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quarta-feira, dezembro 02, 2009

O ALMOÇO QUE É GRATIS, E A ESMOLA QUE É GRANDE

Aqui vai então a minha contradita ao comentário/esclarecimento do Vereador da Câmara Municipal da Figueira da Foz, dr António Tavares, publicado neste anterior post do QuintoPoder.
Não tenho a menor dúvida de que o Vereador António Tavares acredita com boa fé e consciência, na plena bondade das soluções e propostas que faz. Ou seja, acredita basicamente que :

- a companhia e a academia de dança virão para o CAE, na Figueira da Foz, a custo
zero para
o Município ;
- a companhia de dança é e virá a ser suportada financeiramente pelo Ministério da Cultura;
- o director artístico ganhará quase nada, apenas uma avença simbólica ;
- todas as actividades da companhia de dança, suportadas integralmente pelo Ministério da
Cultura, vão levar a “marca” de “co- produção CAE-Figueira da Foz” ;
- assim sendo, o nome da Figueira da Foz vai ser levado, a custo mais que módico, praticamente
zero, às televisões (presume-se que às indígenas...), à cerimónia de abertura do campeonato
africano de futebol (presume-se que o Mundial de futebol, na África do Sul) e em várias
digressões da companhia pelo estrangeiro ;

O Vereador António Tavares e muitos leitores perdoar-me-ão o meu impenitente cepticismo, quase numa escala pirrónica. Mas, pela minha parte, e nesta como noutras matérias ligadas à vida política da Figueira da Foz, não compartilho do seu optimismo, nem no meu espírito alimento ilusões . Dito de outro modo : estou convencido que a “residência” da companhia de bailado e a contratação do director artístico irão, cedo ou tarde, traduzir-se em novo e significativo acréscimo da despesa corrente das execuções orçamentais do Município cá do burgo.

Vai soar a um clichet, eu sei. Mas quando leio e ouço o anúncio e a promessa de coisas tão excelentes e grandiosas, a custo zero, e procuro fundamento para a minha descrença, não encontro melhor forma de a exprimir, dentro da minha limitada literacia, do que lembrar a muito “economicista” expressão de que “não há almoços grátis”. Ou então, mais terra a terra, e sem recurso ao “economês” vernáculo, talvez possa trazer ao argumentário um velho ditado da sabedoria popular : quando a esmola é grande, o pobre desconfia.

Adenda 1
Parto do princípio de que as condições de acolhimento e “residência” da companhia de dança no CAE hajam já sido objecto de algum contrato ou protocolo entre o Município da Figueira da Foz e o Ministério da Cultura, no sentido de ficar inequivocamente esclarecido o quê, o como e o quanto cabe a quem. Nomeadamente, que cabe ao Ministério da Cultura suportar todos ( e sublinho todos...) os custos com a dita companhia, sem margens para dúvidas ou para eventuais posteriores alterações das responsabilidades de cada parte.
Mesmo assim, não desaparecem do meu espírito as dúvidas sobre se, no apertadíssimo quadro orçamental com que o Estado português em geral, e o Ministério da Cultura em particular, se irão seguramente defrontar nos próximos 2-3 anos, o mesmo Ministério não se terá de desvincular dessa responsabilidade, deixando o Município da Figueira da Foz com um pesado “menino nos braços”.
Por outro lado, importaria precisar o que será isso de “avença simbólica” que o anunciado ( não sei se já contratado...) director artístico vem ganhar. O termo simbólico é muito relativo, e portanto acho que interessa conhecer a escala do publicitado simbolismo ...

Adenda 2
À escala nacional, caminharemos para uma gravíssima catástrofe social se os dirigentes e responsáveis políticos ( do poder, como também das oposições...) continuarem a brincar às “políticas” e a não ter consciência do perigo de uma cada vez mais próxima ocorrência de um colapso financeiro do Estado e do tecido económico português.
Ou se, tendo esse pressentimento, não actuarem em conformidade, continuando a fingir que há recursos e dinheiro para tudo, sem começarem desde já a cortar cerce no que é menos prioritário, para que depois não se tenha de cortar no essencial ou no absolutamente vital.
Mudando apenas a escala, a mesma reflexão merece ser feita relativamente aos responsáveis municipais em geral. Mais em particular aos do Município da Figueira da Foz, cujo quadro orçamental se aproxima cada vez mais do nível do inexequível, e cuja situação financeira se aproxima cada vez mais da bancarrota.

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