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segunda-feira, agosto 20, 2007

A FIGUEIRA, ENTRE A FICÇÃO E A REALIDADE

Depois de mais de uma semana a saltar de ilha em ilha, a ler o “Açoriano Oriental” ( o mais antigo diário português...) e a ver somente os telejornais das 7 da tarde ( hora local...) regresso à Figueira e eis que dou com polémica acesa em parte da blogosfera figueirense, a propósito de comentários feitos por Joaquim Sousa num programa televisivo de culinária.
Ainda ontem, lera o post assinado por Jorge Cristino no colega Amicus Ficaria.
Desconfiado, fiquei de pé atrás, como costumo ficar muitas vezes.
Já estou habituado a ver, ouvir e ler, em especial na comunicação social, histórias muito mal contadas que, depois de bem esclarecida a verdade dos factos, se revelam totalmente desconformes com aquilo que se começou por contar e relatar.
Depois de hoje ler o post do colega À Beira Mar, sobre o mesmo assunto, reproduzindo textualmente alguns dos comentários feitos por Joaquim Sousa, as minhas suspeitas acentuaram-se.
As críticas avinagradas e mal humoradas do post do Amicus Ficaria, quanto a mim, não se justificam, de todo. (Nota 1).

Acontece-me estar por vezes em desacordo com Joaquim Sousa. Às vezes até em conflituoso desacordo. Quase sempre muito mais quanto à forma do que quanto ao conteúdo

Mas desta feita, não. Compartilho por inteiro das opiniões expressas por ele nos seus comentários, tais como reproduzidas no blogue À Beira Mar. Assino-os por baixo, a traço grosso, com toda a determinação.
Em particular estas três seguintes, a título de exemplo:

"Não gosto de discutir a Figueira da Foz só a propósito do turismo. Mas turisticamente tem de se dizer a verdade: a Figueira da Foz não passa hoje de uma praia de proximidade. Será talvez desagradável a alguns figueirenses ouvir isto, talvez os choque, mas a verdade é que hoje somos, meramente, uma praia de proximidade. As pessoas vêm de manhã e vão à noite, outras passam cá o fim de semana"

"A Figueira tem, na realidade, poucas tradições gastronómicas"


"Não sou a pessoa indicada para fazer propaganda na Figueira nesse particular, porque sou muito céptico. Há uns anos havia o slogan "Na Figueira come-se bem" e eu sou muito céptico relativamente a isso. Acho que vale mais dizer a verdade do que metermos a cabeça na areia"

Não nasci na Figueira da Foz, nem aqui passei a minha infância ou a minha adolescência. Vim para cá já tinha 25 anos.
Gosto e sempre gostei de viver na Figueira. Fui várias vezes testemunha de alguma “inveja” de amigos e conhecidos por aqui viver . A meu ver, é uma das cidades portuguesas com melhor qualidade de vida. Não a trocava para ir viver para Lisboa, Porto e sobretudo Coimbra.
Quando foi da celebração do centenário da cidade, o Professor José Hermano Saraiva veio fazer uma conferência no Auditório Municipal. Recordo-me bem dele ter dito então qualquer coisa como isto: “ A Figueira é uma cidade sem grande passado, mas pode vir a ser uma terra com muito futuro””.

Ora o futuro não se constroi olhando para o umbigo, metendo a cabeça na areia, ou estando sempre a tecer hossanas de louvor a um património histórico ou cultural que não possui. Não percebo por isso como se pode ficar tão enxofrado e ofendido quando alguem diz que a Figueira, no domínio da gastronomia, não tem património significativo.

De resto, parece-me exdrúxulo insistir na tese de que a chamada “gastronomia regional”, de onde quer que seja, constitua, hoje em dia, um vector de dinamização e promoção da actividade turística.
Ao fim e ao cabo, uma boa alheira ou um saboroso enchido pode comprar-se ou comer-se em Lisboa, tanto ou mais que em Trás-os-Montes. Não fui a Munique para beber cerveja. Nem é para comer uma espetada que tanta gente vai à Madeira. Em geral, come-se melhor marisco e melhores mexilhões em Madrid do quem Vigo.

De uma vez por todas, a Figueira tem de perder a ilusão de ser terra orientada para o turismo.
Já foi, agora já não é. Espinho e Sines, por exemplo, também já foram. Também já não o são.
A Figueira é hoje o maior centro produtor e exportador da indústria de pasta e papel de todo o país, e de toda a Europa, se exceptuarmos a Escandinávia. Dentro de alguns meses, será também o primeiro centro produtor nacional de electricidade.
Tem condições naturais, geográficas e ambientais que lhe permitem ser muito mais que isso na actividade industrial. O seu “encravamento” na rede de acessos rodoviários nacionais irá desaparecer dentro de alguns meses.

A Figueira só terá por isso a ganhar quando perder a imagem de terra de “diversão” e “cachondeo” que actualmente ainda tem, e que o consulado de Santana Lopes e seus descendentes insistiram e insistem em reforçar, à custa de muito e muito dinheiro injectado, sem retorno, na chamada animação, traduzida por exemplo nos “carnavais”, “ nos desfiles de sambas” ou no fogo de artifício.

Meta-se isto no espírito e na cabeça dos figueirenses, e as gerações vindouras da nossa terra poderão vir a viver numa grande cidade, moderna e virada ao futuro.

A melhor maneira de fazer com que mais gente venha viver para a Figueira ( viver mesmo, a tempo inteiro, e não num contexto de segunda habitação...) e que mais visitantes ( turistas-banhistas, ou não...) venham à Figueira, será torná-la ainda mais agradável para quem cá viva, para os seus proprios habitantes.
Em especial através da melhoria da qualidade das suas infra-estruturas, dos seus arruamentos, dos seus passeios, da sua segurança, do estado de conservação dos seus edifícios, dos serviços prestados pelo Município, do seu meio ambiente, do seu ordenamento urbanístico, do bom estado dos acessos e das zonas de lazer ; bem como , obviamente, através do aumento das oportunidades de emprego, e da competitividade das unidades industriais criadoras de riqueza.
Mas sempre a pensar e com o enfoque colocado nos seus habitantes, mais do que na “animação” e nas "condições" proporcionadas aos tais putativos turistas.


Nota 1 – Os comentários ao post do blogue, mesmo que alguns não sejam imbecis de todo, não os costumo comentar, por serem anónimos. Tambem não costumo escrever comentários aos “escritos” que em Portugal aparecem com frequência nas portas das casas de banho de alguns espaços públicos.

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