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terça-feira, janeiro 02, 2007

UM POVO DE CIGARRAS (1)

Iniciado o novo ano, desejo trazer à reflexão a última crónica de Miguel Sousa Tavares (MST), no EXPRESSO de sábado, último dia do ano que passou.
Perpassa pelo texto, escrito a propósito da passada festa natalícia ( a reler, este post do Quinto Poder) um sentimento de desencanto, amargura e algum desespero, que compartilho .
Mesmo estando consciente que não ajuda, antes pelo contrário, alimentar esses sentimentos.
Espero que ao menos ajude o meu sincero desejo que, chegado o final de 2007, e olhando para trás, conclua terem sido esses sentimentos muito exagerados.
Para registo de memória futura, deixo alguns dos excertos mais significativos da crónica de MST

(...) transformámos o Natal num inferno. Uns mais, outros menos, somos arrastados por um deboche consumista que reduz o essencial do Natal a uma vertigem consumista irracional e sem sentido (...)

(...) O sentimento de derrota (...) só poderia ser minimizado se nos dissessem que, ao menos, ajudámos os comerciantes ou a indústria nacional.
Mas nem por isso : 90 % do que compramos para oferecer são inportados e, mais uma vez, escutamos os comerciantes a lamentarem-se de que “ o Natal foi fraco”.
Foi fraco, com mil euros gastos por segundo em compras entre o dia 20 e o dia 30?

(...) exaustos por tanto espírito natalício, os portugueses entraram em descompressão : metade ou mais do país esteve de férias na semana que agora termina .
Uma parte ficou por aí, ocupada a trocar os presentes de Natal ou a aproveitar a abertura dos saldos ; outros preparam-se para encher o Algarve ou a Serra Nevada ; os que restam gostariam de ir para o Brasil ou a República Dominicana, mas chegam tarde : os voos já estão todos esgotados.

(...) Quem voltar a falar na “crise” deve ser repudiado como aldrabão e caluniador. Qual crise? Somos o país mais próspero do mundo, nunca fomos tão ricos, nunca nos sobrou tanto dinheiro, nunca as preocupações com o dia de amanhã foram tão dispiciendas (...)
(...)
O que se passou então (...) foi que aproveitámos a descida das taxas de juro, não para investir, criar empresas, riqueza, produção, emprego, mas sim para consumir, importar, endividarmo-nos ainda mais. O Estado deu o exemplo lá do alto e toda a tão louvada “sociedade civil” foi alegremente atrás(...)

Disto teve responsabilidade Portugal inteiro e os governos de Cavaco Silva e António Guterres(...)
Guterres teve a responsabilidade de ter ignorado as campainhas de alarme que, a partir do final dos anos noventa eram impossíveis de não escutar, e ter continuado a apostar numa lógica de “desenvolvimento” que assentava por inteiro nos gastos antieconómicos do Estado.
Cavaco teve a responsabilidade de ter desperdiçado uma oportunidade única para reformar o Estado, quando tinha tudo a seu favor (...)

Mas a verdade é que tanto Cavaco como Guterres foram eleitos e reeleitos pelos portugueses.
Seguramente, porque nenhum deles lhes prometeu sangue, suor e lágrimas.
Porque ambos convenceram os portuguese que, afinal, essa empreitada de passar directamente de país pobre e periférico para o “pelotão da frente” era coisa fácil e indolor.
E, como se viu neste Natal de 2006, não há nada mais dfificil de desmentir para os portugueses do que uma boa notícia.

Resta-nos essa consolação : um povo que acha que tudo se consegue sem trabalho, sem mérito e sem risco, tem de ter um amanhã feliz.
Nós somos a cigarra que finalmente irá desmentir a formiga.

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