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segunda-feira, setembro 06, 2010


AFONSO COSTA E SALAZAR

Acabei há dias de ler uma biografia de Afonso Costa, da autoria de uma nova estrela da historiografia portuguesa, Filipe Ribeiro de Meneses, professor numa universidade irlandesa.
O livro, de cerca de 200 páginas, lê-se facilmente e num trago. Está escrito num estilo linear e escorreito, à boa moda anglo-saxónica.
Embora incida sobretudo sobre a acção política de Afonso Costa durante o período da 1ª Guerra Mundial, o perfil e o carácter traçados da criatura dão para se poder compreender como é que aquela figura política merece ser considerada como um dos principais responsáveis pelo desastroso e fracassado desempenho político da 1ª República.

Segue-se agora a leitura de outro livro do mesmo autor : uma grande biografia de Salazar. Desta feita, obra com muito maior fôlego, num grosso volume de 800 páginas (Edições D. Quixote). Sobre ela, escrevia Vasco Pulido Valente na sua crónica do PUBLICO de ontem :

“ (...) vale a pena ler esta longa e minuciosa história do homem que governou, sem sombra nem rival, gerações sobre gerações de portugueses e conseguiu criar uma cultura política que hoje ainda pesa - e pesa muito - na democracia que temos. O próprio facto de Ribeiro de Menezes ser um “estrangeirado” ajuda a sentir isso.
Para quem viveu sob Salazar - e já deve haver pouca gente -, o que falta nesta biorafia é, naturalmente, a atmosfera do regime. Porque não existia uma ditadura, existiam milhares. Cada um de nós sofria sob o seu tirano, ou colecção de tiranos, na maior impotência.
A família, a escola, a universidade, o trabalho, produziam automaticamente os seus pequenos “salazares”, que, como o outro, exerciam uma autoridade arbitrária e definitiva que ninguém se atrevia a questionar.
(...)
Só num ponto, essencial, Salazar perdeu. Queria um país resignado à pobreza cristã e Portugal, se continua pobre, não se resigna agora à pobreza com facilidade e abandonou a Igreja. Verdade que Salazar se esforçou para conservar a sociedade rural em que nascera e a Coimbra beata e conformista em que se educara. Verdade também qur durante 30 anos tornou Portugal numa grande aldeia, onde o “progresso” chegava, quando chegava ( uma ponte, uma estrada, aqui e ali a electricidade), por dávida do Altíssimo.
Mas, depois da guerra, mesmo ele se viu obrigado, para sobreviver, a permitir que o mundo moderno passasse a fronteira, embora lentamente e por uma frincha. E o mundo moderno desorganizou o Portugal manso e miserável que ele com tanta devoção construira. O preço que pagámos pela ditadura desse provincianismo mesquinho é incalculável .

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