terça-feira, janeiro 11, 2011
EU ESPECULADOR ME CONFESSO
As poupanças por mim conseguidas, ao longo de várias décadas, resultantes da diferença entre os rendimentos do meu trabalho e as despesas dos consumos que fui realizando, foram colocadas em aplicações financeiras mais ou menos diversificadas no BRINCA (Banco Regional de Investimento Comercial e Agrícola). O leitor não conhece o BRINCA. Pouco importa. É um banco a brincar, que serve apenas para suportar as razões do que quero adiante confessar.
As poupanças por mim conseguidas, ao longo de várias décadas, resultantes da diferença entre os rendimentos do meu trabalho e as despesas dos consumos que fui realizando, foram colocadas em aplicações financeiras mais ou menos diversificadas no BRINCA (Banco Regional de Investimento Comercial e Agrícola). O leitor não conhece o BRINCA. Pouco importa. É um banco a brincar, que serve apenas para suportar as razões do que quero adiante confessar.
Aqui há uns anos, abriu por aí uma agência de um novo banco, de nome sonante, e liderado por gente que já tinha sido importante no mundo da política. Fui aliciado para transferir para ele parte das minhas poupanças. Prometiam mundos e fundos, taxas de juro remuneratório
do caraças, mais isto e mais aquilo, seguro, cartões de crédito, sei lá que mais. Mesmo sem perceber nada de finanças (embora conste que tenha biblioteca…), achei aquilo demais, a coisa cheirou-me a esturro, sobretudo porque sabia que o mesmo banco começara a ter fama de conceder crédito fácil a juros generosos. Polidamente, agradeci a atenção e recusei ceder ao insistente assédio.
Eu sabia e sei muito bem que as poupanças que depositei e apliquei no BRINCA não estão lá a aboborar numa gaveta ou num cofre. O dinheiro poupado por alguns, pelos que podem, não é para ficar quietinho. Deve servir para circular, suportar iniciativas e o “empreendedorismo” (um palavrão que agora é chic usar-se…), ser movimentado, criando riqueza. O BRINCA movimenta e empresta uma parte dessas poupanças a quem delas momentaneamente precisa. Por exemplo: para investimento directo ; na aplicação em fundos de investimento; na compra de obrigações de empresas, do Estado português ou de outros Estados; e até, vamos lá, para algum consumo, em alturas de desequilíbrios de tesouraria. Por essa parte das minhas poupanças que o BRINCA assim movimenta, cobra um juro superior àquele com que me remunera. A diferença é a sua margem, de que retirará o seu lucro.
Mas também sei, e sobre isso tenho confiança, ou “fidúcia”, de que se um dia, agora ou mais tarde, eu necessitar de ter dinheiro líquido, e ir lá levantar essas minhas poupanças, o BRINCA mas devolve sem piar e sem aflições. Tanto mais que, também confio, será muito improvável que todos os outros depositantes necessitem de liquidez ao mesmo tempo que eu.
Até ao momento, eu penso, e assim tenho “especulado”, que o BRINCA tem adoptado uma política rigorosa e prudente para aplicar estas minhas como as poupanças de outros concidadãos. Por isso continuo a lá manter as minhas poupanças. Assim devem pensar e “especular” aqueles muito milhares desses outros concidadãos, que não serão de certeza menos prudentes que eu próprio.
Mas se o BRINCA se puser a conceder crédito a juros semelhantes ao preço da uva mijona, a empresas de que sabe serem mal geridas, dando sinais de falência iminente, para despesas de “investimentos” com poucas hipóteses de retorno ; a municípios com conhecidas e habituais práticas de despesismo em festas, romarias e fogos de artifício ; ou a comprar obrigações da dívida soberana da Grécia, da Costa do Marfim ou da Venezuela, aí vou reflectir com mais ponderação sobre o destino a dar às minhas poupanças.
Se um tal cenário se verificasse, eu “especulador” humildemente me confesso, iria pensar maduramente com os meus botões, e “especular” se de facto o BRINCA deveria continuar a ter a minha confiança de depositante. Terminadas as minhas mentais “especulações”, iria mas era levantar os meus depósitos e transferi-los para destino ou banco que me proporcionassem mais confiança, mais segurança e melhores condições.
Assim fariam, de certeza, outros milhares de concidadãos cujas poupanças estiverem depositadas no BRINCA, pois a sensatez e a prudência não são exclusivos meus. Até mesmo aqueles que têm muita garganta, e se reclamam de muito progressistas, muito humanistas, muito desprendidos do vil metal, muito de “esquerda”, em especial da jurássica e da queque.
Seríamos acusados de mentes “economicistas”, e de colaborar com as práticas danadas dos “mercados”. Paciência, antes isso que sermos julgados como burros ou irresponsáveis.