<$BlogRSDUrl$>

sexta-feira, julho 31, 2009

O PROGRAMA ELEITORAL

Com pompa e circunstância, o PS apresentou o seu programa eleitoral. São 110 páginas de texto. Mais duas páginas de índice e oito a separarem os capítulos. Na versão de suporte em papel, um desperdicio.
Assim a jeito de mero palpite, creio que hoje em dia nem 0,1% do eleitorado lê programas eleitorais. Isso faz cerca de 7 a 8 mil eleitores . Número que incluirá umas poucas dezenas de jornalistas e comentadores políticos, e mais uns tantos elementos do aparelho partidário, para não ficarem mal vistos pelos chefes. Daqueles 7 a 8 mil, haverá dois mil, se tanto, que poderão determinar o seu sentido de voto pela leitura dos programas dos partidos.
Eu li-o, muito muito em diagonal, mas li-o, passando todavia por cima da grande quantidade dos habituais clichês e frases feitas. Mesmo em diagonal, gostei muito de o ler. Está muito bem escrito, com palavras bonitas e frases apelativas. Os que o prepararam e subscrevem, devem ser pessoas com muita fé, determinadas, generosas, solidárias, com muito bom coração. É um programa muito bom. Estou obviamente de acordo com quase tudo. É tudo para bem do povo.
Fico agora a rezar aos deuses para que o País, o Estado e o Governo consigam meios e recursos financeiros para tudo aquilo poder ser concretizado e levado à prática.

Quatro comentários adicionais, agora sem mais ironia .

1.
Não vislumbrei em nenhuma parte do seu texto uma palavra, uma expressão, uma frase da qual se pudesse deduzir uma mensagem aos portugueses de que os tempos que aí vêm vão ser dificeis ; que vai ser necessário produzir e trabalhar mais e melhor ; que novos sacrifícios virão, mesmo se já no imediato se atenuar ou evaporar de todo a recessão global; que vai ser imperioso reduzir de novo o défice orçamental do Estado; que vai ser indispensável e penoso reduzir o nivel de endividamento do País. Não se trata de “semear o medo” ou “falar a linguagem do pessimismo e da descrença”. Mas tão só falar a linguagem da verdade nua e crua. O que aliás deve e pode perfeitamente ser feito num registo mobilizador e de esperança . Assim do género : se produzirmos e trabalharmos mais e melhor, se soubermos ser serenos perante os sacrifícios e as dificuldades, se soubermos utilizar bem as nossas capacidades, que as temos, então venceremos os desafios que vamos enfrentar e a médio-longo prazo ficaremos melhores, menos pobres e menos dependentes.

2.
O calamitoso e desacreditado estado da Justiça (leia-se sistema judicial) é actualmente o problema mais grave de Portugal. Bloqueia e condiciona a evolução da sociedade portuguesa e a melhoria da sua situação económica ; cria desconfianças e dificuldades nas relações interpessoais e nos comportamentos ; atemoriza os investidores ; fragiliza ainda mais os que já são fracos.
Pois no programa eleitoral a questão da justiça não é colocada como a prioridade das prioridades. É timidamente remetida para o penúltimo capítulo, a páginas 97, com frases tão anódinas como “ O PS pugna por uma justiça que seja vista pelos cidadãos mais como serviço do que como poder” , “ O PS no Governo continuará a aperfeiçoar os moldes institucionais e organizativos em que funciona a Justiça”. E outras imbuidas de muita piedade, assim do género : “ As sentenças, sem prejuizo da necessária fundamentação, devem ser de dimensão razoável, cumprindo definir normativamente regras que evitem os excessos e promovam a simplicidade”. Ora o que importava era manifestar a intenção e o objectivo de fazer uma verdadeira “re-engenharia” de todo o edifício do sistema judicial português. Porventura indo mesmo a uma profunda alteração da cultura jurídica vigente, anquilosada, bolorenta , palavrosa, escolástica, majestática. E metendo desde já as magistraturas judiciais na “ ordem “ democrática.

3.
Francisco Louçã tem alguma razão quando acusa o programa de PS de deixar muita coisa escondida e sobre a qual o eleitorado deveria ser esclarecido. É o caso das intenções do Governo em prosseguir ou não a política de privatizações indiscriminadas de actividades ligadas á satisfação das necessidades básicas das pessoas, como sejam por exemplo o transporte e o fornecimento de energia eléctrica, o abastecimento de água e o saneamento básico, o transporte ferroviário. São actividades exercidas praticamente em regime de monopólio. Por conseguinte, a exclusividade da sua posse (directa ou indirecta) e do seu controlo por parte do Estado, não fere minimamente os sãos principios da concorrência, nem da economia de mercado. O PS propõe ou não passá-las para o domínio privado? Era algo que deveria ser referido no programa.

4.
Na parte dedicada à Educação ( Capítulo II-páginas 47 a 50), perdida no meio de um longo texto de uma alínea e), é prometida, timidamente, a “ (...) promoção activa, junto das escolas e dos professores, de uma atitude de exigência e responsabilidade, capaz de fixar metas ambiciosas (...) “.
É pouco, é muito pouco, é quase nada, relativamente à mensagem que era indispensável ter deixado, com muito maior ênfase, de que o ensino e o estudo ( o programa refere-se quase sempre a “aprendizagem”...) se têm de tornar cada vez mais rigorosos e exigentes ; e de que se iria, de uma vez por todas, deslastrar o aparelho do Ministério da Educação de toda a tralha e ganga de “eduquês” e de pós-modernices pedagógicas que por lá deambulam. Mas parece que sobre isto vai continuar tudo na mesma.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?