segunda-feira, julho 13, 2009
CARTA DE ESTRATÉGIA... ELEITORAL
Confesso ter por vezes tentações para entrar também no coro da deprimente ladainha de que “este país está uma desgraça”, “ a política é uma choldra” e “os políticos são todos iguais”...
Uma dessas ocasiões foi quando ontem dei de caras com uma folheto da Câmara Municipal de Lisboa distribuída com a edição do PUBLICO do dia.
Desta feita, não é um “plano estratégico” . Chama-se o documento uma “carta estratégica Lisboa 2010/2024”, nome igualmente bonito e bem sonante. É constituido por 16 páginas, em bom papel couchê, repleto de texto e bonequinhos no melhor estilo “politiquês” e “consultês” . Nem meia dúzia de cidadãos lisboetas terão tido a pachorra de o lerem. Sobretudo porque o folheto, preparado por uns ilustres senhores comissários e comissárias, e lançado a escassos 3 meses das próximas eleições autárquicas, é obviamente um descarado instrumento de campanha eleitoral, pago com dinheiros do Município lisboeta. Uns centésimos de cêntimo vêm do meu bolso.
O texto da insigne “carta estratégica” termina com este ditirâmbico texto :
“Lisboa definir-se-à pelo exemplo no exercício da cidadania, da oportunidade e da sustentabilidade. A sua alma múltipla pulsará mais forte. E o bulício da cidade conviverá com o sussurro dos seus recantos únicos, as ondas do Tejo requebrar-se-ão nos cais de Lisboa, as redes electrónicas ligá-la-ão aos afazeres do globo. Lisboa será descoberta. E os lisboetas sonharão com o futuro. Será assim em 2024.”
Pois é...Sucede que os lisboetas, certamente como os figueirenses, desejam e exigem mas é ter, agora e não só em 2024, coisas tão prosaicas como espaços públicos limpos e sem lixos, passeios confortáveis, prédios não degradados, segurança nas ruas, pavimentos em bom estado, paredes sem grafitis, centros urbanos povoados, câmaras municipais que sejam pessoas de bem e a pagar a tempo e horas, e outros desejos desta trivial natureza. Que talvez os “ políticos sonhadores” achem impróprios das suas superiores visões e sonhos. E para cuja execução não são precisos “planos estratégicos” ou “cartas estratégicas”, eleitoralmente oportunistas.
PS
Incluído na tal “carta estratégica” para Lisboa, está o delicioso boneco, acima reproduzido, cheio de bolinhas e setinhas, muito ao gosto de conceituados assessores e consultores da “gestão estratégica”. Darei um doce a quem mo souber ler e interpretar. Tem lindas palavras terminadas em “dade”, como está na moda : identidade, equidade, solidariedade, criatividade. Pelo meio do texto do folheto, descobrem-se outras , tais como “centralidade” e , vejam lá, não se riam,...”cumulatividade”...
(clicar nas imagens para as ampliar)