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segunda-feira, abril 19, 2010

ASSESSORIA POLITICA NO SÉCULO XV - “O PRINCIPE”

Toda a gente sabe quão louvável é, para um principe, honrar a sua palavra e viver com integridade e não com astúcias; todavia, a experiência do nosso tempo ensina-nos que os príncipes que pouco tiveram em conta a palavra dada e souberam astuciosamente ludibriar os espíritos dos homens fizeram grandes coisas e acabaram por superar aqueles que se apoiaram na lealdade.
Deveis, portanto, saber que há duas formas de combater : uma, com as leis, a outra, pela força; a primeira é própria do homem; a segunda é própria dos animais; todavia, como, em muitos casos, aquela não basta, há que recorrer a esta. Por isso, um principe precisa de saber ser animal e homem.
(...)
Já que um principe precisa de saber usar a sua natureza animal, deve escolher a raposa e o leão; como o leão não se defende das armadilhas e a raposa não se defende dos lobos, há que ser raposa para descobrir as armadilhas e leão para amedrontar os lobos. Os que querem fazer apenas de leão não conhecem a arte de governar. Por conseguinte, um senhor prudente não pode, nem deve, honrar a palavra dada se isso se voltar contra ele e se os motivos que o levaram a fazer promessas deixaram de existir. Se os homens fossem todos pessoas de bem, tal preceito não seria bom, mas, como são maus e não honrariam a palavra que te dessem, também não deves honrara a que lhes deres.
Nunca a um principe faltaram motivos legítimos para colorir as inobservâncias. Poder-se-ia dar inúmeros exemplos recentes, e mostrar quantas pazes, quantas promessas foram feitas em vão e invalidadas pela deslealdade dos principes, e que quem melhor souber agir como a raposa, maiores êxitos obteve. Contudo, há que saber disfarçar bem essa faceta e ser grande simulador e dissimulador : os homens são tão ingénuos e tão conformados com as necessidades presentes que quem engana encontrará sempre quem se deixe enganar.

Maquiavel, in “ O Principe” , Capítulo XVIII - “De que modo deve o Principe honrar a sua palavra”

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