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domingo, julho 15, 2012


Bons exemplos de transparência na vida política
(publicado no semanário “O Figueirense” de 10.Fevereiro.2012)


Com uns quantos cliques, através do rato do meu computador, navegando por alguns sites
parlamentares, pude tomar conhecimento de uma série de exemplos de boas práticas de transparência da vida política.
Não será demais insistir quanto tal transparência é necessária (embora não suficiente…) para credibilizar a via política, e para deter a preocupante queda do prestígio dos governantes, da actividade parlamentar e até do próprio regime democrático.
Vejamos então uma meia dúzia desses bons exemplos de que tomei conhecimento.
Na declaração de bens e rendimentos do actual Chefe de Governo, pode ler-se que teve no ano passado um total de remunerações líquidas de 98225 euros, tendo pago 87651 euros de IRS.É proprietário, por exemplo, de um apartamento em Pontevedra, um outro em Madrid, e ainda outro nas Canárias. Tem 313780 euros aplicados em fundos de investimento, e 143182 euros em acções cotadas em bolsa.
Por sua vez, o líder do Partido Socialista, na oposição, pagou 23826 de IRS, é proprietário de meio apartamento, com 135 metros quadrados e um valor cadastral de 215225 euros, e tem 397653 euros aplicados em fundos de investimento.
O Presidente do Parlamento tinha no final do ano passado no seu património, duas vivendas em Soria, uma quinta em Cidade Real e 193678 euros investidos em fundos de pensões.
Sobre um anterior Primeiro-Ministro, pude saber, de entre muitas outras coisas, que participou numa conferência internacional em Pequim, para onde viajou com o patrocínio de um instituto chinês, tendo este pago a estadia e a viagem, num valor global correspondente a 13400 euros.
Também encontrei casos curiosos. Como o de um membro do Parlamento que refere na sua declaração ter cobrado um total de 7033 euros pela sua participação em sete debates numa estação de televisão. Ou outro, ainda mais curioso, de um deputado que faz questão de fazer constar na listagem de prendas oferecidas por uma empresa privada, a de dois bilhetes para as finais de um grande torneio de ténis, no valor total de 1200 euros.
O Chefe de Governo, o líder do Partido Socialista, e o Presidente do Parlamento a que acima me refiro, não são da República Portuguesa, não senhor. São, isso sim, da muito vizinha Espanha.
O deputado que não se esqueceu de referir a oferta dos dois bilhetes para as finais de ténis de Winbledon, é da Câmara dos Comuns, e não da Assembleia da República.
A visita a Pequim que custou 13400 euros, foi a de um ex-Primeiro Ministro de sua Majestade britânica. A estação de televisão onde um membro do Parlamento, de resto britânico e não português, participou em sete debates foi a BBC e não a SIC Notícias, pela qual, por exemplo, os deputados João Semedo e Luís Fazenda (Bloco de Esquerda)  e Telmo Correia (do CDS-PP) dizem ser remunerados, todavia não declarando por quanto. O deputado José Lello também costuma ser comentador numa outra televisão concorrente, mas esse nem se dá ao trabalho de lhe fazer uma simples menção na sua declaração de interesses.
Comparem-se agora aquelas boas práticas, a que almas mais sensíveis e mais receosas da transparência poderão classificar de horrível voyerismo, vigentes em Espanha e na
Grã-Bretanha, permitindo um escrutínio mais rigoroso por parte dos cidadãos, com as adoptadas em Portugal.
Por cá, as informações sobre rendimentos, patrimónios e registos de interesses constantes das páginas dos deputados são vagas, pouco menos que irrelevantes e anódinas. Se o portuga cidadão quiser saber mais, e exercer o seu dever-direito ao escrutínio dos actores da vida política, terá de ter a pachorra de se deslocar ao Tribunal Constitucional, em Lisboa, fazer um requerimento, declarar porque razões tem interesse na consulta, demonstrar as razões e contextos da pesquisa, aguardar um tempo, pedir respeitosamente deferimento, tomar umas notas escritas por punho próprio.
Para melhor se compreender a escala da referida comparação, valerá a pena navegar um pouco pelos sites da Assembleia da República (parlamento.pt), do Congreso de Deputados (congresso.es) e da Câmara dos Comuns (parliament.uk). E tirem-se depois as devidas conclusões.

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