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segunda-feira, fevereiro 25, 2008

UMA QUESTÃO MAIS TÉCNICA E MENOS POLÍTICA

A contestação à Ministra da Educação assumiu nos últimos dois a três dias contornos mais preocupantes. Não se concentrará tanto numa questão política ( disso se encarregam os sindicatos, correias de transmissão do PCP...) mas numa de índole mais técnica : o modelo e o método adoptados para a avaliação dos professores, com manifesto excessivo voluntarismo e precipitação.
Palpita-me que os referidos modelos e métodos terão sido engendrados por umas quantas mentes teóricas, daquelas que pululam pelos corredores e gabinetes alcatifados do Ministério da Educação, sem serem professores há muitos anos, sem conhecerem o terreno, provincianamente propensos ao fascínio por soluções académicamente muito modernaças e complexas.
Se calhar, ainda por cima assessoradas por alguma empresa de consultoria da área da gestão de recursos humanos, das que há muitas por aí, com jovens yuppies vestindo fatos cinzento escuro, roupa de marca e gravatas à moda, com MBA’s tirados aqui e acolá.
A preocupação de colocar em prática um sistema de avaliação altamente sofisticado e “ do melhor que se faz na Europa” está patente no conteudo do Decreto Regulamentar nº 2/2008, que regulamenta o procedimento a adoptar. Este diploma, porventura complementado por mais umas tantas circulares internas do Ministério da Educação, a esclarecerem e a fazer mais regulamentação, e a fixarem os modelos das fichas, devem estar a fazer a cabeça em água aos professores e aos elementos dos conselhos directivos.
Dou um exemplo, revelador da incapacidade do senhor doutro-legislador em bem redigir em bom português ( pois é...consequências do ensino que tivemos muitas décadas, e que ainda temos ) .
O nº3 do Artigo 20º tem esta confusa e trapalhona redacção :

“Quando um docente não puder ser avaliado nalgum dos itens constantes das fichas de avaliação, nomeadamente por não ter exercido determinadas funções e não estar sujeito ao seu exercício, deve ser feita a reconversão de escala da classificação da ficha de forma a que, em abstracto, seja possível na avaliação dos restantes itens atingir a classificação prevista no número anterior”

O leitor percebeu?..Não?..Torne a ler. Ainda não entendeu?. Desista ! A mim ocorre-me pedir ao Ministério para me explicarem, mas como se eu fosse muito burro!!!...

Entre nós, é com muita frequência que os governantes, os homens das ciências jurídicas, os académicos, adoram inventar a roda. Nos outros países europeus os professores também são avaliados . Porque não ir a 4 ou 5 deles ( por exemplo, aqui ao lado a Espanha) e observar como lá se faz? Depois, seria adaptar os métodos e experiências alheias a algumas das idiossincrasias indígenas.
Seria depois inteiramente oportuno argumentar que, se o modelo e o método funcionam neste ou naquele parceiro europeu, porque não hão-de funcionar em Portugal?

Post Scriptum
Esta noite, a Ministra da Educação vai ao programa “Pros e Contras” , da RTP. A senhora tem presença de espírito, serenidade e capacidade de argumentar. Mas não sei porquê, oxalá me engane, tenho a impressão de que vai sair de lá mais fragilizada perante a opinião pública, concretamente quanto a esta continuada polémica da avaliação dos professores .

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