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quarta-feira, abril 04, 2007

O POTENCIAL POLÍTICO DA CONTESTAÇÃO

A propósito da polémica em torno da construção do novo aeroporto na Ota, escreve hoje Helena Matos na sua crónica do PUBLICO.

“(...) tem sido em nome do ambiente que a nível local se tomam algumas das decisões mais questionáveis e menos claras.
Já no plano nacional o ambiente tem dado consistência a protestos que de outro modo não passariam de contestação política aos governos.”

Refere-se depois ao que escreveu há dias Jorge Almeida Fernandes, também no PUBLICO, recordando que em 1959, um manifesto da oposição do norte, na sequência do turbilhão provocado pelo aparecimento de Humberto Delgado na cena política, em que se “pedia desenvolvimento mas denunciava o II Plano de Fomento “ e rejeitava “ as excentricidades como a da ponte sobre o Tejo”.

Helena Matos acrescenta logo a seguir :

“A mesma atitude existiu por parte da oposição perante o Alqueva ou Cabora Bassa. Eram obras de regime e isso era razão para as rejeitar. E assim se explica que, uma vez mudado o regime,algumas destas obras, como o Alqueva e Cabora Bassa, tenham encontrado os seus maiores defensores entre aqueles que mais violentamente as tinham contestado no passado.
Na democracia esta atitude deixou de ser sustentável.
(...)
E vemos também como a oposição, tendo percebido o potencial político da contestação às grandes obras, não hesitou em lançar-se de cabeça na contestação à barragem de FozCôa, afiançando milhões de turistas e garantindo que aquela energia não fazia falta alguma.
Hoje sabemos onde nos levou tudo isto. “

A suspensão da barragem de FozCôa foi de facto um dos maiores embustes e uma das mais graves vigarices feitas no regime democrático português.
Nelas tiveram activa participação nomes sonantes tais como António Guterres, Jorge Coelho, Manuel Carrilho, tendo Mário Soares dado uma preciosa mãozinha.
Para o chamado parque arqueológico do vale do Côa, essa delirante ficção, foram prometidos investimentos de milhões de contos ; foram anunciados milhões de visitantes por ano, que iriam animar o turismo, dar muito emprego, muita felicidade, muito dinheiro a muita gente.
O número de visitantes por ano anda entre as duas e as três dezenas de milhares por ano.
Investimentos, até agora , zero. São por isso compreensíveis a frustração e a revolta das gentes das terras de Riba Côa.

Entretanto, os caboucos da barragem ainda lá estão. À espera que um alto dirigente político corajoso promova a decisão de se construir finalmente o que falta construir da barragem, assegurando que as pedras com os rabiscados desenhos sejam cautelosamente retiradas e colocadas num museu, sito na cidade de FozCôa.
Até acredito que esse alto dirigente político possa vir a ser José Sócrates. Pode não ser engenheiro, mas quero crer que terá bom senso e fibra para vencer esse desafio.

Uma grande barragem a reter as águas recolhidas em toda a bacia hidrográfica do rio Côa (uma das mais extensas dos rios exclusivamente portugueses) poderá :
- produzir energia eléctrica (dita renovável);
- evitar consumo de combustíveis fósseis ;
- reduzir emissões de CO2 ;
- evitar despesa nacional na aquisição de direitos de emissão de gases de efeito estufa;
- constituir uma importantíssima reserva estratégica nacional de água ;
- permitir transvases de água do norte para o Alentejo, carecido dela em anos de seca ( os espanhois fazem isso há décadas! );
- ser um bom regulador de caudal dos grossos caudais do rio Douro em invernos muito chuvosos, mitigando os efeitos de inundações a jusante.
Todas estas preocupações são de grande importância para o futuro dos jóvens portugueses.
Eles que se cuidem, portanto.
E não esqueçam de que quem má cama faz, nela se há-de deitar.

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