<$BlogRSDUrl$>

sexta-feira, maio 30, 2008

O PRINCIPIO DA TRAPALHADA

Nos idos do início de Novembro de 2001, o Município da Figueira da Foz era proprietário de uma parcela de terreno na Ponte do Galante. A parcela pertencia, ou teria pertencido, a um loteamento aprovado em 1992. Fora identificado, primeiro com o número 23, e depois com a letra W. Durante algum tempo, estivera destinado à construção de uma piscina da zona urbana, para o que chegou a ser aberto concurso.
A situação da parcela era um pouco confusa e estava mal esclarecida na Conservatória, à semelhança, de resto, do que tantas vezes acontece em Portugal, como sabemos.
Por razões que desconheço, mas que seria importante apurar ( e eventualmente julgar no plano político), a Camara Municipal, em final de mandato, decidiu repentinamente vender essa parcela. De súbito, é convocada uma reunião extraordinária da Câmara Municipal para o dia 14 de Novembro de 2001 ( 4ª feira). Nela é decidido pedir uma avaliação do valor do terreno a uma instituição bancária. A avaliação é feita e comunicada em tempo recorde, uns escassos 4 dias úteis. E ainda há quem se queixe que as coisas são lentas em Portugal!...
O documento com a tal avaliação (370 mil contos) foi distribuido aos vereadores não executivos na manhã da 4ª feira seguinte, dia 21 de Novembro de 2001, em que teve lugar a reunião ordinária da Câmara Municipal. Nesta reunião, e como ponto extra-agenda, foi novamente discutida a questão da venda do terreno.
As Vereadoras Natércia Crisanto e Aida Cardoso bem lembraram a necessidade de se ser cauteloso. Porém, a Vereadora Rosário Águas insistiu que, devido a quaisquer vícios de forma, a pertença da parcela ao anterior loteamento estava ferida de nulidade. E que por isso não havia quaisquer dúvidas que “ é a Câmara a legítima proprietária daquele terreno e, das duas uma, ou se perpetua uma situação de terra de ninguém ou então se permite, se legitime a própria Câmara a exercer o seu direito de propriedade sobre um terreno de que é detentora “.

Com a sua proverbial sabedoria e experiência, a Vereadora Natércia Crisanto ainda argumentou, em final do debate : “ O primeiro ponto que estamos a discutir é exactamente o registo do lote W, portanto, acho que se deve regularizar de acordo com a lei e com o que está estabelecido para ficar definitivamente arrumado, não lesando nenhuma das partes, nem as pessoas que lá construiram, nem a Câmara Municipal
Debalde. Havia pressa na coisa, e a colocação da venda em hasta pública foi votada de imediato. A Vereadora Natércia Crisanto ainda conseguiu que a votação fosse desdobrada em duas : a primeira em relação ao registo, e a segunda em relação à hasta pública.
Assim, a proposta A rezava assim : “ Proceder ao registo do loteamento como prédio autónomo, nos termos e fundamentos constantes da informação dos Serviços de Património”. Foi aprovada por unanimidade.
A proposta B assim rezava : “ Alienar em hasta pública o terreno do Vale do Galante, fixando como base de licitação o valor de 370 mil contos, nas condições apresentadas na reunião extraordinária de 14 de Novembro corrente, destinando-se exclusivamente à construção de um hotel com a classificação mínima de 4 estrelas “ . Foi aprovada com os votos contra dos 3 Vereadores eleitos pelo PS, e com os votos a favor dos restantes 6 membros da Câmara, eleitos pelo PSD, entre os quais a Vereadora Rosário Águas e o Vereador Miguel Almeida.

A hasta pública realizou-se logo a 11 de Dezembro de 2001, com grande celeridade, escassos 14 dias úteis decorridos desde a reunião camarária . Pelos vistos, com a atávica rapidez e elevada produtividade da administração pública indígena, esses 14 dias chegaram à vontade para redigir a acta, aprová-la em minuta, proceder ao registo na Conservatória, publicar o anuncio da hasta pública. Faltavam 4 escassos dias para as eleições autárquicas, realizadas em 16 de Dezembro, das quais resultou eleito um novo elenco camarário .
No mínimo, tudo a fazer lembrar aquele provérbio da sabedoria popular que fala nas cadelas apressadas....

Um tanto estranhamente, na hasta pública esteve apenas presente um concorrente : uma empresa imobiliária chamada IMOFOZ, detida pelo grupo Amorim, o qual por sua vez detinha também a Sociedade Figueira Praia. Ofereceu 371 mil euros, mil euros acima da base de licitação. A parcela de terreno, nas condições em que teria sido entretanto registada, foi arrematada.
A partir daquela data, a IMOFOZ ficou com direitos adquiridos sobre a dita parcela. Mas ficou também com as obrigações decorrentes das condições da hasta pública.
Já na altura se considerava e dizia que seria muito complicado construir o tal hotel com o mínimo de 4 estrelas exclusivamente sobre aquela parcela de terreno. É aí que entra em cena a existência de outros proprietários dos terreno confinantes.
A trapalhada começara e já mais niguem a conseguiu parar .

Entretanto, ao contrário das espantosas celeridade e eficiência com que, em cerca de 3 semanas se passara da decisão camarária à hasta pública, decorreu depois um ano e meio desde a data da hasta pública até à celebração da escritura de venda à IMOFOZ, que teve lugar no dia 26 de Junho de 2003. No mesmo dia em que, como se sabe, a IMOFOZ celebra uma outra escritura de venda do mesmíssimo terreno à FOZBEACH, com realização de avultadas e imediatas mais valias.
Pelo meio, foi feita e aprovada a suspensão do PDM e do PU na área da Ponte de Galante (18 de Fevereiro de 2003), foi autorizado o início de procedimento para elaboração do Plano de Pormenor para a Ponte do Galante (15 de Abril de 2003), e aprovada pela Câmara (em 21 de Maio de 2003) a desafectação do domínio público municipal para o domínio privado municipal de uma outra parcela de terreno sita no Galante, com a área de 3979 metros quadrados.
A qual , mais tarde, haveria de tambem ser integrada no terreno onde agora se está erguendo uma gigantesca estrutura de betão que mais tarde terá apartamentos...

This page is powered by Blogger. Isn't yours?