terça-feira, junho 15, 2010
OS PARTIDOS - UMA VISÃO DE MARCELO CAETANO
“O partido, seja único, seja concorrente com outros, é por definição um grupo olhando em primeiro lugar a própria expansão e crescimento, visa a fruição do poder político em seu benefício, reservando para os seus filiados as benesses que essa fruição proporciona”
Quem assim escreveu foi Marcelo Caetano, numa entrevista dada à "Vida Mundial" de 15 de Setembro de 1970, cuja leitura agora recuperei, ao arrumar papelada aqui em casa.
Julgo que, na altura, terei avaliado a declaração como resultando unicamente da postura ditatorial e anti-democrática com que ele conduzia a vida politica portuguesa.
Quarenta anos volvidos, tem de se reconhecer que, naquela matéria, a sua visão se aproxima da realidade. Faltou-lhe o rasgo de concluir que as coisas são sempre muito piores para os cidadãos e para a sociedade, quando o partido é único (como a União Nacional, a ANP, ou um Partido Comunista da URSS, de Cuba ou da Coreia do Norte), do que quando há concorrência (mesmo imperfeita..) com outros partidos.
Será possível ser de outra maneira ? Isto é, poderá haver um partido político ( um movimento, uma associação...) cuja natureza e cujo desempenho não obedeçam à crua lógica da “fruição do poder político em seu benefício” e “reservando para os seus filiados as benesses que essa fruição proporciona” ? . Poderá parecer ingenuidade minha, mas ainda acredito que sim. Pelo menos valerá a pena continuar a acreditar. Talvez seja o tempo de se pensar em levar a cabo um trabalho de “re-engenharia” do espectro partidário da vida política portuguesa.
“O partido, seja único, seja concorrente com outros, é por definição um grupo olhando em primeiro lugar a própria expansão e crescimento, visa a fruição do poder político em seu benefício, reservando para os seus filiados as benesses que essa fruição proporciona”
Quem assim escreveu foi Marcelo Caetano, numa entrevista dada à "Vida Mundial" de 15 de Setembro de 1970, cuja leitura agora recuperei, ao arrumar papelada aqui em casa.
Julgo que, na altura, terei avaliado a declaração como resultando unicamente da postura ditatorial e anti-democrática com que ele conduzia a vida politica portuguesa.
Quarenta anos volvidos, tem de se reconhecer que, naquela matéria, a sua visão se aproxima da realidade. Faltou-lhe o rasgo de concluir que as coisas são sempre muito piores para os cidadãos e para a sociedade, quando o partido é único (como a União Nacional, a ANP, ou um Partido Comunista da URSS, de Cuba ou da Coreia do Norte), do que quando há concorrência (mesmo imperfeita..) com outros partidos.
Será possível ser de outra maneira ? Isto é, poderá haver um partido político ( um movimento, uma associação...) cuja natureza e cujo desempenho não obedeçam à crua lógica da “fruição do poder político em seu benefício” e “reservando para os seus filiados as benesses que essa fruição proporciona” ? . Poderá parecer ingenuidade minha, mas ainda acredito que sim. Pelo menos valerá a pena continuar a acreditar. Talvez seja o tempo de se pensar em levar a cabo um trabalho de “re-engenharia” do espectro partidário da vida política portuguesa.