<$BlogRSDUrl$>

terça-feira, janeiro 13, 2009

PROPOSTAS INDECENTES (2)

Nos tempos dificeis que vamos viver, vão eclodir muitas situações de grande dramatismo social.
Vão ter de ser chamados a mitigá-las a sociedade civil, por obrigação ética ; mas tambem obviamente o Estado, quer o Governo e a Administração Central, quer igualmente as Câmaras Municipais, por obrigação política . Num cenário de emergência social, tudo o que na gestão municipal puder ser poupado vai ser necessário para acudir às muitas solicitações que vão chegar aos pelouros de acção social das Câmaras Municipais.

Em 2001, o Brasil viveu tempos de grave escassez de produção e abastecimento de energia eléctrica. Foi o tempo do chamado “apagão”, que durou muitos meses, creio que coisa de 2 anos.
Estive no Rio de Janeiro e em São Paulo em Setembro desse ano . Nas ruas, nas largas avenidas, nas lojas, nas montras, nos hoteis, nos centros comerciais, nos edifícios públicos, por cada duas lâmpadas de iluminação, uma estava apagada . Podia perfeitamente viver-se assim no dia a dia, ou melhor no noite a noite, e a iluminação era a suficiente, nas zonas mais e melhor urbanizadas. Não o seria obviamente nas favelas, onde a iluminção já era cronicamente muito reduzida.

As despesas do Município da Figueira da Foz com iluminação pública nos últimos anos, e de acordo com as respectivas contas de gerência, foram aproximadamente as seguintes:

- em 2002 : 952 mil euros
- em 2003 : 853 mil euros
- em 2004 : 1117 mil euros
- em 2005 : 812 mil euros
- em 2006 : 868 mil euros
- em 2007 : 702 mil euros

As oscilações verificadas podem dever-se ao facto de se tratar de despesas efectivamente pagas e não das relativas aos verdadeiros consumos de electricidade verificados em cada ano . Mesmo assim, a redução entre 2006 e 2007, ainda me levou a ficar com a esperança que tal se tivesse ficado a dever a um louvável esforço de contenção do consumo de electricidade por parte dos responsáveis municipais ; muito embora eu não conseguisse nem consiga descortinar onde é que um tal esforço se tivesse concretizado. A iluminação pública de algumas áreas do concelho continuava e continua a ser despreocupadamente feérica como antes.

Ao que sei, o Orçamento da Câmara Municipal da Figueira da Foz para 2009, prevê uma dotação de 1268 mil euros para iluminação pública. Não se compreende porquê, quando feito o confronto como os anos antecedentes, e mesmo considerando que o custo da energia elétrica ao consumidor não industrial sofre este ano um aumento de 4,9% . Uma conclusão se pode retirar : não existe nem está previsto nenhum esforço de optimização e redução de consumos de recursos, quer energéticos quer financeiros.

Aqui fica então mais uma proposta indecente.
À semelhança do que foi feito no Brasil em 2001, faça-se na Figueira da Foz um “apagão” durante pelo menos o ano de 2009. Poderá não ser necessariamente à mesma escala. Por exemplo : em vez de em cada duas lâmpadas haver uma lampada apagada, adopte-se uma razão de três para uma.
Admitindo que não seja possível obter assim uma redução directa do consumo em 33% , não será desatinado estimar que talvez se conseguisse atingir uma redução de 20% .
Para uma despesa anual avaliada em qualquer coisa entre os 800 e os 1200 mil euros ( para tomar também um pouco a sério a previsão orçamental...) poderiam ser obtida, com tão indecente proposta de “apagão” local, uma economia anual entre os 160 e os 240 mil euros. Não era nada mau. Bem poderão ser aplicados num redobrado esforço de acção social, a que o Município vai ser fatalmente chamado a realizar, neste ano do “cabo das tormentas” de 2009. Conforme as coisas estão, não vai ser possível obter mais créditos dos bancos. Estes não emprestam, e quando vão pedir empréstimos nas instituições financeiras, são confrontados com exigências de spreads de risco cada vez maiores. Nem as autarquias, nem o Estado, nem o País vão poder continuar a endividar-se como até aqui . Vamos ter de nos habituar a viver com aquilo que temos. Vai ser dificil.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?