sábado, fevereiro 07, 2009
UMA EXPRESSIVA MÚSICA CELESTIAL
Sentindo-se provavelmente atingido pela condenação e pelo sentimento de náusea de uma parte mais esclarecida da opinião pública, o Expresso vem, no seu editorial de hoje, cantar uma lindíssima música celestial. Qual virgem ofendida, o autor do editorial começa assim : “ O Expresso não aceita ser tratado como parte de uma campanha contra quem quer que seja “. É a tese da cabala, requentada e desta vez virada contra o impoluto Expresso...Este mostra ter ficado realmente enxofrado! Um desaforo!
E mais adiante : “(...) o Expresso não beneficiou, senão muito secundáriamente (sic...) de qualquer informador no processo ou de qualquer fuga de informação”. Registe-se aquele relativismo patusco do “ muito secundáriamente” . Para a seguir confessar que “ as principais notícias que temos publicado sobre o assunto provêm de fontes identificadas ; e aquelas que são de fontes anónimas resultam, como é da nossa deontologia (sic...) de mais de uma fonte com interesses diversos e reportando factos e não opiniões”. Pois, aí temos as tais fontes identificadas, ou “anónimas”, ou “com interesses diversos”, que certamente o Expresso não revelará escondendo-se no sacrossanto ( e muito deontológico, pelos vistos...) direito de...as não revelar. O que dá para tudo, como se sabe.
Vêm depois comovedoras declarações . Como esta : “ Porque entendemos que a função da imprensa continua a ser uma nobre missão da qual também faz parte controlar os actos que são feitos em nome do povo e a que todos afectam” . Estaria certo se fosse assim tudo muito linear e límpido : o quarto poder a “controlar” o primeiro, o segundo e até o terceiro . Seria de facto uma nobre missão, não fora o facto de pelo meio se meter a realidade nua e crua desse quarto poder necessitar de ganhar dinheiro, de facturar, logo de vender e dar emprego a uns tantos cidadãos privilegiados. Ou seja : necessidades que justificam a propensão “tabloidista” a que nem o circunspecto e institucional Expresso escapa.
Sentindo-se provavelmente atingido pela condenação e pelo sentimento de náusea de uma parte mais esclarecida da opinião pública, o Expresso vem, no seu editorial de hoje, cantar uma lindíssima música celestial. Qual virgem ofendida, o autor do editorial começa assim : “ O Expresso não aceita ser tratado como parte de uma campanha contra quem quer que seja “. É a tese da cabala, requentada e desta vez virada contra o impoluto Expresso...Este mostra ter ficado realmente enxofrado! Um desaforo!
E mais adiante : “(...) o Expresso não beneficiou, senão muito secundáriamente (sic...) de qualquer informador no processo ou de qualquer fuga de informação”. Registe-se aquele relativismo patusco do “ muito secundáriamente” . Para a seguir confessar que “ as principais notícias que temos publicado sobre o assunto provêm de fontes identificadas ; e aquelas que são de fontes anónimas resultam, como é da nossa deontologia (sic...) de mais de uma fonte com interesses diversos e reportando factos e não opiniões”. Pois, aí temos as tais fontes identificadas, ou “anónimas”, ou “com interesses diversos”, que certamente o Expresso não revelará escondendo-se no sacrossanto ( e muito deontológico, pelos vistos...) direito de...as não revelar. O que dá para tudo, como se sabe.
Vêm depois comovedoras declarações . Como esta : “ Porque entendemos que a função da imprensa continua a ser uma nobre missão da qual também faz parte controlar os actos que são feitos em nome do povo e a que todos afectam” . Estaria certo se fosse assim tudo muito linear e límpido : o quarto poder a “controlar” o primeiro, o segundo e até o terceiro . Seria de facto uma nobre missão, não fora o facto de pelo meio se meter a realidade nua e crua desse quarto poder necessitar de ganhar dinheiro, de facturar, logo de vender e dar emprego a uns tantos cidadãos privilegiados. Ou seja : necessidades que justificam a propensão “tabloidista” a que nem o circunspecto e institucional Expresso escapa.
E quem controlará esse endeusado quarto poder? Deveria ser o terceiro, mas este, ineficaz e desacreditado no seu exercício assobia para o lado, e não o faz. O quinto poder ( não se trata deste blogue, obviamente...), o da blogosfera, é ainda fraco para tambem fazer esse controlo com eficácia. E também ele está algo desacreditado, convenhamos. Mas porque é um poder mais disperso, mais democrático e menos dependente do dinheiro e dos poderes e interesses económicos, tem potenciais condições para o fazer de forma mais eficaz. Bem..presunção e água benta, cada um toma a que quer...dirá o leitor....
Outra comovedora declaração é esta, verdadeiramente farisaica :
“O Expresso não tem, como é óbvio, a intenção de julgar (...) “ Ai não tem ? Ora então vejamos um “expressivo “ exemplo .
Na primeira página noticia, em sub-título : “Manuel Pedro destruiu documentos antes da busca” Assim mesmo. Como se fora já uma sentença inequivocamente condenatória, uma verdade e um facto provado e comprovado. Nem um suavisador “alegadamente”, nem o tempo verbal condicional, assim do género “teria destruido...” . Categóricamente, no particípio passado, sem margem para dúvidas e sem o “expressivo arguido” ter o direito ao contraditório.
Já no corpo da notícia, mas ainda na primeira página, o Expresso afirma mais, a jeito de um juiz que lê uma sentença. Que “ Manuel Pedro, um dos intermediários do negócio Freeport, foi avisado das buscas aos seus escritórios em 2005 (....) “. Como chega o Expresso a este inapelável juizo? Pois muito simplesmente: depois de ter ouvido dois testemunhos de ex-funcionários de Manuel Pedro. Cuja identidade o Expresso deverá obviamente esconder, em respeito do tal direito de não revelar as fontes. A Santa Inquisição não faria melhor .
Desenvolvendo as “notícias”, agora na página 14, já “informa” porém que o “ expressivo arguido” ordenou a destruição dos documentos “ indiciando (sic...) que terá sido informado previamente das diligências da PJ “ .
O Expresso bem pode colocar-se numa piedosa e inocentíssima postura e jurar pelos anjos que não tem intenção de julgar. Objectivamente julga. Na praça pública, e substituindo-se aos tribunais.