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sexta-feira, janeiro 11, 2008

SER DE ESQUERDA, HOJE...

A fazer inteira fé na veracidade dos valores ontem divulgados pela revista Visão, sobre as remunerações médias dos administradores de 25 grandes empresas portuguesas, estamos, a meu ver, perante uma situação escandalosamente terceiro-mundista, cuja consciência tem estado adormecida na opinião pública e nas escolhas dos eleitores. E que as palavras do Presidente da República, no seu discurso de ano novo, vieram de certo modo despertar.
O escandalo é bem mais grave nas empresas privadas do que nas públicas.
Assim, nas privadas, os racios entre as médias das remunerações dos administradores executivos e os custos médios por trabalhador, serão por exemplo :
- de 128 para 1 , na PT
- de 62 para 1, na Brisa
- de 57 para 1, no BCP
- de 11 para 1, na Altri
No grupo das empresas públicas, o caso mais chocante é o do Metropolitano de Lisboa (ML), empresa na qual o Estado ( ou seja, os contribuintes...) tem injectado milhões e milhões. E onde o racio é da ordem de 10 para 1, significativamente superior ao da CGD ou ao da CP, por exemplo. Vá lá saber-se porquê, conhecida a prática alegremente despesista das administrações do ML ao longo das últimas duas décadas.

É certo que os racios referidos são feitos a partir dos valores ilíquidos das remunerações. Calculados com as remunerações líquidas, isto é, após aplicação do IRS, os valores dos racios diminuiriam. Mas mesmo assim, com as taxas máximas de IRS vigentes, o racio da PT, por exemplo, seria da ordem de 50 a 60 para 1.
Racios daquela ordem de grandeza são mais próprios de uma qualquer república sul –americana ou de uma qualquer ditadura africana. Não têm paralelo em qualquer outro país europeu.
A mesma revista cita um discurso recente da Srª Merkel, chancelarina da Alemanha, pronunciado na Associação Alemã de Empregados :
(...) mas dizem-me que, no Japão, também há fábricas de carros muito bem sucedidas. E os patrões, lá, só ganham vinte vezes mais do que os operários “.

Perante todo este quadro, só se poderá dar uma boa gargalhada ao esfarrapado argumento adiantado por Bagão Félix, agora candidato à Administração do BCP :
“ Numa economia aberta, isso [subida de impostos para quem tenha rendimentos elevados] teria como efeito perverso a fuga de cérebros para o estrangeiro” . Estou mesmo a ver Bagão Félix a emigrar para o Chile, ou para a Malásia, ou para a República do Congo, se acaso as novas remunerações dos administradores do BCP forem reduzidas para metade.

A fim de corrigir, pelo menos em parte, aquelas chocantes discrepâncias entre o que se passa em Portugal e nos nossos parceiros europeus, e a exemplo que que sucede nestes, o Estado pode usar ferramentas fiscais, ou seja, os impostos. Pode usar os seus direitos decorrentes de possuir golden shares, na PT e na Brisa, por exemplo. Pode e deve . E deve ainda mais se e quando for governado por quem se diz socialista. Será assim ser de esquerda, hoje.

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