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segunda-feira, setembro 27, 2010

TRÊS DILEMAS

Como viabilizar (como não inviabilizar, se se preferir…) o Orçamento Geral do Estado, sem ficar por ele co-responsabilizado aos olhos da opinião pública, leia-se eleitorado ?.
Este é o dilema do PSD. Partido que, quero presumir, estará consciente de que por muito penalizadora que seja a proposta a apresentar pelo Governo, por muito que ela vá contradizer compromissos e promessas passadas, por muito que ela fira princípios defendidos pelo PSD, na perigosa situação que se vive, de verdadeira emergência financeira nacional, será muitíssimo pior não haver Orçamento para 2011, aprovado no Parlamento.

O dilema do PS é obviamente diferente. O seu Governo está condicionado por compromissos assumidos com instâncias supranacionais; os seus líderes mais responsáveis estão bem cientes de que, se agora governasse segundo a sua “crença natural”, sem cuidar daqueles compromissos, atirariam o País para uma catástrofe. Está no exercício do poder, mas sabe que num tempo de crise, dificuldades e tempestades, exercer o poder, de forma minimamente responsável, desgasta. Se for só ele a arcar com o ónus político das medidas duras e impopulares, que sabe serem inevitáveis, vai ser severamente penalizado pelo eleitorado em futuro que se adivinha próximo.
Como demonstrar, sem ser irremediavelmente castigado pelos eleitores, devido às suas “malfeitorias “, que tem sentido de responsabilidade ao governar? Convinha-lhe que o partido concorrente, que se apresenta como alternativa de poder, partilhasse agora aquela responsabilidade pelas ditas “malfeitorias”.
Ora o partido alternativo não está pelos ajustes em aparecer como tal, aos olhos do eleitorado. O que de certo modo se compreende. Faz parte do chamado “póquer” político habitual, e o PS faria certamente a mesma coisa, se em vez de estar no poder estivesse na oposição. Acresce que a imagem da co-responsabilização seria reforçada se houvesse muitas “conversações” na praça pública, ou nela divulgadas.

Desta dialéctica entre os dois dilemas irá resultar que, face à proposta de OGE do Governo, o PSD vai reagir por paus e por pedras, desancando nela de cima a baixo, e acusando o PS de só castigar os portugueses com sacrifícios e malfeitorias. Com o que irá recolher dividendos eleitorais, como o PS sabe e teme. Na votação na generalidade, irá tomar uma posição de “não inviabilizar” o Orçamento, invocando que fazer política responsável implica que se escolha sempre pelo menor de dois males, por muito que em geral seja quase impossível escolher entre a peste e a cólera. Na especialidade, o PS irá ceder numas duas ou três exigências do PSD (de resto, em questões previamente majoradas para efeitos de cedência em sede de negociação…). Os líderes do PSD apresentarão os troféus dessas pequenas vitórias para efeitos de explicação e mobilização internas.
O Estado português acabará, assim espero, por ter um Orçamento em vigor para 2011 que de certo modo sossegue e convença os credores quanto à nossa capacidade de nos auto -governarmos. Falta saber se a confiança daqueles não sofrerá irreparáveis estragos durante os próximos tempos de dúvida e de crispação que vão anteceder a decisão de aprovação. Pode ser que não, pode ser que os credores já conheçam bem as regras e truques destes jogos de “póquer” político, e que não tomem a sério as jogadas e as chicanas dos parceiros. Assim seja.

Os partidos de protesto, e talvez o próprio PS, irão apregoar que o PSD, ao ter viabilizado o Orçamento, é de certo modo responsável por ele. O PSD irá dizer que, não senhor, apenas o “não inviabilizou” porque se o tivesse inviabilizado, as consequências seriam ainda mais dramáticas para Portugal. O que, em minha opinião, seria verdade.
Também o seria, no íntimo mental de muitos e muitos comentadores que por aí leio, nos media e na blogosfera, quase parecendo dizer que preferiam não ter o Orçamente aprovado.

E aí temos um terceiro dilema. É o dilema desses muitos que, denunciando e condenando, com vigor e valentia, a “convergência” nesta matéria entre o PS e o PSD, seja por alegadamente terem uma consciência dita de “esquerda”, seja porque pensam retirar dividendos eleitoralistas através dessa denúncia, irão, bem no fundo e no íntimo, respirar de alívio por essa convergência ter sido ao fim e ao cabo alcançada.
Bem no fundo e bem no íntimo, agradecerão aos santos do Céu por, desse modo, terem sido atenuadas as ameaças que, sabiam-no bem, iriam recair cada vez mais sobre a sua vida pessoal e familiar, caso o Estado português ficasse sem Orçamento para 2011.

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