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segunda-feira, dezembro 20, 2010

O APROVEITAMENTO POLITICO DA INFELICIDADE ALHEIA

Em alusão directa a recentes intervenções políticas do Presidente da República (ou seria do candidato Cavaco Silva?) o Primeiro-Ministro (ou seria o Secretário Geral do PS ?), em declarações públicas ontem muito divulgadas, condenava “ quem explora de forma descarada a questão da pobreza para retirar dividendos políticos”.

Em tese, não posso estar mais de acordo. Também eu não gostei nada de ver Cavaco Silva, para audiências televisivas ouvirem, a dizer-se muito envergonhado pela pobreza existente em Portugal. Não sei se era o Presidente da República que assim falava, se era o candidato à próxima eleição para Presidente da República. Muito menos gostei de o ver ontem, nos noticiários das televisões (certamente convocadas pelos seus assessores de imprensa) numa boda de um matrimónio organizado por uma estimável ONG dedicada a ajudar e a lutar pela inclusão social dos “sem abrigo” de Lisboa.
Mas deixemo-nos de hipocrisias. Aproveitar a pobreza, ou a desgraça, ou as dificuldades, ou os simples descontentamentos alheios, “cavalgando-os” sempre que for possível para tirar dividendos políticos de popularidade fácil, e sobretudo estando por perto as televisões, previamente convocadas, sempre o têm feito os dirigentes político-partidários portugueses. Todos eles, sem excepção.
Por exemplo, será que ninguém se lembra de ter visto Francisco Louçã do BE, aparecer logo, muito lampeiro, a fazer declarações inflamadas à porta de uma fábrica que fechou, deixando no desemprego umas centenas de trabalhadores? Quem diz Francisco Louçã, diz Jerónimo de Sousa, o bem falante deputado Bernardino Soares, ou a estridente deputada europeia Ilda Figueiredo, eleita pelo PCP?
Será que ninguém se lembra de Paulo Portas a visitar lares da terceira idade, beijocando e pretendendo confortar, com ar piedoso, umas velhinhas que, sentadas e resignadas, por ali esperam o fim da sua vida? Será que ninguém se lembra de deputados do PSD muitos lestos a visitar zonas do país atingidas por uma qualquer inclemência atmosférica, clamando e exigindo, se acaso estão na oposição, que o Governo tem de prestar imediata ajuda? Será que ninguém se lembra da “cavalgata” feita por todos os partidos das actuais oposições, dos descontentamentos causados pela introdução de pagamentos de portagem nas anteriores SCUT’s? Será que ninguém se lembra do aproveitamento político, feito por ilustres dirigentes do PS, dentre eles o insigne Armando Vara, amigo do actual PM, participando activamente no famoso buzinão na ponte 25 de Abril, vai para mais de 15 anos, quando o PS estava na oposição?

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