segunda-feira, fevereiro 16, 2009
DOIS ESTILOS
“(...)
Nesse mesmo dia, a televisão relatava em directo, a partir da Assembleia República, o debate sobre as questões económicas e, por inevitável consequência, o pacote de medidas tomadas pelo Governo. O que se viu era confrangedor. De envergonhar qualquer cidadão. Governo e partidos esganiçavam-se e berravam, insultavam-se mutuamente. Acusavam-se das piores selvajarias. Ninguém estava interessado em convencer ou esclarecer, fundamentar ou simplesmente reflectir. Todos se acham titulares de uma bula para dizer disparates e de uma dispensa de pensar.
(...)
Nem um só deputado, num total de 230, pensou em fazer um apelo ao entendimento, à cooperação entre alguns partidos, à convergência de esforços para encontrar soluções.
(...)
Aqueles deputados têm os mesmos reflexos, os mesmos comportamentos e a mesma visão do mundo que um bando de hooligans em claques de futebol.
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Nesse mesmo dia, a televisão relatava em directo, a partir da Assembleia República, o debate sobre as questões económicas e, por inevitável consequência, o pacote de medidas tomadas pelo Governo. O que se viu era confrangedor. De envergonhar qualquer cidadão. Governo e partidos esganiçavam-se e berravam, insultavam-se mutuamente. Acusavam-se das piores selvajarias. Ninguém estava interessado em convencer ou esclarecer, fundamentar ou simplesmente reflectir. Todos se acham titulares de uma bula para dizer disparates e de uma dispensa de pensar.
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Nem um só deputado, num total de 230, pensou em fazer um apelo ao entendimento, à cooperação entre alguns partidos, à convergência de esforços para encontrar soluções.
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Aqueles deputados têm os mesmos reflexos, os mesmos comportamentos e a mesma visão do mundo que um bando de hooligans em claques de futebol.
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Ali ao lado, com um clique de televisão, tínhamos a possibilidade de ver o canal que transmitia o debate, no Senado americano, sobre o mesmo problema : ajuda e apoio à economia, programas sociais, intervenção colossal do Estado e políticas sociais de emergência.
Os senadores falavam devagar, com razão, defendiam os seus pontos de vista, argumentavam. Tratavam-se delicadamente, com cerimónia. Diziam por vezes frases de enorme violência no conteúdo, nunca na forma. Mostravam que faziam um esforço para chegar a um qualquer ponto de cooperação. Aprovaram um pacote com 65 por cento dos votos. De ambos os lados, do sim e do não, havia democratas e republicanos. Ali, votava-se por nome e por estado, não por partido, em bloco. Após dias ou semanas de intenso trabalho conjunto, conseguiram chegar a acordos suficientes para que as medidas e os dinheiros tenham uma qualquer eficácia. A legitimidade e a autoridade dos programas de emergência estavam assim garantidas.
Ficámos a perceber mil vezes melhor a natureza, o alcance, o sentido e os objectivos das medidas americanas do que o programa português."
(António Barreto, in PUBLICO de ontem)