franco-inglês. Devemos fazer tudo para que esta dure o maior tempo possível, tendo por objectivo enfraquecer os dois lados. É por estas razões que devemos prioritariamente aprovar a conclusão do pacto proposto pela Alemanha, e trabalhar para que esta guerra, que será declarada dentro de alguns dias, decorra durante o período de tempo mais longo possível. (...)
Isto é um extracto do discurso do camarada José Estaline, Secretário-Geral do Partido Comunista da URSS, no Politburo do Comité Central, em 19 de Agosto de 1939, 15 dias antes da Alemanha nazi invadir a Polónia, agora transcrito no livro “ Discursos que mudaram o mundo”, recentemente editado pelo PUBLICO.
“Erros” de Estaline como este, assim como muitos outros, foram responsáveis por milhões e milhões de mortos. Mas trata-se apenas de “erros”, e não de crimes, na avaliação naif ( para dizer o menos..) que ainda hoje deles fazem muitos bons espíritos.
Camaradas!
A questão da guerra ou da paz entra numa fase que, para nós, é crítica. Se fecharmos o tratado de assistência mútua com França e a Grã-Bretanha, a Alemanha renunciará à Polónia e procurará um modus vivendi com as potências ocidentais. A guerra será descartada, mas o desenvolvimento dos acontecimentos poderá tornar-se perigoso para a URSS.
Se aceitarmos a proposta da Alemanha para a conclusão de um pacto de não-agressão, ela atacará naturalmente a Polónia e a entrada da França e da Grã-Bretanha nesta guerra tornar-se-á inevitável.
(...)
A Alemanha reserva-nos plena liberdade de acção nos Estados bálticos e não levanta nenhuma objecção ao regresso da Bessarábia à URSS. Eles estão prontos a deixar-nos a Roménia, a Bulgária e a Hungria a título de esfera de influência.
(...)
Assim, a nossa tarefa consiste em tentar que a Alemanha conduza uma guerra o mais prolongada possível, de forma a que a Inglaterra e a França estejam a tal ponto esgotadas que não consigam representar uma ameaça para a Alemanha soviética. Enquanto nós conservarmos uma posição de neutralidade à espera da nossa hora, a URSS acordará com a Alemanha actual uma ajuda que lhe fornecerá matérias-primas e o reabastecimento de que necessita.
(...)
Camaradas!
É de interesse da URSS, da Pátria dos Trabalhadores, que a guerra rebente entre o Reich e o bloco capitalista franco-inglês. Devemos fazer tudo para que esta dure o maior tempo possível, tendo por objectivo enfraquecer os dois lados. É por estas razões que devemos prioritariamente aprovar a conclusão do pacto proposto pela Alemanha, e trabalhar para que esta guerra, que será declarada dentro de alguns dias, decorra durante o período de tempo mais longo possível. (...)
Isto é um extracto do discurso do camarada José Estaline, Secretário-Geral do Partido Comunista da URSS, no Politburo do Comité Central, em 19 de Agosto de 1939, 15 dias antes da Alemanha nazi invadir a Polónia, agora transcrito no livro “ Discursos que mudaram o mundo”, recentemente editado pelo PUBLICO.
“Erros” de Estaline como este, assim como muitos outros, foram responsáveis por milhões e milhões de mortos. Mas trata-se apenas de “erros”, e não de crimes, na avaliação naif ( para dizer o menos..) que ainda hoje deles fazem muitos bons espíritos.
quarta-feira, junho 23, 2010
DIFAMAÇÕES...
A dona Manuela Guedes acha-se muito enxofrada e difamada por o Primeiro-Ministro ter afirmado que o “noticiário” por ela antes bolsado às 6ªs feiras na TVI, era “ um jornal travestido, um espaço noticioso que tem como único objectivo o ataque pessoal, feito de ódio e perseguição pessoal”.
Vai daí, moveu um processo ao PM, facto político que logo faz aparecer uma grande berraria, ganhando a atenção de uma comunicação social ávida de títulos sensacionais, para ter mais “share” ou para vender mais. Na blogosfera é capaz de suceder o mesmo, não sei, apenas imagino, ainda não tive tempo para ir lá cuscar.
Era isso mesmo o que a dona Manuela Guedes pretendia. Ela sentia-se no direito de, no seu programa de lixo televisivo (Nota 1) , insultar do piorio quem muito bem entendesse, ou quem por lá aparecesse. Se alguem lhe diz alguma coisinha aligeirada, ó pai, ó pai, aqui d’el Rei que estou a ser difamada, ai é, então toma lá uma queixa judicial para me teres respeitinho, que eu sou uma dona casada com o Moniz. Como diria o ilustre jornalista desportivo Rui Santos, “mas então que raio de democracia é esta” ?
A dona Manuela Guedes acha-se muito enxofrada e difamada por o Primeiro-Ministro ter afirmado que o “noticiário” por ela antes bolsado às 6ªs feiras na TVI, era “ um jornal travestido, um espaço noticioso que tem como único objectivo o ataque pessoal, feito de ódio e perseguição pessoal”.
Vai daí, moveu um processo ao PM, facto político que logo faz aparecer uma grande berraria, ganhando a atenção de uma comunicação social ávida de títulos sensacionais, para ter mais “share” ou para vender mais. Na blogosfera é capaz de suceder o mesmo, não sei, apenas imagino, ainda não tive tempo para ir lá cuscar.
Era isso mesmo o que a dona Manuela Guedes pretendia. Ela sentia-se no direito de, no seu programa de lixo televisivo (Nota 1) , insultar do piorio quem muito bem entendesse, ou quem por lá aparecesse. Se alguem lhe diz alguma coisinha aligeirada, ó pai, ó pai, aqui d’el Rei que estou a ser difamada, ai é, então toma lá uma queixa judicial para me teres respeitinho, que eu sou uma dona casada com o Moniz. Como diria o ilustre jornalista desportivo Rui Santos, “mas então que raio de democracia é esta” ?
No fundo, no fundo, José Sócrates até agradece a iniciativa da dona Manuela Guedes. Enquanto durarem os ecos deste caso, menos se falará das medidas de austeridade e menos se criticará o seu mau desempenho como PM , e as várias trapalhadas da sua actual governação. E mais ele alimenta o processo da sua vitimização.
Se a moda pega e o facto político ganha estatuto de precedente, vamos ter no futuro muitas acções judiciais movidas contra ministros e primeiro-ministros, actuais ou futuros. Um pouco assim como a moda das “providências cautelares”. O que também deverá agradar muitos aos magistrados judiciais, que assim poderão ganhar reverência social e mediatismo nas televisões.
Por falar neste mediatismo. Eu também vou “difamar” a dona Manuela Guedes, acusando-a de fazer jornalismo de sarjeta ; de que o tal programa das sextas-feiras era “um jornal travestido, um espaço noticioso que tem como único objectivo o ataque pessoal, feito de ódio e perseguição pessoal” ; de que ela é um belíssimo exemplo de como não deve ser o comportamento de um jornalista ; de que ela não é pessoa a quem eu compre um carro em segunda mão ; de que o dito processo judicial por ela movido é totalmente idiota.
Fico agora, com muita esperança, aguardando que a dita dona me mova um processo judicial. Oh!...seria os momentos da minha suprema glória, aparecer no tribunal, tendo em meu redor inúmeras câmaras de televisão com os seus holofotes ligados, uma chusma de fotógrafos disparando flashes, resmas de microfones quase me tapando a boca, e impedindo-me de caminhar para me dirigir, com ar de desafio e um sorriso nos lábios, para a sala do tribunal, enquanto ia balbuciando que “lamento, mas não presto declarações, muito obrigado”....Para depois, à noite, olhar embevecido para essas grandiosas imagens nos telejornais das televisões, tendo antes prevenido todos os meus amigos para não deixarem de me irem ver.
Nota 1
Já sei que algumas almas, angustiadas e impregnadas de um anti-socratismo primário e obsessivo, não vão gostar desta designação, achando ser um lugar comum e um termo gasto. Paciência. Não encontrei melhor e hoje não estou muito inspirado, porque dentro de dias vou vadiar um pouco mais.
domingo, junho 20, 2010
GOSTOS LITERÁRIOS
Como já aqui o confessei, com descomplexada sinceridade, não aprecio a obra literária de José Saramago. Tenho esse direito. Se aos olhos de alguém isso me identifica como indígena culturalmente bronco, paciência. Não tenho pretensões a ser um “intelectual”.
Admito que algum mérito a sua obra deva ter, para ter merecido o Nobel e as referências laudatórias que lhe fazem alguns críticos literários, cuja opinião prezo.
Tambem creio que será fundamental distinguir o eventual mérito literário, das qualidades de caracter e do desempenho cívico e humano. Abundam na história exemplos de artistas cujo valor da obra artística se situa num nível oposto ao do seu valor humano e ao do seu desempenho ético.
Contudo, importaria ter havido algum sentido das proporções no registo super jubilatório sobre José Saramago a que durante dois dias se dedicaram, quase até à náusea, inúmeras e ilustres personalidades, individualidades, intelectuais, jornalistas, rádio e televisões da nossa praça, muito a roçar um certo tipo de nacional-provincianismo .
Como já aqui o confessei, com descomplexada sinceridade, não aprecio a obra literária de José Saramago. Tenho esse direito. Se aos olhos de alguém isso me identifica como indígena culturalmente bronco, paciência. Não tenho pretensões a ser um “intelectual”.
Admito que algum mérito a sua obra deva ter, para ter merecido o Nobel e as referências laudatórias que lhe fazem alguns críticos literários, cuja opinião prezo.
Tambem creio que será fundamental distinguir o eventual mérito literário, das qualidades de caracter e do desempenho cívico e humano. Abundam na história exemplos de artistas cujo valor da obra artística se situa num nível oposto ao do seu valor humano e ao do seu desempenho ético.
Contudo, importaria ter havido algum sentido das proporções no registo super jubilatório sobre José Saramago a que durante dois dias se dedicaram, quase até à náusea, inúmeras e ilustres personalidades, individualidades, intelectuais, jornalistas, rádio e televisões da nossa praça, muito a roçar um certo tipo de nacional-provincianismo .
Vale a pena reproduzir este post do blogue Blasfemias :
O que será que têm em comum os seguintes escritores?
Christian Matthias Theodor Mommsen; Bjørnstjerne Martinus Bjørnson; Giosuè Carducci; Rudolf Christoph Eucken; Gerhart Johann Robert Hauptmann; Jacinto Benavente; Grazia Deledda; Erik Axel Karlfeldt; Pearl Buck; Saint-John Perse; Giorgos Seferis; Eugenio Montale; Vicente Aleixandre; Derek Walcott; Odysseus Elytis; Elfriede Jelinek; Herta Müller.
Ganharam todos o Prémio Nobel.
E o que unirá estes outros escritores?
Leo Tolstoy; Fernando Pessoa; Jorge Luís Borges; Thomas Mann; Marguerite Duras; James Joyce; Iris Murdoch; Salman Rushdie; Ian McEwan; Jorge Amado; Rafael Alberti; Mario Vargas Llosa; Andrè Malraux; Marcel Proust; Ezra Pound; Vladimir Nabokov; August Strindberg; Henrik Ibsen; Émile Zola; Mark Twain; Anton Chekhov; Eugène Ionesco.
Nenhum deles conseguiu ganhar o Prémio Nobel.
Não seria altura de olharmos com menos veneração para um Prémio que frequentemente tem passado ao lado de grandes escritores e preferido autores que os ventos da história já varreram da memória?
Nota
Reproduzi o post sem lhe corrigir um erro que contem : Thomas Mann ganhou efectivamente um Prémio Nobel .
sexta-feira, junho 18, 2010
A SAIDA DE PORTUGAL DO EURO
Como é que um país da Eurolândia abandona ou abandonaria a moeda Euro ?
Como seria e que sucederia se Portugal tiver ou tivesse de o fazer? Não tenho bem ideia, nem sei muito bem se alguem terá . Era um bom exercício de simulação e ficção, a que talvez fosse bom e prudente dedicar-se uma equipa de experientes e competentes economistas.
Em todo o caso, irei, por minha conta e risco, fazer um exercício de ficção económica e política, ciente embora de quão limitados são os meus conhecimentos para fazer um exercício desses, de ficção politico-económica, mais ou menos delirante e com um mínimo de fiabilidade. Trata-se, obviamente, de um mero exercício de ficção, construida sobre um hipotético cenário de tal acontecimento. Vale o que vale, como agora se diz, ou seja, valerá pouco. Tome-se mais como uma brincadeira.
A situação económico-financeira portuguesa não cessava de se agravar. O endividamento externo do País atingia valores enormes, o Governo não conseguia fazer baixar a dívida do Estado ao exterior, e os défices públicos estavam muito distantes dos tectos fixados pelos restantes países da Eurolândia.
Como é que um país da Eurolândia abandona ou abandonaria a moeda Euro ?
Como seria e que sucederia se Portugal tiver ou tivesse de o fazer? Não tenho bem ideia, nem sei muito bem se alguem terá . Era um bom exercício de simulação e ficção, a que talvez fosse bom e prudente dedicar-se uma equipa de experientes e competentes economistas.
Em todo o caso, irei, por minha conta e risco, fazer um exercício de ficção económica e política, ciente embora de quão limitados são os meus conhecimentos para fazer um exercício desses, de ficção politico-económica, mais ou menos delirante e com um mínimo de fiabilidade. Trata-se, obviamente, de um mero exercício de ficção, construida sobre um hipotético cenário de tal acontecimento. Vale o que vale, como agora se diz, ou seja, valerá pouco. Tome-se mais como uma brincadeira.
A situação económico-financeira portuguesa não cessava de se agravar. O endividamento externo do País atingia valores enormes, o Governo não conseguia fazer baixar a dívida do Estado ao exterior, e os défices públicos estavam muito distantes dos tectos fixados pelos restantes países da Eurolândia.
Desde há umas semanas que circulavam, por entre as instituições financeiras internacionais, em particular o Banco Central Europeu (BCE), o FMI e a OCDE, muitos rumores de que seria bastante provável que Portugal tivesse de abandonar o Euro. Internamente, essa iminente possibilidade era conhecida e reconhecida apenas pelo PM, pelo Ministro das Finanças, pelo Governador do Banco de Portugal, e por mais um reduzido número de pessoas, que haviam feito entre si um rigoroso pacto de silêncio.
Entrevistado por um jornalista alemão, o Presidente do BCE é interrogado sobre se se confirmam os rumores que circulam de que Portugal vai ter de abandonar o Euro. O Presidente do BCE mostra-se surpreendido e indignado com tais rumores, e nega categoricamente que tal coisa esteja prevista e vá suceder. Por sua vez, o Bloco de Esquerda interpela na Assembleia da República o Governo sobre os mesmos rumores. O deputado João Oliveira, do PCP, no seu habitual registo de voz sôfrega e estridente, denuncia as cedências do Governo perante o grande capital financeiro especulativo, ao serviço do capitalismo e dos monopólios.
A deputada Rita Rato, do PCP, torna a vociferar que “ a saída da crise não passa por claudicar perante os interesses do grande capital e das grandes potências europeias!. Impõe-se uma política de afirmação e recuperação da nossa soberania ; de valorização dos salários; de promoção e defesa da produção nacional; de aposta no investimento público; de criação de emprego e combate ao desemprego... “.
O Ministro das Finanças nega categórica e veementemente, declarando que tais rumores mais não são do que manobras dos especuladores internacionais. À noite, no telejornal das 20 horas da RTP, reitera o mesmo formal desmentido, de forma igualmente categórica e veemente.
Dois dias depois, numa sexta feira, pelas 16 horas, tem lugar em Bruxelas uma reunião, convocada na manhã do mesmo dia, dos ministros das finanças dos paises do euro com o governador e vices-governadores do BCE, chegados há umas horas de Frankfurt.
O Ministro das Finanças português informa que Portugal não tem condições de tesouraria para poder cumprir os compromissos de pagamento da sua dívida soberana, que se vencem dali a duas semanas. Os outros países do Euro asseguram a Portugal uma ajuda de emergência, mas para tal colocam como condição que Portugal abandone a zona Euro.
É como se fosse um ultimato, nada mais há a fazer. Se não aceitar, a ajuda de emergência não é concedida , Portugal entrará na bancarrota. Não haverá quem venda mais a Portugal, seja petroleo, seja trigo, seja alimentos. Colocado contra a parede, o Ministro das Finanças não tem alternativa. Ainda esboça um tímido mas... mas todos os outros presentes reagem com um “não há mas nem meio mas..” . É pegar ou largar.
O ministro das Finanças português telefona logo ao Primeiro-Ministro e sugere-lhe que faça uma comunicação ao País, às 21 horas. Assim acontece, de facto.
Com ar solene, rosto perturbado, gravata azul turquesa, o Primeiro-Ministro dá a notícia . Balbucia uma explicação de que não havia outra alternativa. O mundo mudara completamente nos últimos 8 dias, e os nossos parceiros da Eurolândia apontaram-nos a faca ao peito. Informa que a nova moeda portuguesa se torna a chamar escudo, o antigo PTE. Mais informa que os bancos estarão fechados até à 4ª feira seguinte.
É como se fosse um ultimato, nada mais há a fazer. Se não aceitar, a ajuda de emergência não é concedida , Portugal entrará na bancarrota. Não haverá quem venda mais a Portugal, seja petroleo, seja trigo, seja alimentos. Colocado contra a parede, o Ministro das Finanças não tem alternativa. Ainda esboça um tímido mas... mas todos os outros presentes reagem com um “não há mas nem meio mas..” . É pegar ou largar.
O ministro das Finanças português telefona logo ao Primeiro-Ministro e sugere-lhe que faça uma comunicação ao País, às 21 horas. Assim acontece, de facto.
Com ar solene, rosto perturbado, gravata azul turquesa, o Primeiro-Ministro dá a notícia . Balbucia uma explicação de que não havia outra alternativa. O mundo mudara completamente nos últimos 8 dias, e os nossos parceiros da Eurolândia apontaram-nos a faca ao peito. Informa que a nova moeda portuguesa se torna a chamar escudo, o antigo PTE. Mais informa que os bancos estarão fechados até à 4ª feira seguinte.
Saído dos estúdios da televisão, convoca para uma reunião o Governador do Banco de Portugal, entretanto regressado de Bruxelas no Falcon da Força Aérea. Ordena-lhe que convoque uma reunião urgentíssima dos Presidentes dos Conselhos de Administração de todos os bancos operando em Portugal . A qual tem lugar às 24 horas.
Depois de ouvir o Primeiro-Ministro na televisão, os portugueses saem de imediato em massa às ruas. Correm a levantar notas de euros das caixa Multibanco. Cada um procura sacar o mais possível de notas de Euro. Os mais remediados, levantam logo 200 Euros. Os mais endinheirados, tendo na família 3 e 4 cartões MB e/ou de crédito, conseguem levantar 1000 a 2000 euros. Em menos de 2 horas, as caixas MB ficam vazias de notas de Euro.
Nas lojas dos centros comerciais, nos restaurante e nas bombas de gasolina, não são aceites quaisquer pagamentos com cartões MB ou de crédito. Só aceitam pagamentos em notas de Euro, as quais obviamente serão depois guardadas em caixas, numa primeira fase, e depois em cofres e dentro dos colchões.
O Governo nomeia nessa noite comissários políticos e inspectores para todos os bancos. Estes recebem instruções rigorosas para, até 3ª feira às 24:00 horas, transformarem toda a sua moeda escritural, ou melor, todos os seus débitos e créditos internos, de euros em escudos (PTE). A razão de transformação será de um escudo por cada Euro.
O PCP aplaude e rejubila. Convoca logo uma conferência de imprensa e uma manifestação. Portugal fica finalmente libertado da vergonhosa tutela e do controlo dos grandes grupos económicos, da influência do capitalismo monopolista e da alta finança internacional. Através da sua voz vibrante, o deputado Bernardino Soares, recorda que sempre, desde o primeiro dia, o pê-cê-pê havia sido vigorosamente contra a perda de soberania nacional que representara a adesão de Portugal primeiro à CEE, depois à União Europeia e ao tratado de Lisboa.
Durante o fim de semana, e até 3ª feira à noite, na Casa da Moeda, em Lisboa, trabalha-se intensa e continuamente na impressão de uma tarja vermelha, na diagonal, no maior número de notas de 5, 10, 50 e 100 euros que for possível . Essas notas passarão a ser temporariamente designadas por notas de 5, 10, 50 e 100 escudos, respectivamente. Entretanto, são encomendadas com carácter muito urgente, novas chapas e muito papel para a futura impressão de notas de 10, 50, 100, 500, 1000, 5000 e 10000 escudos. As notas antigas de Euros, com tarja vermelha são depois imediatamente distribuidas aos bancos para poderem ser colocadas de novo nas caixas MB , para as famílias se abastecerem da nova moeda.
Alguns advogados de cidadãos mais empertigados, logo colocam junto de alguns tribunais providências cautelares requerendo a suspensão da transformção de Euros em Escudos, com o argumento de que os depósitos nos bancos haviam sido feitos em Euros, e era anticonstitucional uma das partes ou seja os bancos, transformarem esse depósitos em escudos. Muitos juizes logo decidem dar provimento às ditas providências cautelares. Claro que há recursos, para serem julgados dali a 3 anos, pelo menos.
Pouco a pouco, a partir de 4ª feira, vão recomeçando as transacções do dia a dia, intermediadas pela moeda, desta feita o Escudo . Aparentemente a vida vai-se normalizando um pouco, depois dos tempos agitados e de braza dos últimos dias. As máquinas e os dispositivos que trabalham com moedas, seja para venderem Coca-Cola e água mineral, seja para se pagar o estacionamento, ainda vão funcionando com as moedas de Euro . Mas cada vez menos, pois as pessoas vão guardando tudo o que for Euro, mesmo em moedas.
O empréstimo de emergência dos restantes países do Euro ( essencialmente da Alemanha, claro está...) é concedido, e o Estado português lá pode satisfazer os seus compromissos financeiros, evitando a bancarrota à última hora.
Nada de muito espectacular sucede nas 2 semanas seguintes. Os centros comerciais, as lojas da FNAC e da Worten, os concertos rock, a ponte 25 de Abril, o Algarve, a Costa da Caparica, os espectáculos no CAE, o FozPlaza, as festas populares, continuam cheios de gente despreocupada e mais ou menos feliz.
Até que na 4ª feira da segunda semana, começam a surgir rumores sobre uma desvalorização do Escudo. Novamente o BE , o PCP, o CDS e, já me esquecia, a espevitada deputada Heloisa Apolónia, de “Os Verdes”, interpelam o Governo no Parlamento sobre a verdade desses rumores. O Primeiro-Ministro e o Ministro das Finanças negam peremptória e veementemente a veracidade de tais especulativos boatos. Na 5ª feira, o Ministro das Finanças é entrevistado na RTP 1 por António Perez Metelo, e nega terminantemente que o Escudo vá ser desvalorizado. Na 6ª feira à tarde, entrevistado de novo à saida de uma reunião do Conselho de Ministros, torna a fazer igual desmentido, de forma categórica.
No sábado de manhã, todos os noticiários da rádio, da televisão e todas as páginas da internet anunciam que o Governo português deliberou desvalorizar o Escudo em 15 % relativamente ao Euro.
Pouco a pouco, a partir de 4ª feira, vão recomeçando as transacções do dia a dia, intermediadas pela moeda, desta feita o Escudo . Aparentemente a vida vai-se normalizando um pouco, depois dos tempos agitados e de braza dos últimos dias. As máquinas e os dispositivos que trabalham com moedas, seja para venderem Coca-Cola e água mineral, seja para se pagar o estacionamento, ainda vão funcionando com as moedas de Euro . Mas cada vez menos, pois as pessoas vão guardando tudo o que for Euro, mesmo em moedas.
O empréstimo de emergência dos restantes países do Euro ( essencialmente da Alemanha, claro está...) é concedido, e o Estado português lá pode satisfazer os seus compromissos financeiros, evitando a bancarrota à última hora.
Nada de muito espectacular sucede nas 2 semanas seguintes. Os centros comerciais, as lojas da FNAC e da Worten, os concertos rock, a ponte 25 de Abril, o Algarve, a Costa da Caparica, os espectáculos no CAE, o FozPlaza, as festas populares, continuam cheios de gente despreocupada e mais ou menos feliz.
Até que na 4ª feira da segunda semana, começam a surgir rumores sobre uma desvalorização do Escudo. Novamente o BE , o PCP, o CDS e, já me esquecia, a espevitada deputada Heloisa Apolónia, de “Os Verdes”, interpelam o Governo no Parlamento sobre a verdade desses rumores. O Primeiro-Ministro e o Ministro das Finanças negam peremptória e veementemente a veracidade de tais especulativos boatos. Na 5ª feira, o Ministro das Finanças é entrevistado na RTP 1 por António Perez Metelo, e nega terminantemente que o Escudo vá ser desvalorizado. Na 6ª feira à tarde, entrevistado de novo à saida de uma reunião do Conselho de Ministros, torna a fazer igual desmentido, de forma categórica.
No sábado de manhã, todos os noticiários da rádio, da televisão e todas as páginas da internet anunciam que o Governo português deliberou desvalorizar o Escudo em 15 % relativamente ao Euro.
Nova corrida dos portugueses às bombas de gasolina e aos supermercados. No final do dia de sábado, já as bombas estão esgotadas de gasolina e as prateleiras dos supermercados meio vazias de produtos alimentares.
Na 2ª feira, as gasolineiras começam a ser re-abastecidas. Mas entretanto, os preços dos combustíveis são logo aumentados em 15% . O mesmo vai começando gradualmente a acontecer com os bens alimentares.
Decorrido um mês, o INE publica o primeiro boletim de estatísticas económicas depois da saida do Euro. Relativamente ao mês homólogo do ano anterior, a inflacção situa-se agora em 13%. Os economistas anunciam que no mês seguinte será quase de certeza revista em forte alta.
E pronto. É assim que, ficando tudo o que é importado 15% mais caro, num ápice, da noite para o dia, são diminuidas em cerca de 12 a 13% as remunerações e as pensões de todos os portugueses. Ricos, assim-assim, remediados, e pobres.
Esteja descansado o leitor. Não se assuste. Nem corra já para uma caixa MultiBanco ou para uma bomba de gasolina. Tudo o que leu ( se teve paciência para ler..) é somente ficção. Assim em imitação pechisbeque e a muito mal amanhado jeito da brincadeira radiofónica ficionada por Orson Wells no final dos anos 30, a qual provocou o pânico nos ouvintes, que pensaram estar em curso uma invasão de extra terrestres.
Só que, sendo a saída de Portugal do Euro considerada, por agora, ainda pouco provável, tal cenário tem todavia muito maior probabilidade de ocorrer do que uma invasão de extra terrestres....
quinta-feira, junho 17, 2010
ILUMINADAS PELINTRICES
Ao que leio, há quem opine que as iluminações/ornamentações das ruas da terra para as festas de S. João estão este ano muito pelintras, em geral ao nível da mais pobre freguesia ; num caso particular de uma rua, ao nível da Somália. Sobre esta última comparação, não sei. Nunca fui à Somália em tempo de festas, muito menos em tempo de guerra.
Ao que leio, há quem opine que as iluminações/ornamentações das ruas da terra para as festas de S. João estão este ano muito pelintras, em geral ao nível da mais pobre freguesia ; num caso particular de uma rua, ao nível da Somália. Sobre esta última comparação, não sei. Nunca fui à Somália em tempo de festas, muito menos em tempo de guerra.
Estou de acordo que de facto estão a um nível minimalista. Estou de acordo que assim deveriam estar. Mas também concordaria se não houvesse iluminações nenhumas. A Figueira da Foz tem beleza natural suficiente para dispensar cosméticas decorativas mais ou menos pindéricas . Mas sobretudo por uma razão muito prosaica : é que de facto não há dinheiro, e não é só “como dizem”, é que não há mesmo, depois dos responsáveis pela gestão camarária, nos mandatos camarários anteriores, terem colocado em prática um despesismo incontinente sem cuidarem da sustentabilidade financeira do Município, e deixando a monstruosa dívida que se sabe.
Não esteja a noite de 23 de Junho muito fria ou ventosa, e haverá muita gente nas ruas e avenidas, na marginal da praia, no parque de diversões, nos restaurantes, nas tascas, nas esplanadas, a comer sardinha assada ou a bailar ao som de umas musiquinhas . Pouco ou nada o nível das iluminações irá afectar, por si só, a animação geral ou o nível da actividade económica que a festa da noite apesar de tudo ainda proporciona. Lá mais para a noite, uns 10 minutos de fogo de artifício, que talvez alguns vão também classificar como pelintra, e está feita a festa . E ala, que a crise e as dificuldades ainda se vão agravar mais, certamente obrigando a outras “pelintrices” no futuro, em coisas bem mais importantes e essenciais. .
UMA PROPOSTA INDECENTE, DE NOVO
Sem contar com o feriado municipal, que cada terrinha quer ter, há em Portugal 14 dias feriados nacionais ou equiparados.
Sem contar com o feriado municipal, que cada terrinha quer ter, há em Portugal 14 dias feriados nacionais ou equiparados.
Na Grécia há 11, na Noruega 9, na Bélgica 9, na Dinamarca 10, na Suécia 9, na Finlândia 10, na Espanha 9. Países mais pobrezinhos, tadinhos, como a Alemanha e o Reino Unido, têm apenas 7 feriados por ano.
Vai para ano e meio, apresentei uma proposta indecente : a eliminação de 3 feriados por ano no calendário laboral português. Foi neste postal. Na altura, falava-se ainda nos perigos de Portugal não conseguir cumprir o tecto do deficit público ser de 3% do PIB!... Estamos agora em situação muito mais dramática que há ano e meio.
As razões então aduzidas tinham , de certa maneira, um fundamento de ordem aritmética. O objectivo era fazer aumentar o PIB, muito marginalmente embora, assim contribuindo para fazer baixar o racio deficit/PIB , marginalmente também...
Agora, as razões serão de índole diferente. A economia, as taxas de juro, as tensões dos mercados, os ratings, dependem muitíssimo do desempenho, da imagem e da credibilidade. Estas últimas constroem-se e exibem-se muito a partir de “sinais “ . Para dentro, para nós mesmos, mas sobretudo para os nossos actuais e futuros credores. Um desses sinais será o de que os portugueses parecem estar a ganhar juizo, a ser mais “formigas” e menos “cigarras” ; e que até se dispõem a trabalhar mais tempo por ano, para poderem pagar as suas dívidas e continuarem a merecer a confiança de quem nos fia. Talvez não chegasse, por si só, para assegurar a manutenção e a retoma dessa confiança, ou um certo sossego nas tensões dos mercados. Mas que daria uma ajuda, creio que lá isso daria.
A proposta continua a ser indecente? Pois seja. Muito mais indecente será o nosso futuro se não acolhermos esta como outras propostas indecentes.
Vai para ano e meio, apresentei uma proposta indecente : a eliminação de 3 feriados por ano no calendário laboral português. Foi neste postal. Na altura, falava-se ainda nos perigos de Portugal não conseguir cumprir o tecto do deficit público ser de 3% do PIB!... Estamos agora em situação muito mais dramática que há ano e meio.
As razões então aduzidas tinham , de certa maneira, um fundamento de ordem aritmética. O objectivo era fazer aumentar o PIB, muito marginalmente embora, assim contribuindo para fazer baixar o racio deficit/PIB , marginalmente também...
Agora, as razões serão de índole diferente. A economia, as taxas de juro, as tensões dos mercados, os ratings, dependem muitíssimo do desempenho, da imagem e da credibilidade. Estas últimas constroem-se e exibem-se muito a partir de “sinais “ . Para dentro, para nós mesmos, mas sobretudo para os nossos actuais e futuros credores. Um desses sinais será o de que os portugueses parecem estar a ganhar juizo, a ser mais “formigas” e menos “cigarras” ; e que até se dispõem a trabalhar mais tempo por ano, para poderem pagar as suas dívidas e continuarem a merecer a confiança de quem nos fia. Talvez não chegasse, por si só, para assegurar a manutenção e a retoma dessa confiança, ou um certo sossego nas tensões dos mercados. Mas que daria uma ajuda, creio que lá isso daria.
A proposta continua a ser indecente? Pois seja. Muito mais indecente será o nosso futuro se não acolhermos esta como outras propostas indecentes.
quarta-feira, junho 16, 2010
O CLOROFÓRMIO
" O futebol é uma alegria ou uma tristeza fugaz sem efeitos sustentáveis na sociedade e na economia.(...) E assim o que verdadeiramente se joga esta tarde é se a austeridade se faz com mais ou menos clorofórmio"
(João Paulo Guerra, in Diário Económico de ontem)
A TRALHA
“ Por gente como Rui Pedro Soares, Ricardo Rodrigues, e outros, se falará um dia de “tralha socrática”
“ Por gente como Rui Pedro Soares, Ricardo Rodrigues, e outros, se falará um dia de “tralha socrática”
(Rui Tavares, in PUBLICO de hoje)
Naqueles “outros” cabem tambem muitos “boys” e sátrapas de âmbito regional e local, como bem conhecemos.
Por acção ou omissão, José Sócrates deixou-se embrulhar por aquela tralha . O juizo histórico que sobre esta recairá, irá também recair sobre ele.
Por muitos defeitos, rabos de palha e limitações que tenha, e tem, algumas qualidades terá, co’s diabos. Reconheço que não é, porém, o estadista com a dimensão adequada para comandar o barco do Estado português na dramática tormenta actual. Assim apareça rapidamente um dirigente político capaz de demonstrar essa necessária dimensão. Fico à espera. De sugestões e do político .
ADIAR, AGUARDAR MAIS DETALHES, JUNTAR OS ANTECEDENTES....
Um clube de futebol da terra, liderado por empresário próspero e influente, “ convidou” a Câmara Municipal da Figueira para subscrever 40% de uma putativa SAD (Sociedade Anónima Desportiva), a ser criada com um capital social previsto de 1,25 milhões de Euros.
Colocado o convite à apreciação da Câmara Municipal, esta respondeu “nim” . Por unanimidade!...
Foi alegado que existe pouca informação sobre o dito projecto, que o convite não está suficientemente amadurecido para permitir uma tomada de posição, e que se aguardam mais detalhes. A decisão fica assim empurrada para a frente, com a barriga, fazendo uso da muito típica postura do “depois logo se vê”...
Mas porque carga de água é que uma Câmara Municipal se tem de envolver, directamente, no negócio da bola, tantas vezes exercido em promiscuidade com o negócio imobiliário ? Acaso faz isso parte da sua missão e das suas competências? E não estará tal putativa participação legalmente impedida pela actual legislação ? E onde irá a Câmara Municipal desencantar meio milhão de Euros para comprar acções da tal prevista SAD ?
Aqui há 30 anos, iniciei uma experiência de participação na gestão autárquica, aqui na Figueira. Um colega amigo que, em Lisboa, exercia funções num departamento da Administração Pública, deu-me então um sábio conselho. Dizia-me ele assim : olha..quando por lá te aparecer um processo para despachar, e não souberes ou não quiseres decidir, escreve lá “juntem-se os antecedentes”. O processo vai dar mais umas digressões pelos serviços, demora aí uns 2 meses a voltar a ti, e entretanto tiveste tempo para pensar mais no assunto.
Tenho de confessar que tive de recorrer ao espertalhaço truque umas duas ou três vezes.
Um clube de futebol da terra, liderado por empresário próspero e influente, “ convidou” a Câmara Municipal da Figueira para subscrever 40% de uma putativa SAD (Sociedade Anónima Desportiva), a ser criada com um capital social previsto de 1,25 milhões de Euros.
Colocado o convite à apreciação da Câmara Municipal, esta respondeu “nim” . Por unanimidade!...
Foi alegado que existe pouca informação sobre o dito projecto, que o convite não está suficientemente amadurecido para permitir uma tomada de posição, e que se aguardam mais detalhes. A decisão fica assim empurrada para a frente, com a barriga, fazendo uso da muito típica postura do “depois logo se vê”...
Mas porque carga de água é que uma Câmara Municipal se tem de envolver, directamente, no negócio da bola, tantas vezes exercido em promiscuidade com o negócio imobiliário ? Acaso faz isso parte da sua missão e das suas competências? E não estará tal putativa participação legalmente impedida pela actual legislação ? E onde irá a Câmara Municipal desencantar meio milhão de Euros para comprar acções da tal prevista SAD ?
Aqui há 30 anos, iniciei uma experiência de participação na gestão autárquica, aqui na Figueira. Um colega amigo que, em Lisboa, exercia funções num departamento da Administração Pública, deu-me então um sábio conselho. Dizia-me ele assim : olha..quando por lá te aparecer um processo para despachar, e não souberes ou não quiseres decidir, escreve lá “juntem-se os antecedentes”. O processo vai dar mais umas digressões pelos serviços, demora aí uns 2 meses a voltar a ti, e entretanto tiveste tempo para pensar mais no assunto.
Tenho de confessar que tive de recorrer ao espertalhaço truque umas duas ou três vezes.
terça-feira, junho 15, 2010
OS PARTIDOS - UMA VISÃO DE MARCELO CAETANO
“O partido, seja único, seja concorrente com outros, é por definição um grupo olhando em primeiro lugar a própria expansão e crescimento, visa a fruição do poder político em seu benefício, reservando para os seus filiados as benesses que essa fruição proporciona”
Quem assim escreveu foi Marcelo Caetano, numa entrevista dada à "Vida Mundial" de 15 de Setembro de 1970, cuja leitura agora recuperei, ao arrumar papelada aqui em casa.
Julgo que, na altura, terei avaliado a declaração como resultando unicamente da postura ditatorial e anti-democrática com que ele conduzia a vida politica portuguesa.
Quarenta anos volvidos, tem de se reconhecer que, naquela matéria, a sua visão se aproxima da realidade. Faltou-lhe o rasgo de concluir que as coisas são sempre muito piores para os cidadãos e para a sociedade, quando o partido é único (como a União Nacional, a ANP, ou um Partido Comunista da URSS, de Cuba ou da Coreia do Norte), do que quando há concorrência (mesmo imperfeita..) com outros partidos.
Será possível ser de outra maneira ? Isto é, poderá haver um partido político ( um movimento, uma associação...) cuja natureza e cujo desempenho não obedeçam à crua lógica da “fruição do poder político em seu benefício” e “reservando para os seus filiados as benesses que essa fruição proporciona” ? . Poderá parecer ingenuidade minha, mas ainda acredito que sim. Pelo menos valerá a pena continuar a acreditar. Talvez seja o tempo de se pensar em levar a cabo um trabalho de “re-engenharia” do espectro partidário da vida política portuguesa.
“O partido, seja único, seja concorrente com outros, é por definição um grupo olhando em primeiro lugar a própria expansão e crescimento, visa a fruição do poder político em seu benefício, reservando para os seus filiados as benesses que essa fruição proporciona”
Quem assim escreveu foi Marcelo Caetano, numa entrevista dada à "Vida Mundial" de 15 de Setembro de 1970, cuja leitura agora recuperei, ao arrumar papelada aqui em casa.
Julgo que, na altura, terei avaliado a declaração como resultando unicamente da postura ditatorial e anti-democrática com que ele conduzia a vida politica portuguesa.
Quarenta anos volvidos, tem de se reconhecer que, naquela matéria, a sua visão se aproxima da realidade. Faltou-lhe o rasgo de concluir que as coisas são sempre muito piores para os cidadãos e para a sociedade, quando o partido é único (como a União Nacional, a ANP, ou um Partido Comunista da URSS, de Cuba ou da Coreia do Norte), do que quando há concorrência (mesmo imperfeita..) com outros partidos.
Será possível ser de outra maneira ? Isto é, poderá haver um partido político ( um movimento, uma associação...) cuja natureza e cujo desempenho não obedeçam à crua lógica da “fruição do poder político em seu benefício” e “reservando para os seus filiados as benesses que essa fruição proporciona” ? . Poderá parecer ingenuidade minha, mas ainda acredito que sim. Pelo menos valerá a pena continuar a acreditar. Talvez seja o tempo de se pensar em levar a cabo um trabalho de “re-engenharia” do espectro partidário da vida política portuguesa.
A BEBEDEIRA E A RESSACA
(...)
É esta autêntica bebedeira de um crédito que era fácil ( já não é) que teremos de pagar. Entramos na ressaca, que será longa”
Francisco Sarsfield Cabral , in PUBLICO de ontem
IMPACTO NA PRODUÇÃO , LOGO NA ECONOMIA
“O impacto na produtividade do país dos três jogos da selecção na primeira fase do Mundial está calculada em cerca de 280 milhões de euros. Por trabalhador, Portugal está no topo das perdas” .
(In Jornal de Negócios de hoje)
Isso corresponde a uma quebra no PIB de 26 Euros por trabalhador, no caso de Portugal não passar da primeira fase. É o que se pode avaliar e comparar com outros países, a partir do diagrama acima ilustrado. Trata-se obviamente de considerações imbuidas do mais neo-liberal economicismo....
(clicar na imagem para a ampliar)
segunda-feira, junho 14, 2010
AS NOSSAS PRIVACIDADES
Há por aí muitas boas almas cheias de angústia existencial provocada pela hipótese de entrarem em funcionamento uns chips de identificação dos automóveis, que permitirão/permitiriam uma circulação mais fluida das viaturas pelas auto-estradas, algumas ex-SCUTS...
O PSD, por exemplo, compara o dito chip a “um grande big brother rodoviário” bem como uma “intromissão no direito à privacidade dos condutores”.
O PCP vocifera que o sistema configura “ um colossal dispositivo de controlo e vigilância sobre os cidadãos” . O que não deixa de ser intrigante, num partido auto-proclamado como irmão do partido comunista que governava, em terrível regime de ditadura, a antiga República Democrática Alemã, onde pontificava a STASI, uma organização que se dedicava, como se sabe, a fazer benemerência social e a cuidar do bem estar e da privacidade dos cidadãos.
Ora eu acho que, sim senhor, devemos ir mais longe, e cuidar mais das nossas privacidades. Por exemplo, os automóveis, autocarros e camiões deviam deixar de ter quaisquer matrículas, para não poderem ser identificados os sítios mais ou menos esquisitos por onde andam os respectivos proprietários. Nos aeroportos, devia-se acabar com a vergonhosa devassa das bagagens, antes da entrada nos aviões dos passageiros, tantas vezes meio despidos, revistados e apalpados para ver se levam alguma garrafa de água mineral metida num bolso do casaco. E mais : acabemos de vez com o bilhete de identidade, essa insuportável ficha individual onde ficam registados os dados pessoais .
No próximo dia 24 de Junho, vamos portanto todos soprar vuvuzelas para diante do Parlamento. Será uma forma de apoiar os deputados que se preparam para revogar (revogar, revogar é do que precisamos, pois...) a decisão de pagamento de portagens nas SCUTS, e de introduzir o tenebroso chip que vai fazer de cada um de nós um cidadão “com paredes de vidro”, logo com a sua privacidade devassada.
Há por aí muitas boas almas cheias de angústia existencial provocada pela hipótese de entrarem em funcionamento uns chips de identificação dos automóveis, que permitirão/permitiriam uma circulação mais fluida das viaturas pelas auto-estradas, algumas ex-SCUTS...
O PSD, por exemplo, compara o dito chip a “um grande big brother rodoviário” bem como uma “intromissão no direito à privacidade dos condutores”.
O PCP vocifera que o sistema configura “ um colossal dispositivo de controlo e vigilância sobre os cidadãos” . O que não deixa de ser intrigante, num partido auto-proclamado como irmão do partido comunista que governava, em terrível regime de ditadura, a antiga República Democrática Alemã, onde pontificava a STASI, uma organização que se dedicava, como se sabe, a fazer benemerência social e a cuidar do bem estar e da privacidade dos cidadãos.
Ora eu acho que, sim senhor, devemos ir mais longe, e cuidar mais das nossas privacidades. Por exemplo, os automóveis, autocarros e camiões deviam deixar de ter quaisquer matrículas, para não poderem ser identificados os sítios mais ou menos esquisitos por onde andam os respectivos proprietários. Nos aeroportos, devia-se acabar com a vergonhosa devassa das bagagens, antes da entrada nos aviões dos passageiros, tantas vezes meio despidos, revistados e apalpados para ver se levam alguma garrafa de água mineral metida num bolso do casaco. E mais : acabemos de vez com o bilhete de identidade, essa insuportável ficha individual onde ficam registados os dados pessoais .
No próximo dia 24 de Junho, vamos portanto todos soprar vuvuzelas para diante do Parlamento. Será uma forma de apoiar os deputados que se preparam para revogar (revogar, revogar é do que precisamos, pois...) a decisão de pagamento de portagens nas SCUTS, e de introduzir o tenebroso chip que vai fazer de cada um de nós um cidadão “com paredes de vidro”, logo com a sua privacidade devassada.
AS VUVUZELAS E OS BUZINÕES
Está inventada uma nova forma dos portugas fazerem protestos. É usando vuvuzelas, em vez dos típicos e pitorescos buzinões. Produzem um nível de decibeis muito superior, os protestantes ficam surdos mais cedo, mas causam mais irritação aos outros indígenas. Tenho cá um palpite que a moda vem aí, e vai pegar.
Está inventada uma nova forma dos portugas fazerem protestos. É usando vuvuzelas, em vez dos típicos e pitorescos buzinões. Produzem um nível de decibeis muito superior, os protestantes ficam surdos mais cedo, mas causam mais irritação aos outros indígenas. Tenho cá um palpite que a moda vem aí, e vai pegar.
PROPOSTA PARA UMA GEMINAÇÃO
Ouvi agora mesmo na SIC Notícias um jornalista informar que Port Elizabeth, onde Portugal vai jogar amanhã, tem um grande areal e é muito ventosa, como a Figueira da Foz. Não seria de fazer já uma geminação da nossa terra com a cidade sul-africana ?
Podia proporcionar uma passeata a alguns, para irem apoiar a nossa selecção.
Ouvi agora mesmo na SIC Notícias um jornalista informar que Port Elizabeth, onde Portugal vai jogar amanhã, tem um grande areal e é muito ventosa, como a Figueira da Foz. Não seria de fazer já uma geminação da nossa terra com a cidade sul-africana ?
Podia proporcionar uma passeata a alguns, para irem apoiar a nossa selecção.
MAIS UNS DIAS...
O tempo da cigarra vai durar mais um pouco . A austeridade e a crise social-económica estão adiadas por uns dias.
Até 25 de Junho, se Portugal não passar aos 16 avos-de final do Campeonato do Mundo
Até 28 de Junho, se Portugal não passar aos Quartos-de-final
Até 2 de Julho , se Portugal não passar às meias finais
Até 6 de Julho , se Portugal não passar à final.
Sei lá até quando, se Portugal ganhar a final .
Pode ser até que, se Portugal ganhar a final, depois não haja mais crise, e vamos continuar mais uns tempos a cantar como a cigarra. E não nos venham com atitudes e posições economicistas!....
O tempo da cigarra vai durar mais um pouco . A austeridade e a crise social-económica estão adiadas por uns dias.
Até 25 de Junho, se Portugal não passar aos 16 avos-de final do Campeonato do Mundo
Até 28 de Junho, se Portugal não passar aos Quartos-de-final
Até 2 de Julho , se Portugal não passar às meias finais
Até 6 de Julho , se Portugal não passar à final.
Sei lá até quando, se Portugal ganhar a final .
Pode ser até que, se Portugal ganhar a final, depois não haja mais crise, e vamos continuar mais uns tempos a cantar como a cigarra. E não nos venham com atitudes e posições economicistas!....
sexta-feira, junho 04, 2010
AS CONTAS E A AUDITORIA
Foi adjudicada a auditoria às contas e à gestão da anterior Câmara Municipal da Figueira da Foz. A uma conhecida empresa internacional de consultoria, ao que se noticia.
Continuo sem entender para que vai servir. Para esclarecer que a dívida consolidada do municipio no final do mandato de Duarte Silva, seria, por exemplo, de 90 milhões de euros, e não 80 milhões? É preciso uma consultoria internacional vir consultar uns livros da contabilidade, umas actas da Câmara, as contas das empresas municipais, e depois fazer umas continhas de somar, para se saber de quanto é a dívida?
Deve ficar barata, a dita auditoria. Mais uns milhares de euros de ajuda ao aumento da despesa, é o que vai representar. Espero que venha a ser divulgado o preço contratado.
Estamos já em Junho. Começam não começam os trabalhos de “campo”, com uns auditores jovenzitos bem vestidos de cinzento escuro, meio perdidos por entre tantos livros, rubricas e números, com férias de verão pelo meio, a fazerem a cabeça em água aos trabalhadores da Contabilidade e da Tesouraria com perguntas e questões que os deixam a coçar a cabeça, lá para Outubro teremos um espesso relatório, aí de cento e tal páginas. Bem encadernado, com muitos gráficos coloridos feitos com recurso a power-point...Mais umas semanas de análise e discussão, e lá para Novembro virá a conclusão : a situaçao está preta, é preciso poupar cada vez mais, cortar nisto e mais naquilo. Entretanto, até lá se chegar, logo se vê. Pelo meio, a Tesouraria vai aguentando para pagar as festas de Verão. Faltará apurar depois a quanto vai ascender a dívida a fornecedores no final de 2010.
Foi adjudicada a auditoria às contas e à gestão da anterior Câmara Municipal da Figueira da Foz. A uma conhecida empresa internacional de consultoria, ao que se noticia.
Continuo sem entender para que vai servir. Para esclarecer que a dívida consolidada do municipio no final do mandato de Duarte Silva, seria, por exemplo, de 90 milhões de euros, e não 80 milhões? É preciso uma consultoria internacional vir consultar uns livros da contabilidade, umas actas da Câmara, as contas das empresas municipais, e depois fazer umas continhas de somar, para se saber de quanto é a dívida?
Deve ficar barata, a dita auditoria. Mais uns milhares de euros de ajuda ao aumento da despesa, é o que vai representar. Espero que venha a ser divulgado o preço contratado.
Estamos já em Junho. Começam não começam os trabalhos de “campo”, com uns auditores jovenzitos bem vestidos de cinzento escuro, meio perdidos por entre tantos livros, rubricas e números, com férias de verão pelo meio, a fazerem a cabeça em água aos trabalhadores da Contabilidade e da Tesouraria com perguntas e questões que os deixam a coçar a cabeça, lá para Outubro teremos um espesso relatório, aí de cento e tal páginas. Bem encadernado, com muitos gráficos coloridos feitos com recurso a power-point...Mais umas semanas de análise e discussão, e lá para Novembro virá a conclusão : a situaçao está preta, é preciso poupar cada vez mais, cortar nisto e mais naquilo. Entretanto, até lá se chegar, logo se vê. Pelo meio, a Tesouraria vai aguentando para pagar as festas de Verão. Faltará apurar depois a quanto vai ascender a dívida a fornecedores no final de 2010.
OS JUROS E AS JURAS
Nunca José Sócrates esteve tão só. E há boas razões para ter sido votado ao abandono pelo eleitorado, como é manifesto nos números de sondagens recentes. Nós demos-lhe, nas últimas legislativas, o benefício da dúvida. E ele, à semelhança, aliás, do que aconteceu em eleições anteriores com outros primeiros-ministros, deu-nos, em troca, o malefício da dívida.
Não, o país, há muito endividado e sem força anímica, não mudou. E a governação do país também não.
Ainda está para nascer um político que, nas vésperas de ir a votos, nos fale verdade. E nos fale dos juros verdadeiros, em vez de nos encher de juras falsas(..)
(Carlos Fiolhais in PUBLICO de hoje)
Nunca José Sócrates esteve tão só. E há boas razões para ter sido votado ao abandono pelo eleitorado, como é manifesto nos números de sondagens recentes. Nós demos-lhe, nas últimas legislativas, o benefício da dúvida. E ele, à semelhança, aliás, do que aconteceu em eleições anteriores com outros primeiros-ministros, deu-nos, em troca, o malefício da dívida.
Não, o país, há muito endividado e sem força anímica, não mudou. E a governação do país também não.
Ainda está para nascer um político que, nas vésperas de ir a votos, nos fale verdade. E nos fale dos juros verdadeiros, em vez de nos encher de juras falsas(..)
(Carlos Fiolhais in PUBLICO de hoje)
quinta-feira, junho 03, 2010
CIDADES ENREDADAS...
Nos idos dos anos 80, a grande moda era a geminação de municipios. Era um fartote. Uma das grandes vantagens desse generoso movimento, era que proporcionava umas agradáveis passeatas aos membros das camaras municipais. Ficou famosa a geminação da Figueira da Foz com uma cidade da então União Soviética, chamada Epavaptoria, ou qualquer coisa assim com nome parecido.
Chegados ao final da primeira década do século 21, a grande moda parece ter passado a ser a das adesões às redes das cidades. Criam-se redes por isto ou por aquilo, e por mais alguma coisa.
Os vereadores do PSD da Câmara Municipal da Figueira , muito hiperactivos em propostas, votos de pesar, votos de louvor, declarações, protestos, e outras mediáticas iniciativas, fazem agora uma ditirâmbica proposta de adesão da cidade a uma coisa comovente chamada Rede das Cidades Amigas das Crianças.
Ora aqui está uma medida verdadeiramente “estruturante”, de que a Figueira vinha sentindo a falta, importantíssima para “alavancar” ( como agora se diz..) o desenvolvimento da terra.
A proposta está agendada para a próxima sessão da Câmara Municipal. Será apresentada, pelos vistos, antecedida por longas considerações preambulatórias, repletas de erudição e de poesia. Ao todo, 653 palavras e 3670 caracteres. Vale a pena ler aqui. Transcrita para a acta camarária, preencherá pelos menos duas páginas de fino recorte literário, e ficará gravada para a posteridade.
De concreto, propõe-se que a terra se procure enredar na tal Iniciativa, que até tem um Secretariado, pelos vistos no ambito da UNICEF... Depois, não podia faltar a proposta para a constituição de uma Comissão, desta feita designada por “ equipa de trabalho interdisciplinar” ( um nome muito mais chic...) para “conceber um projecto de concretização do Programa”. E por fim, é proposta a participação de técnicos da CMFF na Conferência “Child in the City”, a realizar em Florença, lá para Outubro deste ano. Logo por sinal quando se tingem de belos tons de amarelo e castanho as árvores da maravilhosa cidade das flores, que é tão bom visitar e sobre a qual escreveu Augusto Abelaira...( e esta hein?..desta vez fui eu que dei uma de erudição!...)
Nos idos dos anos 80, a grande moda era a geminação de municipios. Era um fartote. Uma das grandes vantagens desse generoso movimento, era que proporcionava umas agradáveis passeatas aos membros das camaras municipais. Ficou famosa a geminação da Figueira da Foz com uma cidade da então União Soviética, chamada Epavaptoria, ou qualquer coisa assim com nome parecido.
Chegados ao final da primeira década do século 21, a grande moda parece ter passado a ser a das adesões às redes das cidades. Criam-se redes por isto ou por aquilo, e por mais alguma coisa.
Os vereadores do PSD da Câmara Municipal da Figueira , muito hiperactivos em propostas, votos de pesar, votos de louvor, declarações, protestos, e outras mediáticas iniciativas, fazem agora uma ditirâmbica proposta de adesão da cidade a uma coisa comovente chamada Rede das Cidades Amigas das Crianças.
Ora aqui está uma medida verdadeiramente “estruturante”, de que a Figueira vinha sentindo a falta, importantíssima para “alavancar” ( como agora se diz..) o desenvolvimento da terra.
A proposta está agendada para a próxima sessão da Câmara Municipal. Será apresentada, pelos vistos, antecedida por longas considerações preambulatórias, repletas de erudição e de poesia. Ao todo, 653 palavras e 3670 caracteres. Vale a pena ler aqui. Transcrita para a acta camarária, preencherá pelos menos duas páginas de fino recorte literário, e ficará gravada para a posteridade.
De concreto, propõe-se que a terra se procure enredar na tal Iniciativa, que até tem um Secretariado, pelos vistos no ambito da UNICEF... Depois, não podia faltar a proposta para a constituição de uma Comissão, desta feita designada por “ equipa de trabalho interdisciplinar” ( um nome muito mais chic...) para “conceber um projecto de concretização do Programa”. E por fim, é proposta a participação de técnicos da CMFF na Conferência “Child in the City”, a realizar em Florença, lá para Outubro deste ano. Logo por sinal quando se tingem de belos tons de amarelo e castanho as árvores da maravilhosa cidade das flores, que é tão bom visitar e sobre a qual escreveu Augusto Abelaira...( e esta hein?..desta vez fui eu que dei uma de erudição!...)
quarta-feira, junho 02, 2010
OS CÁLCULOS DAS MULTIDÕES
Ninguem poderá negar que a manifestação organizada pela CGTP no passado sábado, em Lisboa, reuniu muitas dezenas de milhar de pessoas. Nem que a grande maioria delas têm inteira razão para daquela forma manifestarem os seus sentimentos de indignação e revolta. Nem que, na actual situação social, nenhuma organização, excepto a Igreja Católica ou a CGTP, tem uma tão grande capacidade de mobilização.
Alguém lançou ao vento o valor de 300 000 para quantificar o número de manifestantes.
O número ficou, transformado em verdade inquestionável , qual dogma, e é repetido por não sei quanta gente, por comentadores, por politicos, por jornalistas, por politicólogos, sem ser objecto de qualquer análise crítica. Chama-se a isso emprenhar pelos ouvidos. Ora não seria mau fazer ums continhas simples.
O Terreiro do Paço é uma praça praticamente quadrada. Terá à roda de 150 m de largura, o que dá uma área total de 22500 m2 . À cunha, totalmente cheio de manifestantes, com uma densidade de 2 pessoas por metro quadrado, conterá cerca de 50 000. Se puderem caber 3 pessoas por metro quadrado, a lotação da praça sobe para 75 000 . Mesmo 2 pessoas/metro quadrado é uma densidade muito elevada e desconfortável por quem nela participe. Não dá para as duas pessoas estarem encostadas, mas tambem será dificil não se tocarem, mal se virarem um pouco.
A Avenida da Liberdade tem uma extensão à roda de 1,5 km . A sua faixa central, nela incluindo os passeios, terá uma largura de 40 metros, se tanto. O que dá cerca de 60 000 m2. Se contarmos toda a largura da mesma avenida, que estimo em 80 m, digamos, a área total do espaço para conter os manifestantes seria da ordem dos 120 000 m2. Ficando todo esse espaço preenchido por uma multidão, e com uma densidade de 1 pessoa por m2, teríamos 120 mil pessoas. Ora, nas imagens transmitidas e vistas nas televisões, a densidade da multidão não era, nem de perto, nem de longe, semelhante a 1 pessoa/m2. De resto, faz parte das “boas práticas” da organização uma manif, dar bastante espaço entre as sucessivas filas de manifestantes. Desse modo, uma fotografia tirada em perspectiva cavaleira, resulta sempre numa foto sugerindo uma gigantesca multidão.
Por isso, como se pode então falar, sem provocar o riso, de 300 000 manifestantes? Para conter tal multidão, de forma compacta quase inimaginável, seriam necessários pelo menos 4 a 5 Terreiros do Paço , e 2 a 3 avenidas da Liberdade preenchidas, à cunha ,de cima a baixo, e de um lado a outro.
Ninguem poderá negar que a manifestação organizada pela CGTP no passado sábado, em Lisboa, reuniu muitas dezenas de milhar de pessoas. Nem que a grande maioria delas têm inteira razão para daquela forma manifestarem os seus sentimentos de indignação e revolta. Nem que, na actual situação social, nenhuma organização, excepto a Igreja Católica ou a CGTP, tem uma tão grande capacidade de mobilização.
Alguém lançou ao vento o valor de 300 000 para quantificar o número de manifestantes.
O número ficou, transformado em verdade inquestionável , qual dogma, e é repetido por não sei quanta gente, por comentadores, por politicos, por jornalistas, por politicólogos, sem ser objecto de qualquer análise crítica. Chama-se a isso emprenhar pelos ouvidos. Ora não seria mau fazer ums continhas simples.
O Terreiro do Paço é uma praça praticamente quadrada. Terá à roda de 150 m de largura, o que dá uma área total de 22500 m2 . À cunha, totalmente cheio de manifestantes, com uma densidade de 2 pessoas por metro quadrado, conterá cerca de 50 000. Se puderem caber 3 pessoas por metro quadrado, a lotação da praça sobe para 75 000 . Mesmo 2 pessoas/metro quadrado é uma densidade muito elevada e desconfortável por quem nela participe. Não dá para as duas pessoas estarem encostadas, mas tambem será dificil não se tocarem, mal se virarem um pouco.
A Avenida da Liberdade tem uma extensão à roda de 1,5 km . A sua faixa central, nela incluindo os passeios, terá uma largura de 40 metros, se tanto. O que dá cerca de 60 000 m2. Se contarmos toda a largura da mesma avenida, que estimo em 80 m, digamos, a área total do espaço para conter os manifestantes seria da ordem dos 120 000 m2. Ficando todo esse espaço preenchido por uma multidão, e com uma densidade de 1 pessoa por m2, teríamos 120 mil pessoas. Ora, nas imagens transmitidas e vistas nas televisões, a densidade da multidão não era, nem de perto, nem de longe, semelhante a 1 pessoa/m2. De resto, faz parte das “boas práticas” da organização uma manif, dar bastante espaço entre as sucessivas filas de manifestantes. Desse modo, uma fotografia tirada em perspectiva cavaleira, resulta sempre numa foto sugerindo uma gigantesca multidão.
Por isso, como se pode então falar, sem provocar o riso, de 300 000 manifestantes? Para conter tal multidão, de forma compacta quase inimaginável, seriam necessários pelo menos 4 a 5 Terreiros do Paço , e 2 a 3 avenidas da Liberdade preenchidas, à cunha ,de cima a baixo, e de um lado a outro.
INFORMAÇÕES DE UM LEITOR
A propósito deste comentário, um leitor devidamente identificado, num amável e-mail, informa-me que :
“(...)a publicidade ao espectáculo da vórtice.dance que tem sido inserida no diário As Beiras não custa um tostão ao erário público. Esta campanha publicitária surge de uma permuta entre a companhia residente do CAE e o próprio diário As Beiras, a companhia actuou na gala de aniversário do jornal e optou por receber o cachet em publicidade(...).”
Sendo como informa o leitor, reconheço que a dita “campanha publicitária” nada custa aos cofres municipais . Tratar-se-à de uma “transacção directa de serviço por serviço”, isto é, sem intermediação de moeda, entre um orgão de imprensa e uma companhia de dança, em ambos os casos pessoas colectivas privadas. Tipo de transacção que, no entanto, me parece não ser habitual, e de curialidade questionável. Se a moda pega e se estende em larga escala, o Estado deixa de cobrar IVA...
O meu comentário passou pelo convencimento de que a publicidade era promovida, e logo paga, pelo CAE, já que uma referência a este aparece com destaque nas várias páginas de publicidade ao evento . Se me enganei, as minhas desculpas a quem forem devidas.
A propósito deste comentário, um leitor devidamente identificado, num amável e-mail, informa-me que :
“(...)a publicidade ao espectáculo da vórtice.dance que tem sido inserida no diário As Beiras não custa um tostão ao erário público. Esta campanha publicitária surge de uma permuta entre a companhia residente do CAE e o próprio diário As Beiras, a companhia actuou na gala de aniversário do jornal e optou por receber o cachet em publicidade(...).”
Sendo como informa o leitor, reconheço que a dita “campanha publicitária” nada custa aos cofres municipais . Tratar-se-à de uma “transacção directa de serviço por serviço”, isto é, sem intermediação de moeda, entre um orgão de imprensa e uma companhia de dança, em ambos os casos pessoas colectivas privadas. Tipo de transacção que, no entanto, me parece não ser habitual, e de curialidade questionável. Se a moda pega e se estende em larga escala, o Estado deixa de cobrar IVA...
O meu comentário passou pelo convencimento de que a publicidade era promovida, e logo paga, pelo CAE, já que uma referência a este aparece com destaque nas várias páginas de publicidade ao evento . Se me enganei, as minhas desculpas a quem forem devidas.
No mesmo e-mail, e relativamente a este outro comentário, o leitor faz um reparo, que aceito, sem qualquer tipo de acrimónia :
(...) Quanto ao Festival de Cinema em 2011, quero, apenas, dar-lhe um conselho: não se fie nos disparates que lê na imprensa! Que eu saiba, nenhum responsável autárquico se comprometeu com uma data para a realização do evento. Convém desconfiar sempre de jornais que não indicam as suas fontes e que querem, a toda a força, criar títulos para vender jornais (...).
(...) Quanto ao Festival de Cinema em 2011, quero, apenas, dar-lhe um conselho: não se fie nos disparates que lê na imprensa! Que eu saiba, nenhum responsável autárquico se comprometeu com uma data para a realização do evento. Convém desconfiar sempre de jornais que não indicam as suas fontes e que querem, a toda a força, criar títulos para vender jornais (...).
O meu comentário foi baseado, obviamente, em noticia publicada na imprensa. Como de resto acontece com um enorme número de intervenções no contraditório de opiniões e no debate público estabelecidos através da blogosfera. A notícia nem me pareceu de todo inverosimil, já que a “ressurreição” do Festival de Cinema até constou do amplo elenco de generosas promessas da candidatura eleitoral do actual executivo camarário.
terça-feira, junho 01, 2010
NOTICIAS QUE FAZEM RIR...
Esta é uma delas. Então as pobrezinhas das criancinhas de 14-15 anos podem andar no Bairro Alto até às 5 e 6 da manhã, podem dormir toda a noite junto ao Pavilhão Atlântico, no Parque das Nações, a fim de comprar bilhete para um espectáculo de uma banda rock, podem pedir um shot em qualquer bar ou discoteca da noite lisboeta, podem participar activamente numa qualquer claque de um clube de futebol, podem receber preservativos que lhes são distribuidos nas escolas, e depois, quando vão ao hospital, têm direito a ser tratadas por um(a) médico(a) pediatra ?....
Pois claro, que assim tem de ser, assim mandam as novas e modernaças teorias pedagógicas do construtivismo . Será para satisfazer "as necessidades dos adolescentes que apresentam (...) necessidade de convivência num espaço lúdico e formativo e, nos casos em que é possível, de interacção com a escola".
GESTÃO MUNICIPAL MAIS DIFICULTADA
A proposta de Lei do Governo com medidas dolorosas para reduzir o défice e o endividamento do Estado, a ser discutida esta semana na Assembleia da República, contem disposições igualmente dolorosas para a gestão municipal. Podem ler-se aqui.
No caso do Municipio da Figueira da Foz, haverá uma redução à roda dos 5% nas transferências da Administração Central ( FEF e FSM). O OGE inicial contemplava um total de transferências de 8222 milhares de euros (mE), as quais são agora reduzidas para 7789 mE ( menos 433 mE). De qualquer modo, este valor assim reduzido vem a ser praticamente idêntico ao do Orçamento Municipal para 2010 ( 7756 mE) . Este fora inscrito com louvável dose de prudência e realismo, em valor da mesma ordem de grandeza do registado em 2009.
A proposta de Lei do Governo com medidas dolorosas para reduzir o défice e o endividamento do Estado, a ser discutida esta semana na Assembleia da República, contem disposições igualmente dolorosas para a gestão municipal. Podem ler-se aqui.
No caso do Municipio da Figueira da Foz, haverá uma redução à roda dos 5% nas transferências da Administração Central ( FEF e FSM). O OGE inicial contemplava um total de transferências de 8222 milhares de euros (mE), as quais são agora reduzidas para 7789 mE ( menos 433 mE). De qualquer modo, este valor assim reduzido vem a ser praticamente idêntico ao do Orçamento Municipal para 2010 ( 7756 mE) . Este fora inscrito com louvável dose de prudência e realismo, em valor da mesma ordem de grandeza do registado em 2009.
UMA CORRECÇÃO SOBRE O ROCK IN RIO
Dois leitores tiveram a amabilidade de esclarecer o QuintoPoder quanto ao preço de entrada por um dia no Rock-in-Rio : 58 euros. E não 100 euros como neste blogue se indicou há dias. Aqui fica a devida correcção, com o igualmente devido pedido de desculpa pelo erro cometido, induzido por informação errada que me fora comunicada.
De qualquer modo, permanece o fundamental da ideia que pretendi transmitir no comentário feito : as grandes enchentes que se continuam a verificar nos espectáculos e eventos de cantigas, de lazer e de diversão, sugerem que se mantem a desastrosa propensão nacional para um comportamento muito mais de cigarra e muito menos de formiga. E que a chamada classe média (ou pelo menos uma grande parte dela) parece ainda não estar assim tão “sacrificada” e “esmagada” pela crise, como por vezes se quer fazer crer.
Dois leitores tiveram a amabilidade de esclarecer o QuintoPoder quanto ao preço de entrada por um dia no Rock-in-Rio : 58 euros. E não 100 euros como neste blogue se indicou há dias. Aqui fica a devida correcção, com o igualmente devido pedido de desculpa pelo erro cometido, induzido por informação errada que me fora comunicada.
De qualquer modo, permanece o fundamental da ideia que pretendi transmitir no comentário feito : as grandes enchentes que se continuam a verificar nos espectáculos e eventos de cantigas, de lazer e de diversão, sugerem que se mantem a desastrosa propensão nacional para um comportamento muito mais de cigarra e muito menos de formiga. E que a chamada classe média (ou pelo menos uma grande parte dela) parece ainda não estar assim tão “sacrificada” e “esmagada” pela crise, como por vezes se quer fazer crer.