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quarta-feira, março 28, 2007

A TITULOCRACIA

Na última página do PUBLICO, decorre em permanência uma polémica, com o sugestivo título de “Pingue-Pongue”, entre dois bons jornalistas portugueses : Helena Matos e Rui Tavares.
Este, escreve na edição de hoje uma excelente crónica com o título “ Sr. Sócrates : quer entrar na história, baratinho? “
O próprio jornalista dá ao Primeiro-Ministro uma sugestão para uma declaração pública que este deveria fazer, e para a qual lhe alinhavou logo um texto, de que acho valer a pena transcrever alguns extractos .


“ Caros portugueses.
Como sabem, nos últimos dias a imprensa tem feito eco de dúvidas em relação às minhas habilitações académicas.
Quando um diário de referência quis investigar, decidi dar acesso ao meu dossier universitário.
Como tive oportunidade de declarar então, considero que a documentação comprova que obtive o diploma de Licenciatura em Engenharia Civil, reconhecida oficialmente.
Mas afinal sou engenheiro ou não sou engenheiro?
Sei que é desta forma que muita gente tem colocado a questão. Se quisermos ser preciosistas, um licenciado em Medicina não é um médico; só passa a ser médico quando entra na Ordem dos Médicos. Para a Ordem dos Advogados e a Ordem dos Engenheiros, a regra é a mesma. Ora acontece que a minha licenciatura, embora oficialmente reconhecida pelas autoridades competentes, não o é pela Ordem dos Engenheiros, de que portanto não faço parte.
Por esta razão, dei ordens para que fosse alterada a minha biografia oficial no site do Governo: onde estava escrito “engenheiro” passa a ler-se “ licenciado em Engenharia Civil”
À primeira vista, isto pareceu-me injusto. No nosso país, qualquer aluno que faz o último exame do seu curso passa a ser habitualmente tratado por “doutor” ou “engenheiro”. Porque não haveria de valer para mim o que vale para os outros?
Mas, pensando melhor, os cidadãos têm o direito – e até o dever – de ser preciosistas com os seus governantes.
Como devo agora ser tratado? Para atalhar dúvidas, quero fazer o seguinte pedido aos meus concidadãos : a partir de agora, desejo ser apenas Sr. José Sócrates”

E acrescenta Rui Tavares mais adiante:

“ Em Portugal, a mania dos títulos, poderia ser apenas ridícula, caso não fôssemos o país com menos licenciados da Europa ocidental.
A ideia de que o conhecimento é apenas o meio de obtenção de um título degrada a própria nobreza do conhecimento.
E, para confirmar esta ideia, lembremos como no nosso país a titulocracia (palavra que acabei de inventar) convive com um anti-intelectualismo agressivo.

(...)
Um passo simbólico no sentido contrário parece pouca coisa.
Mas garanto-lhe que, para quem nos conheça bem, este será um sinal de modernização maior do que qualquer aeroporto .

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