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segunda-feira, setembro 21, 2009

UM FUTURO PRÓXIMO AINDA MAIS SOMBRIO

Nos últimos dias passei somente de raspão pelas notícias desta história. O EXPRESSO chamou-lhe o “sillygate” . Marcelo Rebelo de Sousa diz que se trata de um “equívoco ridículo”. Parecem minimizar a gravidade dos impactes que irá causar na vida político portuguesa, tornando o próximo futuro ainda mais sombrio. Pela minha parte, o caso reveste contornos extremamente preocupantes, susceptíveis de afectarem ainda mais negativamente a imagem das instituições políticas democráticas, a começar agora pelo próprio Presidente da República.
Desde logo, são 3 casos num .

1º caso
Um jornal diário (o DN) publica cópia de correspondência interna de outro colega da imprensa (o PUBLICO), obtida por meios ilícitos. Ou seja, fazendo uso de coisa roubada. É comportamento muito semelhante ao que os media portugueses costumam reiteradamente adoptar publicando notícias de situações em segredo de justiça, por exemplo. Já estamos habituados : vale tudo. O nível médio de cumprimento , por parte dos jornalistas portugueses, dos seus deveres deontológicos, estava já abaixo de cão. Vai ficar ainda mais abaixo.

2º caso
Há acusações de que os serviços da Presidência da República estarão sob escuta. O director de um diário, cujo provedor dos leitores se interroga se não terá uma “agenda política oculta” (Nota 1), chega mesmo a dizer que a publicação de correspondência interna pelo outro seu colega só poderá dever-se à existência de intrusões feitas pelos serviços secretos. Tudo ao bom estilo dos filmes de espionagem dos tempos da guerra fria. O caso, tal como tem sido contado, com um sujeitinho a sentar-se nas mesas de assessores do Presidente da República, num qualquer jantar nas muito democráticas terras de Alberto João Jardim, tem aspectos caricatos e de grande ridículo. Todavia, assumiria ou assumirá muita gravidade se, depois de devidamente investigado, for confirmada a sua veracidade. O Presidente da República anunciou que ia esclarecer a coisa depois das eleições. Logo veremos. Pelas notícias vindas a público, já o poderia ter feito há muitos meses.

3º caso
Este é de enorme gravidade, é o mais grave, de momento. Um jornal diário (o DN)faz uma acusação gravíssima ao Presidente da República. Nada mais nada menos que ele fez baixa intriga política, mandando um seu assessor (Fernando Lima) mexer-se nos meandros do baixo jornalismo, das fontes anónimas, do tráfego de informações e de denúncias. A toda a primeira página, exibe o título “ Assessor do Presidente encomendou caso das escutas” . Nos Estados Unidos, ou em qualquer paiís da União Europeia, uma notícia daquele tipo causaria um terramoto político.
Todavia, quero ainda acreditar que tudo aquilo será falso. Mas o que faz ou diz o Presidente da República?. Nada, de momento. Anuncia que dirá mais tarde.
Ora o que eu esperaria, já, imediatamente, era uma de duas coisas. Que o acusado assessor fizesse uma declaração negando, radical e formalmente, a notícia de que se tinha encontrado com o jornalista do PUBLICO, que lhe tenha entregue um dossier, e que lhe tenha pedido para “passar” a notícia ao PUBLICO.
Ou então, não podendo o assessor fazer esse desmentido, que o Presidente da República fizesse uma declaração negando, radical e formalmente, que alguma vez tivesse dado instruções a esse assessor para fazer aquilo de que é acusado. Ao que se seguiria, inevitavelmente, a notícia da demissão do tal assessor.
Nada disto foi feito. O PR remeteu a sua reacção para depois de 27 de Setembro, não sem que antes tenha sibilinamente feito referência a umas alegadas questões de “segurança”, sob a justificação de não querer interferir na campanha eleitoral.
Não consigo entender, de todo, o que é que um dos possíveis claros desmentidos, acima referidos, tivesse a ver com qualquer interferência na vida político-partidária ou na campanha eleitoral . Tratar-se-ia apenas de defender o bom nome e o prestígio da figura do Presidente da República.
Tendo votado em Cavaco Silva, e feito campanha para a sua eleição, devo confessar que estou decepcionado e preocupado com a sua actuação. Para já, lamentavelmente desastrosa.

E estou ainda mais preocupado com as consequências que essa actuação possa vir a ter depois de 27 de Setembro, prevendo um futuro próximo ainda mais sombrio do que aquele que possivelmelmente resultará apenas da falta de uma maioria parlamentar estável .


Nota 1
Ler a este propósito a longa análise do Provedor do leitor , Joaquim Vieira, publicada na edição do PUBLICO de ontem.

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