<$BlogRSDUrl$>

domingo, janeiro 03, 2010

LIVROS ELECTRÓNICOS, LIVROS EM PAPEL

Li numa edição do PUBLICO de há uns dias uma notícia com o seguinte título :

“Amazon vende pela primeira vez mais livros electrónicos do que em papel no dia de Natal”

Do corpo da notícia, destaco o seguinte excerto :

“O ano de 2009 foi de viragem no mundo dos livros electrónicos e está a acabar bem para a empresa que mais trabalhou na promoção desta tecnologia : no dia de Natal, pela primeira vez, os clientes da Amazon compraram mais livros electrónicos do que em papel.
(...) o Kindle ( o mais conhecido leitor de e-books no mercado) foi o produto mais vendido durante a quadra festiva, um fenómeno para o qual terá contribuido o facto de a empresa ter avançado recentemente com a possibilidade de se encomendar o aparelho praticamente de qualquer país do mundo, incluindo Portugal (...) “

Esta leitura trouxe-me à memória e à reflexão o que li, há 40 anos, num artigo de Óscar Lopes (co-autor, com António José Saraiva ,de uma inesquecível História da Literatura Portuguesa, um verdadeiro livro de referência para os estudantes das décadas de 50 e de 60) publicado numa edição da revista Vida Mundial de 1968 :

“… e tanto o livro como a imprensa periódica, já tão transformadas hoje pela concorrência da televisão, ainda mais se transformarão quando se constituírem circuitos de teleimpressão com receptores domésticos e cadeias de ordenadores que sejam autênticos bancos de informação, momento a momento actualizados (…). Em vez de, como actualmente, se requisitarem microfilmes de uma edição rara à biblioteca é de presumir que eles venham a ler-se num ecran doméstico, por transmissão praticamente individualizada, e mediante canais de altíssima frequência, cujo emissor seja uma “memória” de gravações, talvez satelitizada no cosmos, e equivalente a um múltiplo arquivístico das actuas bibliotecas do Congresso dos E.U.A e Central de Moscovo.
Será isto a morte do livro? Talvez, mas então será a morte com ressurreição e glória, Tanto faz que a escrita seja ainda alfabética, espectro-gráfica ou ideográfica. O que não creio é que a leitura e reflexão em sossego ceda a lugar a uma simples massificação social de reflexos condicionados pela imagem”.

Assinale-se a lucidez, a visão e a capacidade premonitória de Óscar Lopes. Apenas se terá enganado um pouco quando escrevia não acreditar que “ a leitura e reflexão em sossego ceda lugar a (...) massificação social de reflexos condicionados pela imagem” .

Para já, o consumo mundial de papel destinado a suporte de escrita e comunicação, não tem parado de crescer, bem acima dos níveis dos cresimentos dos PIB’s. Em 2006, as produções desta classe de papel aumentaram, relativamente ao ano anterior, de:
- + 4,0 % na União Europeia;
- + 13,2 % no Oriente.

No mundo inteiro, a produção de papel aumentou no mesmo período de + 2,2 %.
Em Portugal , o consumo de papel “per capita” era de uns 8 kg em 1956, passando para cerca de 20kg em 1969, e sendo actualmente de cerca de 120 kg. Há 40 anos, a Suiça tinha um consumo “per capita” de 128 kg, e os Estados Unidos de cerca dos 330 kg.

Não deverá ser ainda para as próximas duas a três décadas. Mas é possível que, depois, o paradigma da utilização do papel como suporte de comunicação comece gradualmente a desaparecer. Já cá não estarei para o confirmar.
De qualquer modo, será algo que deverá ficar à atenção e à análise dos especialistas das previsões e dos economistas portugueses para a segunda metade do século XXI . Para que então não venha a suceder com a indústria papeleira nacional aquilo que, no final da primeira década do mesmo século, aconteceu à indústria textil . A qual, pelos anos 60 do século XX, era responsável por mais de 30% das exportações nacionais. E sabe-se como está hoje.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?