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sexta-feira, agosto 14, 2009

A ESCOLHA DO CANDIDATO E DA LISTA DO PS LOCAL PARA A CÂMARA DA FIGUEIRA

A escolha do candidato do PS à Câmara da Figueira da Foz (CMFF) foi feita por votação secreta na respectiva Comissão Política Concelhia (CPC) . Mandam, ou creio mandarem assim as regras internas do PS, que não aquilo que deveriam ser as boas práticas da vida partidária de um partido democrático. Mas adiante. A CPC estava assim com poder para fazê-lo, e fê-lo. A escolha foi muito má, por razões que já aduzi por mais de uma vez, e como é minha avaliação de eleitor partidáriamente independente . De resto, feita muito antes de ter havido todas as trapalhadas, azedas reacções, abandonos, recriminações, a que se assistiu nos últimos dias. Isso é todavia outro domínio de discussão.
Uma vez escolhido o candidato, restava escolher a equipa com a qual se propõe trabalhar, se for ele o escolhido para Presidente da CMFF .
Básicamente, podemos considerar que haveria dois métodos para fazer essa selecção.

Método 1
Os elementos da sua futura equipa são da sua exclusiva e potestativa escolha. Para isso recebe carta branca da CPC. Ele escolhe, e a CPC , que previamente lhe concedeu esse poder, terá de aceitar a selecção feita. Se querem, querem, se não querem escolham outro candidato para Presidente. E ponto final .

Método 2
Os elementos da futura equipa são, todos eles, seleccionados pelos responsáveis da CPC, e por esta previamente aprovados, por votação secreta. Se o candidato aceita, muito bem. A lista de candidatos fica completa, vai a votos, e todos ficam felizes. Se não aceita, de duas uma :
ou deixa de ser candidato, ou requer que a CPC apresente outra equipa/lista

Este método 2 tem uma variante. Chamemos-lhe 2B. O candidato escolhe uma lista/equipa e apresenta-a à aprovação da CPC . Esta variante, porém, é totalmente equivalente ao método B . Em tese, pode acontecer que uma lista/equipa escolhida pelo candidato vá a votação na CPC, e esta o chumbe, exigindo outra composição. O candidato, ainda em tese, prepara uma nova lista/equipa, torna-a a levar à votação da CPC , e esta torna a chumbá-la . A liturgia pode prolongar-se por aí fora, até eventualmente a CPC acabar por aprovar uma proposta. O resultado final é que, realmente, quem escolhe a lista/equipa acaba por ser a CPC .

É claro que há possíveis metodologias intermédias, envolvendo negociação, diálogos, consultas, procura de consensos, entre as estruturas do aparelho partidário e o candidato. Este teria então de ter a capacidade, a sabedoria e a arte para usar essas metodologias . Sem abdicar porém do seu poder e do seu dever de ser ele a escolher e/ou aceitar a equipa com quem vai trabalhar. Não sei se há quem pense que alguém prudente e responsável aceite orientar, dirigir e ser responsável pelo trabalho de uma equipa que lhe foi imposta e metida pela goela abaixo. Se pensa, ou pensou, pensa mal ou pensou mal.

Falta saber o que ficou realmente acordado entre a CPC e o candidato, quanto à selecção da equipa com que iria trabalhar . Ficou acordado o método 1 , o método 2, ou alguma das variantes deste ? Ou simplesmente não terá ficado nada assente e acordado, e terá tudo ficado no vago, no género “porreiro pá..depois logo se vê, aqui a malta depois cozinha as coisas e o pessoal da CPC aceita, não te preocupes meu...” . Numa trapalhada, enfim .

Se ficou acordado o método 1 , então a CPC não se poderá queixar se o candidato acaso tivesse feito finca pé e dissesse que é assim ou não é candidato. Em abono da verdade, afinal foi ele próprio que declarou à imprensa que “ a elaboração da lista para a Câmara é um exclusivo meu” . Por outro lado, não se percebe como é que, sendo assim, o candidato aceitou a sujeição da sua equipa/lista a votos, no seio da CPC , a mesma que lhe terida dado carta branca.

Se, pelo contrário, ficou acordado o método 2, ou alguma das suas variantes, então o candidato teria de aceitar, de bom grado, o seu dever de apresentar uma nova equipa/lista à apreciação da CPC. O que sucedeu porém foi que, depois depois de “conversações” com dirigentes da CPC (para que estes foram mandatados através de nova votação), e o todo poderoso e influente Presidente distrital do PS, a equipa/lista ficou exactamente na mesma.
O que muito menos se percebe. Enfim, perceber-se-à que nada disto é para perceber.


Como já tive oportunidade de sublinhar, os eleitores comuns, sem filiação ou ligação partidária estreita, os que decidem os resultados de uma eleição autárquica, escolhem os seus autarcas quase sempre ao arrepio de qualquer julgamento e classificação dos candidatos na tradicional grelha ou quadro ideológico-político-partidário. Pela minha parte, não sei muito bem o que será isso de “governação municipal de direita” ou de “governação municipal de esquerda” . O mesmo creio suceder com os tais “eleitores comuns” . Maria José Nogueira Pinto, por exemplo, não sendo embora uma “eleitora comum” e sendo manifestamente de direita, já afirmou, preto no branco, que votará em António Costa para Presidente da Cãmara de Lisboa.
A avaliação feita com recurso à ideologia, ao posicionamento dos partidos e dos seus candidatos no leque esquerda-direita, ou progressista-conservador, continua a fazer sentido, sim, para a eleição do Parlamento e, indirectamente, para a escolha do Governo nacional, por cujo desempenho político passam as decisões determinantes do escala do Estado Social, por exemplo. Mesmo a esse nível, não deixam de também avaliadas pelos “eleitores comuns” , com muito peso, aspectos ligados ao comportamento pessoal, ético e de carácter dos candidatos a Primeiro-Ministro

Tenho visto muitos e muitos autarcas eleitos pelo PS pautarem-se por comportamentos éticos condenáveis, conduzirem políticas urbanísticas desastrosas, assumirem atitudes de cedência a tráfegos de influência, a interesses de negócios imobiliários, a gulosos grupos económicos . Poderei referir, a título de mero exemplo, o exemplar caso de Mesquita Machado, o dinossáurico autarca de Braga, possivelmente tido e achado por muito boa gente de “esquerda” como sendo fiel ao “ideário socialista” .

Por isso, deixam-me perplexo, por achar que não fazem qualquer sentido, certas declarações lidas ou ouvidas , sobre o caso concreto da lista do PS à CMFF , exprimindo indignação por “ter havido desprezo pelos militantes do ideário socialista” , ou por terem sido “escolhidas pessoas que nunca ninguém viu a defender a doutrina socialista”. Ou invocando como condição para se ser candidato numa lista do PS à autarquia a sua “adesão aos princípios da esquerda democrática , consagrados no seu programa” e até, imagine-se, terem lido previamente o dito programa.
É que, em meu entender, e no caso em apreço, não é nada disso que está em causa. Só o estaria numa visão redutora e distorcedora do papel dos partidos na vida Política (com P maiúsculo..) democrática. Visão que , infelizmente, está mais espalhada do que deveria no seio dos partidos, para seu mal e seu desprestígio. Visão que releva de uma propensão para uma “partidoclubite” indesejável e sem sentido, à escala da política local ou da nossa proximidade. Quer seja do nosso condomínio, da nossa freguesia ou do nosso município.

O que está em causa, por tal ser o que o “eleitor comum” cura de saber, isso sim, é o perfil pessoal de quem vai mandar. Do seu carácter, do seu currículo, da sua experiência, da sua competência, do seu comportamento ético, da sua capacidade de gestão e de relacionamento com os outros, do estilo da sua liderança . E, naturalmente, de qual é a equipa com quem vai trabalhar.
É por esta perspectiva, e não pela “partidoclubítica”, que se poderá chegar, como parece chegar-se em parte no caso vertente, à perplexidade, e até à indignação (em certos espíritos mais propensos, e muito bem, a dar valor a aspectos da ética política), provocadas pela composição da equipa/lista apresentada e finalmente “aprovada”. A bem da clareza do debate político, conviria no entanto distinguir bem as duas perspectivas.

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