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terça-feira, setembro 07, 2010

ARBITRAGENS CASEIRAS

Nos anos quarenta e cinquenta, a grande maioria das partidas de futebol entre equipas de cidades e vilas da “província” realizavam-se em campos pelados, com a bancada e o peão quase em cima do terreno de jogo, sem vedação que impediise qualquer invasão de campo, sem balneários para a equipa de arbitragem com segurança devidamente garantida.
Em tais condições, a pressão psicológica e por vezes física sobre os árbitros era enorme, naturalmente que por parte dos adeptos da equipa da casa, em esmagadora maioria.
Puramente amadores, vindos de fora, frágeis, sem resilência psicológica bastante, os árbitros não resistiam. Nas decisões importantes do jogo, tendiam geralmente a optar pelas “politicamente correctas” ( o termo ainda não existia na altura...), ou seja, por aquelas que menos alarido e berraria provocassem por parte da assistência ululante. Chamava-se a isso uma arbitragem caseira.

Ainda no contexto da dúvida metódica que aflora ao meu espírito sobre as sentenças do processo Casa Pia, foi aquela memória da “arbitragem caseira” que me foi suscitada por declarações prestadas ao PUBLICO de anteontem , sobre o caso, por um Juiz, de seu nome Edgar Lopes :

“(...)
O ruído mediático seria precisamente o mesmo, só que da parte contrária(...) .As consequências, a nível mediático, com manifestações de indignação, existiriam também, só que da parte dos ofendidos (...) “

Pois é. Só que neste caso, os alegados ofendidos estavam a jogar em casa. Ou seja, perante uma assistência, uma opinião pública empenhada e maioritariamente favorável.Com os arguidos antecipadamente julgados e condenados na praça pública, condicionada por alguns media.
Não há credibilidade na Justiça que resista a tal prova, numa Justiça já tão fragilizada e descredibilizada. Não sei se, ao nível da primeira instância, haverá muitos juizes com maturidade e resilência psicológica bastantes para poderem resistir à tentação de irem na onda, e de não desagradarem aos clamores do circo e da galeria.
É mais uma dúvida metódica que me assalta.

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