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sábado, julho 05, 2008

PESSISMISMO SEM SAÍDA E PESSIMISMO COM SAÍDA

Há dois tipos de discurso do pessimismo : o do pessimismo sem saída, e o do pessimismo com saída. O primeiro cria desespero. O segundo pode ser mobilizador.
Na sua última entrevista televisiva à TVI , Manuela Ferreira Leite adoptou o registo do discurso pessimista sem saída. Assim não irá longe na confiança dos portugueses. Na sua última entrevista à RTP1, o Primeiro-Ministro adoptou um discurso apontando saída, mas sem o necessário pessimismo que se impõe na dificil hora actual, nem para as horas ainda mais dificeis que virão . Poderá criar de novo ilusões aos portugueses, que assim também não irão longe.
Um exemplo histórico de discurso pessimista com saída, foi o feito ao povo britânico por Winston Churchill, em Maio de 1940. Consumada a debandada francesa diante das tropas nazis, conquistada a vitória da retirada de Dunquerque, a invasão da Grã-Bretanha pelos hunos nazis parecia iminente e era esperada a qualquer intstante.
Winston Churchill, acabado de ser empossado Primeiro-Ministro, dirigiu-se ao povo britânico através do Parlamento, a Câmara dos Comuns, nestes termos :


(...)
Direi ao Parlamento, como já disse aos que se quiseram juntar a este governo : “ Não tenho nada mais para vos oferecer senão sangue, árduo trabalho, suor e lágrimas”.
Temos na nossa frente um desafio do mais doloroso tipo. Temos na nossa frente muitos, muitos longos meses de combate e de sofrimento. Perguntam, qual é a nossa política? Posso dizer : é empreender a guerra, por mar, terra e ar, com toda a nossa força e toda a energia que Deus nos puder dar ; empreender a guerra contra uma monstruosa tirania, nunca ultrapassada no tenebroso e lamentável inventário do crime humano . É essa a nossa política.
Perguntam, qual é o nosso desígnio ? Posso responder numa só palavra : é a vitória, vitória a qualquer custo, vitória apesar de todo o terror, por muito longa e duro que o caminho possa ser; porque sem vitória não há sobrevivência .
(...)

I would say to the House, as I said to those who have joined this government: "I have nothing to offer but blood, toil, tears and sweat."
We have before us an ordeal of the most grievous kind. We have before us many, many long months of struggle and of suffering. You ask, what is our policy? I can say: It is to wage war, by sea, land and air, with all our might and with all the strength that God can give us; to wage war against a monstrous tyranny, never surpassed in the dark, lamentable catalogue of human crime. That is our policy.
You ask, what is our aim? I can answer in one word: It is victory, victory at all costs, victory in spite of all terror, victory, however long and hard the road may be; for without victory, there is no survival
.


O discurso do líder que se propuser governar Portugal no futuro a curto prazo não necessitará nem deverá obviamente adoptar literalmente este discurso. Não precisará de pintar o futuro com tintas tão negras como as que se justificavam numa Grã-Bretanha exausta, apavorada, à espera de ser invadida. Nem precisará de falar em sangue.
Mas, à devida escala, e ressalvando através desta a diferença do dramatismo das situações, deverá adoptar um registo semelhante. Falando, lealmente e sem papas na língua, na promessa de árduo trabalho, suor e lágrimas.
Nas horas graves e nos tempos difíceis, os políticos com estatura de homens ou mulheres de Estado falam para os seus povos a linguagem da verdade. Se o souberem fazer sem tremendismos desesperadores, mobilizam os cidadãos. Até acredito que poderão assim captar o seu apoio, desde logo no plano eleitoral.

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