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terça-feira, março 06, 2007

A FRAUDE INOCENTE

Na Assembleia Geral da Portugal Telecom que deliberou o fracasso da OPA da SONAE, à boca de cena do largo e imponente palco do grande auditório da AIP, perfilavam-se, numa longa mesa, os 22 membros do Conselho de Administração da PT.
Uma senhora e 21 senhores . Todos vestidos de cinzento ou fato escuro, parecendo ao longe uma sequência de clones.
No meio deles, o conhecido Armando Vara, também ele Administrador da Caixa Geral de Depósitos, mordómica sinecura conquistada ao longo de muitos anos de fidelidade xuxialista.
Ao olhar para tal cenário, veio ao meu espírito o que escreveu John Keneth Galbraith, conhecido e controversa economista americano, falecido no ano passado, no seu último livro, intitulado “ A Fraude Inocente”. Foi uma das minhas mais recentes leituras.
Vale a pena transcrever alguns excertos:



A gestão empresarial é uma das formas mais sofisticadas de fraude e, nos últimos tempo, uma das mais evidentes.
Tendo desaparecido a depreciativa palavra “capitalismo”, existe uma outra designação válida que poderia ser aplicada – burocracia empresarial.
No entanto, “burocracia” é um termo que, como já indiquei, é escrupulosamente evitado; a referência aceite é “gestão”.
Os donos e os accionistas são reconhecidos, venerados até, mas é por demais evidente que não têm qualquer papel na gestão dos negócios”.
(...)
Deste facto decorre uma fraude bastante evidente e não totalmente inócua. Uma das tarefas das empresas é satisfazer os donos, os accionistas : os investidores como são comummente chamados. Tendo o capitalismo aberto o caminho à gestão, a suposta importância dos donos é totalmente fabricada. Aqui reside a fraude.
(...)
As remunerações generosas para os gestores são comuns a todas as grandes empresas modernas.
O enriquecimento legal (...) é prática vulgar para quem governa estas organizações.
Este facto não é surpreendente : são os gestores que fixam as suas próprias remunerações
(...)
Não há dúvida : os accionistas – os donos – e os seus supostos directores estão, em qualquer empresa de grande dimensão, completamente subordinados aos gestores.
Apesar de se passar uma imagem de autoridade do dono, ela não existe de facto.
Uma fraude bem aceite.
(...)
O poder está nas mãos dos gestores – uma burocracia que controla as suas próprias tarefas e as suas próprias remunerações, que quase podem ser consideradas um roubo. Tudo isto é evidente. Em frequentes acontecimentos recentes tem sido chamado “ escândalo empresarial” .


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