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quarta-feira, agosto 12, 2009

O MELHOR É (ERA) MUDAR JÁ...

Lendo e ouvindo notícias e comentários sobre o vendaval de turbilhões por que passa a secção do PS da Figueira da Foz, fui remexer nalguns papeis que guardo. E deu-me hoje para contar uma história , de grande oportunidade e actualidade, acho eu.

Foi nos idos dos anos 80. Em Janeiro de 1985 ( Deus meu...ja lá vão 25 anos!...) houve eleições para os corpos dirigentes da Secção do PS da Figueira da Foz. Começaram por se apresentar duas listas. A lista A, sob o lema “ Acção e Vitória! “ , propunha Aguiar de Carvalho para Presidente da Mesa da Assembleia Geral . E para o Secretariado nomes como Carlos Beja, Herculano Rocha, Salvador Mamede, Vítor Brás, José Elíseo de Oliveira e Carlos Alberto Gonçalves, entre outros. Todos eles exercendo na altura cargos autárquicos ou lugares no aparelho partidário local.

Em confrontação com esta lista A, formou-se uma outra propondo o meu nome para Presidente da Mesa da AG, juntamente com Oliveira Miranda e Julieta Craveiro Paiva. Para o Secretariado, propunha Franklim Ramos Gaspar, Joaquim Barros de Sousa, António Ramos, Fernando Fontes, Mota Ascenso, Luís Ratinho, Rosa Monteiro, Borronha Gonçalo e Antero Fonseca. Alguns já partiram para a viagem de onde não se retorna .
Esta última lista não chegou a ir até ao acto eleitoral, que de resto seria por ela impugnado junto da Comissão de Conflitos de Coimbra. Foram várias as tropelias e vicissitudes que se seguiram, dando origem a um processo verdadeiramente “kafkiano”. A sua narrativa mais detalhada e documentada fica para outra oportunidade. Não cabe no acanhado espaço de um blogue. Deixo de momento o manifesto eleitoral que então aquela lista apresentou, sob o lema de “ O melhor é mudar já... “
Rezava assim :

Porquê e para quê, agora, nos tempos dificeis que Portugal e o PS atravessam, uma candidatura de confrontação e de alternativa aos actuais titulares dos orgãos locais do Partido Socialista ?
Em poucas palavras, que da sua abundância estamos já todos cansados, adiante deixamos algumas das nossas razões .

1 . No que acreditamos :
- que, mau grado os seus erros ou omissões, a má imagem de alguns dos seus dirigentes, e certos aspectos negativos da sua prática política, o PS conserva potencialidades suficientes para, no poder ou na oposição, ser fermento ou protagonista de um processo de transformação e modernização da sociedade portuguesa ;
- que o interesse da colectividade, local ou nacional, se sobrepõe sempre aos interesses particulares de grupo, ou de Partido, e que, na sua acção politica concreta, o PS não os pode misturar, e tem de prestar estricta obediência à hierarquia daqueles interesses.

2 . O que desejamos :
- que, sem descabidos complexos de esquerda, o PS actualize e modernize uma parte do seu ideário, arrumando nas prateleiras da História dogmas e axiomas tornados obsoletos pelas transformação tecnológicas, económicas e sociais operadas nas sociedades avançadas e democráticas;
- que, na sua acção política concreta, a nível nacional e local, o PS possa servir como referencial de rigor na prática governativa, de seriedade no discurso político, de serenidade no diálogo, de probidade nos processos, de limpidez no comportamento ;
- que o PS dê execução às suas propostas programáticas, no poder ou na oposição, à escala nacional e local, através de uma classe política não profissionalizada nem agarrada ao poder, e que o povo português possa fácilmente distinguir das classes políticas das outras forças partidárias ;
- que o PS não sirva nem possa servir de trampolim de ambiciosos em mais altos voos, nem de trapézio voador para oportunistas de passagem, nem de fonte de apadrinhamentos, nem ninho de acolhimento de “lobbies” económicos ou de grupos de pressão.

3 . Ao que nos propomos :
- dar expressão, no quadro de um salutar debate interno no PS, aos sentimentos de desânimo, frustração e até algum desespero que, quer à escala nacional, quer à escala local, atingem cada vez maior núnero de portugueses e de eleitores socialistas ;
-pelo exercício de uma acção política orientada por preocupações de realismo, de isenção, de sentido das proporções e de transparência, construir uma imagem do PS capaz de, sem promessas demagógicas e sem alimentar expectativas fantasistas, adquirir, a nível local, credibilidade politica e adesão popular ;
- na altura oportuna, apresentar uma candidatura aos orgãos dirigentes do Município a que, o PS primeiro, e o eleitorado depois, possam atribuir o sentido e uma proposta de mudança.

A mudança, necessária, imperiosa, desejada, tem de ser procurada sem se perder mais tempo.

E por isso, o melhor é mudar já!...


Cabe juntar um detalhe muito delicioso.
No acto eleitoral homólogo realizado na Secção do PS em Janeiro de 1984, o caderno eleitoral usado tinha 140 inscritos. Nas eleições acima referidas, em Janeiro de 1985, o caderno eleitoral apareceu com 390 inscritos . A grande maioria das novas inscrições ocorreu nos últimos dois meses de 1984. Um verdadeiro milagre de multiplicação dos pães

Desde há 25 anos, muita coisa aconteceu, muita água passou sob as pontes dos rios. Nem sempre límpida , como também o não era nesses tempos dos idos dos anos 80. Mas continua a passar água, nem sempre límpida.
Com um “copy paste” e algumas adaptações menores, de circunstância, quer-me parecer que aquele manifesto poderia ainda hoje servir para uma candidatura que se ambicione de ruptura. Enfim, se alguem quiser utilizar o espírito e o texto, não pagará direitos de autor...

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