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sábado, março 27, 2010

A VISÃO ECONOMICISTA E A VIDA QUE HÁ PARA ALÉM DE TUDO
Embalado pelo calor da assistência, que o ouvia fascinada pelo timbre da sua voz, Manuel Alegre recitou ontem em Beja a sua habitual litania na qual entra quase sempre a "denúncia" da “visão economicista”. Cliché que fica bem usar. Dá sempre um toque de charme e de pessoa de cultura a quem o usa . Acrescentou que havia “vida para além do PEC...” , citando Jorge Sampaio ( o “seu amigo”, como faz questão de enfatizar...) que aqui há uns anos usou irresponsavelmente boutade semelhante, não com PEC mas com “défice” .
Claro que deve ter recebido aplausos e vozes de “muito bem” da selecta audiência. Além de aplausos fáceis, tais belas frases também costumam dar votos, cumpre lembrar.
Quem assim falou é um grande poeta, com a barriga bem confortada dentro do seu blazer azul com botões prateados, com boas reformas, e sem necessidade de se preocupar muito com o seu futuro.E o que tão bem diz serve de inspiração. Por exemplo, para umas cenas como estas .
Um desempregado entra num restaurante. Pede a ementa e consulta-a. Escolhe o prato mais baratinho, uns 6 ou 7 euros. O dono interpela-o : então o senhor só vai comer isso? Claro, responde o desempregado, tenho apenas um reduzido subsídio, tenho dividas ao banco, tenho que ser muito cuidadoso nas minhas despesas. Ao que o empregado do restaurante lhe responde : Oh homem, não tenha uma “visão economicista” !...escolha um prato melhor, olhe que “há mais vida para além da dívida”!...
Um trabalhador de uma fábrica com salários em atraso pára diante de um stand de automóveis, admirando um carrito novo em folha que ali está exposto. O dono do stand convida-o a entrar etenta-o a comprar o carro. Está louco?..diz o trabalhador. Ainda não acabei de pagar o carro que tenho, comprado em terceira mão, tenho a dívida da casa para pagar ao banco... e o senhor está a sugerir-me que compre um carro novo?... Responde-lhe o vendedor : oh homem, não tenha uma “visão economicista”!...olhe que “há mais vida para além da dívida” !....
Os donos do restaurante e do stand de automóveis deviam ser poetas. Não sei, sou eu a presumir...

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