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quarta-feira, dezembro 03, 2008

A GREVE E AS SUAS CAUSAS

As escolas secundárias em Portugal hoje não funcionaram. Não vale a pena negar a evidência, nem minimizar os números. Tem de reconhecer-se que nunca antes terá havido uma greve dos “sôtores” com tanto sucesso como a de hoje. Também nunca antes os sagrados direitos adquiridos dos “sôtores” haviam sido tão colocados em causa como nos últimos 3 anos ; também nunca antes se exigia, à corporação em geral, tanto trabalho com mais qualidade e profissionalismo ; também nunca antes haviam sido, muitos deles, obrigados a trabalhar mais nas escolas.
Mas não se venha porém dizer que a greve foi por causa do tal “modelo de avaliação”, pese embora a gritante falta de sensatez da Ministra da Educação ao ter avançado com tão desastrado e irrealista modelo de avaliação . A opinião pública já percebeu que não foi por nada disso . Já quando estudei história e sociologia se aprendia a distinguir entre as “causas” de um conflito e o “pretexto” para esse conflito eclodir. Assim , por exemplo, a causa da 1ª Guerra Mundial não foi o assassinato do arquiduque austríaco em Serajevo...
A greve teve “sucesso” por efeito de uma confluência ou uma “federação” de descontentamentos e de frustrações, caldeadas no conjunto da corporação dos professores : uns porque queriam ser professores titulares e não são ; outros porque não querem que haja professores titulares; outros porque não vêm os salários aumentados; outros porque acham que trabalham em demasia e gostavam de trabalhar menos; outros porque, sendo professores licenciados em Português e em Matemática, não se conformam em ser equiparados a outros de trabahos manuais ou de matérias mais singelas e apetecíveis às criancinhas ; outros porque acham que são os melhores do mundo e o seu “mérito” não é reconhecido; outros porque se sentem inseguros e deprimidos pela indisciplina frequentemente reinante nas escolas (e de que o Ministério tem tambem muitas culpas no cartório) ; outros porque estarão cansados e incomodados pelo clima de guerrilha reinante; outros porque sentiram uma grande pressão por parte dos colegas e do meio envolvente para aderirem à greve, e não tiveram coragem para dizer que não ; outros porque a greve representa assim uma espécie de catarse pessoal no contexto do sentimento colectivo gerado no seio da corporação ; outros porque, pura e simplesmente, não querem ser realmente avaliados. Nem por este modelo, nem por nenhum, “prontos”. Querem um sistema de ascensão na carreira de forma automática, por antiguidade. Ou então por “auto avaliação”, como os sindicatos anunciaram que iriam apresentar como modelo alternativo, mas que depois de terem pensado melhor, acabaram por não apresentar, para que não houvesse uma gargalhada geral na opinião pública.

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