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domingo, maio 04, 2008



HÁ 40 ANOS : REVOLTA OU REVOLUÇÃO

É conhecida a história passada nos primórdios da Revolução Francesa. De uma varanda do palácio de Versalhes, o Rei Luis XVI assistia ao fervilhar e ao vociferar da turba que se movimentava nos jardins, exigindo o seu regresso a Paris . Amedrontado, perguntou ao general Lafayette, heroi da Revolução Americana, que se encontrava a seu lado, a procurar sossegá-lo : “ Mas..general..é uma revolta ?” . “Não , Sire : é uma revolução” , respondeu o general. E foi, durou anos seguidos, com avanços e recuos.
Aquilo a que por vezes se chama, impropriamente, e com imensa mitificação à mistura, a Revolução de Maio de 68, faz agora 40 anos, não foi afinal mais que uma revolta. Não durou mais que dois meses. Um mês depois de iniciada, no final de Maio, De Gaulle convocou eleições para a Assembleia Nacional. Em 28 de Junho, no dia seguinte ao das eleições, ao observar de manhã uma banca de jornais em Marselha, em regresso a Portugal depois de uma volta que me levara de comboio a Paris e a Florença, a respirar os últimos cheiros da “revolução”, dava de caras com a primeira página do “Le Figaro” com o seguinte título a toda a sua largura : “ Raz de marée” . Referia-se à "maré arrasadora", à vitória esmagadora dos partidos apoiantes de De Gaulle ( então já com 78 anos...) na segunda volta eleitoral. O conjunto dos partidos socialista e comunista via reduzido o seu número de deputados de 195 para 91 . O Partido Socialista e seus aliados, que detinham 116 deputados , passaram a ter apenas 57 . O Partido Couminista via reduzida a sua representação de 73 para 34 deputados. A França retomava o seu viver conservador, napoleónico, auto convencida de ser o farol do mundo. Em meados de Julho, partiam todos para férias, burgueses, operários e estudantes rebeldes...
A partir daí, passei a acreditar ainda mais no poder dos votos, do que no poder da rua.

Maio de 68 foi então apenas uma revolta. Há quem se lhe refira meramente como “acontecimentos”. Mas que indubitávelmente deixaram marcas indeléveis em toda a sociedade ocidental ( passados três meses dar-se-ia o drama de Praga, na Checoslováquia) , mudando sobretudo o seu modelo de vida e do seu quotidiano . Como de resto assinala Andre Glucksman, hoje um venerável filósofo de 71 anos, activo participante no Maio de 68 em Paris, ao inventariar alguns dos seus efeitos : “ Pílula, aborto livre e gratuito, emancipação do segundo sexo, aulas mistas, maioria aos 18 anos, fim das censuras, mobilidade social, humanização do trabalho, reforma da escola, libertação das rádios e das televisões, mundialização dos ouvidos, dos cérebros, das notícias e dos capitais “

Faz no dia de hoje 40 anos, mais precisamente, que eram julgados e condenados ao pagamento de multas os três rostos mais conhecidos da contestação estudantil daqueles dias, mostrados na fotografia acima : da esquerda para a direita, Alain Geismar, Jacques Sauvageot e Cohn-Bendit . No mesmo dia, era lançado o apelo á greve ilimitada dos estudantes.


Post scriptum
Segundo os resultados de um inquérito feito a estudantes portugueses de um conjunto de faculdades universitárias, 51% dos estudantes sabe o que foi o Maio de 68, contra 49% que não sabe. Nada mau, acho eu . Preocupante e decepcionante, para mim, é que, nos estudantes da área científica, 70% não sabem o que foi, e só 30% sabem. Mas pior ainda!...No IST, 77% não sabe o que foi e apenas 23% sabe. Estarão as universidades de engenharia a formar, hoje em dia, engenheiros virados para o seu umbigo da tecnologia, sem se interessarem por mais nada além desta, e sem preocupações de adquirirem também uma certa dose de espessura e de cultura humanista?

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