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terça-feira, setembro 08, 2009

ASFIXIAS ASFIXIANTES

A “verdade" do slogan não resiste a estas coisas. Depois de impor arguidos nas listas por Lisboa, Ferreira Leite foi à Madeira elogiar a governação de Jardim. Quando falar de “asfixia democrática” de Sócrates, a líder do PSD tem que ser recordada da da Madeira, bem mais grave.

(in “Sobe e desce” do PUBLICO de hoje)

A expressão “asfixia democrática” entrou no jargão politiquês do actual debate político. Não há gato sapato que a não use agora, a torto e a direito. Temos um adjectivo, democrática, a qualificar um substantivo, asfixia. Mas a associação entre os dois termos não faz nenhum sentido e é um rematado disparate. Tal como o seriam as eventuais expressões de “asfixia verdejante” ou “asfixia desportiva”... Só em poesia surrealista se poderão entender.
Do que se poderá falar, isso sim, quando a houver e for realmente sentida, é em “democracia asfixiada” ou em “democracia asfixiante” . Vou para o efeito criar uma sigla : RDA , que quer dizer “regime de democracia asfixiada”.
Poderá ser ligeiramente ou mais gravemente asfixiada. Dentro desta baliza, entre o ligeiro e o grave, em escala variável, e devido a atavismo cultural de que a sociedade portuguesa ainda se não libertou, existem RDA’s em muitos e muitos Municípios portugueses. Por exemplo, num RDA municipal, uma forma discreta de calar um orgão da imprensa local, é a Câmara Municipal deixar de o usar para publicidade institucional ou marginalizando-o para informação ou em eventos institucionais. Todos estaremos lembrados do que aconteceu ao semanário figueirense “A Linha do Oeste”, nos gloriosos tempos de Santana Lopes na Câmara da Figueira da Foz. Outros exemplos se poderiam dar.
A acusação de actualmente haver um RDA em Portugal, quanto a mim, é completamente disparatada. Só poderá entender-se enquanto arma de arremesso politico, em tempos de campanha eleitoral. O seu uso excessivo e despropositado, como o faz a líder do PSD, terá efeitos contrários ao que pretende. O eleitor médio não é estúpido, como por vezes o querem fazer crer.
Um RDA existe, isso sim, sem sombra para dúvidas, e como é reconhecido da esquerda à direita, é na Madeira, onde Alberto-João Jardim implantou um dos mais nepotistas sistemas sociais que alguma vez o regime democrático português conheceu. E onde se permite usar um discurso rasca e trauliteiro que, por exemplo, faria córar de vergonha Sá Carneiro.
Ferreira Leite nega a existência desse RDA. Fica-lhe muito mal e não a qualifica como tendo sentido de Estado . Pior ainda. Ao apontar o RDA da Madeira como “ um bom exemplo do bom governo do PSD” leva um eleitor a acreditar que esse RDA é o seu modelo de governo, e que por isso teremos em Portugal um RDA similar caso o partido de que é lider venha a constituir governo. Se non è vero, è bene trovato...
Pela minha parte, fico menos asfixiado. Sim, menos asfixiado pela angústia que atormentava o meu espírito. Cada vez mais o sentido do meu voto nas eleições legislativas se vai tornando mais claro e menos duvidoso. Orientado pelo princípio da exclusão de partes e pelo mal menor. Como aliás sempre o fiz quando exerci o meu dever de votar.

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