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segunda-feira, dezembro 20, 2010

RESPIGOS DO PORTUGAL POSITIVO

O embaixador do Reino Unido em Portugal terminou a sua comissão de serviço em Portugal , e foi destacado para outro posto diplomático. Antes de partir, e em contra corrente ao pessimismo por cá dominante, escreveu uma curiosa crónica no EXPRESSO do último fim de semana, que não resisto a transcrever, quase na íntegra. Creio que nos dará um certo consolo verificar que, observados de fora, com olhos alheios, co’s diabos, também não somos assim tão maus quanto nos pintamos, e ainda vamos tendo algumas qualidades .

« (…) em contracorrente ao pessimismo dominante, decidi em vésperas da minha partida pela segunda vez deste pequeno jardim, anotar dez coisas que espero bem nunca mudem em Portugal .

1.
A ligação intergeracional. Portugal é um país onde os jovens e os velhos conversam – normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto do avô é altíssimo na sociedade portuguesa – e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade, para benefício de todos.
2.
O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta – não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas uma sopa, um prato quente etc., tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.
3.
A variedade da paisagem. Não conheço outro país onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies do Alentejo, passando pelo planalto e pela serra da Beira Interior.
4.
A tolerância. Nunca vivi num país que aceite tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.
5.
O café e os cafés. Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno
prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.
6.
A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista.; mas vi no meu primeiro fim de semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm na sua raiz, uma certa inocência.
7.
Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é, e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.
8.
As mulheres. O adido de Defesa na Embaixada há 15 anos deu-me um conselho precioso : “Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem feita neste país, dê a tarefa a uma mulher”. Concordei tanto, que me casei com uma portuguesa.
9.
A curiosidade sobre, e o conhecimento do mundo. A influência de “lá” é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um país ligado, e quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.
10.
Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas em Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho. (…) »

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