<$BlogRSDUrl$>

quinta-feira, abril 12, 2007

A CRISE NACIONAL DA ENGENHARIA (1)

Assisti ontem à entrevista do Primeiro-Ministro à RTP1. No plano do desempenho mediático esteve bem . Evitou levar demasiado a polémica para o campo da tese da cabala ou da conspiração contra ele tramada, e também aí fez bem. Poderia ter adoptado um registo mais forte de vitimização e de desapego pela sua licenciatura ( o que só lhe traria dividendos no eleitorado, penso eu), mas preferiu um jeito um tanto arrogante de orgulho pelo seu currículo académico, e aí fez mal .
Tem pouca consistência a justificação que deu, para só agora resolver falar sobre o assunto. O qual se arrastava já há várias semanas, num silêncio que era interpretado, bem ou mal, como consequência de se sentir incomodado com o remexer feito pelos media numa história sobre a qual, no seu íntimo, teria alguma má consciência.
Apesar do seu bom desempenho televisivo ( de resto nele habitual, sendo tal uma capacidade importante para um dirigente político), que reconheço, continuam todavia a subsistir no meu espírito dúvidas sobre a “normalidade” do seu processo de licenciatura na Universidade Independente.

Para ser mais concreto. Sobre muitos elementos meramente factuais trazidos ao conhecimento da opinião pública por orgãos da comunicação social, deu explicações pouco convincentes e pouco consistentes . O que fez consolidar no meu espírito a suspeição ( e de mera suspeição se trata, no plano de um mero juizo político) de que a sua licenciatura terá porventura sido “tirada” bastante “à balda” . Os acontecimentos supervenientes reveladores da forma como funcionava a Universidade Independente, ajudam a essa consolidação.

Separemos desde já uma questão.
A que se refere ao facto do então deputado José Sócrates, há cerca de 14 anos, ter escrito no seu registo na Assembleia da República que era engenheiro . Marques Mendes deu-lhe uma enorme e ridícula enfase, numa infeliz intervenção feita a quente, logo a seguir à entrevista, demonstrando pouco sentido de Estado, e propensão para preferir o oportunismo da chicana política. Não creio que seja com intervenções como aquela que Marques Mendes convença o eleitorado de que poderá ser alternativa ao actual Primeiro-Ministro.

O pecadilho de escrever “engenheiro” na sua ficha não vale um caracol, e não tem absolutamente nenhuma relevância no plano político.
Num país em que há “dótores” e “ingenheiros” por todo o lado, deverá agora considerar-se como muito grave, falha de carácter , e lesador da confiança depositada, que um jovem deputado da Assembleia da República, há 14 anos, tivesse consentido e porventura até estimulado que o tratassem por Engenheiro, e que escrevesse na sua ficha o nome do título pelo qual estava habituado a ser tratado? Poderá, quando muito, revelar pouca maturidade, e incapacidade para resistir à tentação de embarcar, também ele, no sistema da “titulocracia” e na cultura dominante subjacente.
E verdade seja dita. Face a este sistema arreigadamente instalado na cultura dominante indígena, não é fácil por vezes resistir. Sobre essa matéria, que atire a primeira pedra quem for capaz.
O antigo secretário geral da CAP , José Manuel Casqueiro, era regente agrícola . Toda a gente, desde políticos a jornalistas, o tratava por engenheiro . O mesmo acontecia com António Campos, que chegou a Ministro da Agricultura, nos idos dos anos 80. Hermínio Martinho, que foi a presidente do PRD, era engenheiro técnico, mas era sempre tratado por engenheiro, inclusivamente na Assembleia da República, onde tinha assento . Os ouvintes que participam no Forum TSF, todas as manhãs, dirigem-se ao jornalista como o “doutor” Manuel Acácio . E por aí adiante, muitos mais exemplos poderiam ser indicados.

Deveremos assim atermo-nos a aspectos mais essenciais ligados, como referi, ao processo de licenciatura em si mesmo. Sobre os quais subsistem estranhos pontos de sombra.
A eles procurarei voltar a referir-me.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?