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domingo, julho 27, 2008

O ESTADO DA NAÇÃO

«Portugal é um país onde, pelo contrário, há a arreigada convicção de que a liberdade é não pagar impostos, não respeitar limites de velocidade, não obedecer a regras sobre condução com álcool no sangue, não cumprir as regras sobre estacionamento, não cumprir as normas urbanísticas, não cumprir as regras sobre ambiente e paisagem, não respeitar as leis e os regulamentos. No fundo, para os portugueses, a Liberdade é o oposto da Rule of Law [império da lei]».
(J. Miguel Júdice, no Público de 6ª feira passada , citado no blogue Causa Nossa )

No tocante à autoridade do Estado democrático de direito, o Estado da Nação pode também avaliar-se a partir dos pequenos e aparentemente insignificantes pormenores do nosso quotidiano. No meu caso, do quotidiano local.
Era o princípio de uma noite deste cálido mês de Julho. A cena passava-se na Figueira da Foz, num muito tranquilo Bairro Novo, melancolicamente vazio, de forma bem distante do que ocorria, por esta altura da “época balnear”, nos idos dos anos 70. Mesmo à porta do Casino, dois guardas da PSP, de volumosos ventres, estavam em amena cavaqueira. Chegaram depois mais dois outros guardas da PSP, desta vez jovens , dos que andam agora aí pela cidade fazendo algum exercício em modernas bicicletas. A amena cavaqueira estendeu-se naturalmente aos quatro. Não sei se trocavam impressões sobre o destino que os senhores e as senhoras juizes dão às pobres e indefesas criaturas que, detidas por estarem a rezar o terço, são presentes a tribunal pelos senhores guardas da PSP. Mas talvez não. Deveriam estar a discutir as últimas aquisições do Sporting e do Benfica para a próxima temporada da bola...
Ali ao lado, a dois passos, o passeio da rua Dr. Calado, junto ao Casino, estava totalmente preenchido com carros estacionados. De nada valiam umas duas ou três placas de transito proibindo totalmente o estacionamente, que ali foram prantadas. Uma delas indica tratar-se de proibição devida à existência de uma saída de emergência . Havia de ser bonito de se ver se houvesse uma emergência lá dentro do Casino, que obrigasse á utilização daquela porta.

Sabe-se lá para que servem aquelas placas todas. Para fingir, talvez, que aqui na terra há leis e regras do trânsito ; que isto, enfim, não é bem como Caracas, Kabul, ou Calcutá...Além disso, estão a ver, o turista e sobretudo o pato que vai jogar no Casino, e que coloca ali perto o seu pópó, precisa de ser compreendido e acarinhado. A cavaqueira dos quatro guardas da PSP entretanto prolonga-se por largo tempo. Não sei por quanto. Perdi a paciência de estar ali feito parvo a assistir á cena, e fui à minha vida.
As autoridades locais, quer as policiais quer as autárquicas, assistem a estas cenas com uma atitude de lamentável permissividade e de demissionismo. Empurram de uns para outros as responsabilidades pela ocorrência destas cenas. Uma das desculpas, já clássica e gasta, é a de falta recursos e de meios humanos . Que, como se pode perceber, tem plena justificação, perante a serena e porreira cavaqueira com que os 4 guardas da PSP se entretinham naquela cálida noite de Julho.

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