<$BlogRSDUrl$>

domingo, novembro 26, 2006

O VÓRTICE E A ESPIRAL NA ECONOMIA

Numa das suas habituais crónicas publicadas no EXPRESSO , sempre com um notável poder de síntese, Daniel Bessa exprime ontem preocupação pela situação económica espanhola :

NEM TUDO O QUE LUZ...
A opinião pública portuguesa olha para os resultados económicos conseguidos por Espanha nos últimos anos com admiração, talvez mesmo com uma elevada ponta de inveja.
A admiração tem razão de ser : uma das mais elevadas taxas de crescimento da União Europeia, emprego e salários em alta, contas públicas mais do que equilibradas.
Mas nem tudo o que luz é ouro : o crescimento encontra-se quase todo assegurado pelo mercado interno.
A inflação é uma das mais altas da UE . As exportações crescem muito lentamente e as importações crescem rapidamente. O défice da balança de transacções correntes é o segundo maior do mundo, excedendo já os 8% do PIB “
(...)

Daniel Bessa está inquieto, pois sabe que, hoje em dia, um espirro na economia espanhola pode dar pneumonia na economia portuguesa.
E sabe do que fala. Foi ministro da Economia de António Guterres, embora por curto tempo.
Sobretudo no primeiro governo de António Guterres, o crescimento da economia portuguesa foi quase que exclusivamente impulsionado através do consumo interno.
Deu os maus resultados que deu, pelos quais estamos e estaremos a pagar muito caro.

A tese keynesiana clássica é mais ou menos assim : verificando-se uma depressão económica ( ou seja, reduzida propensão para o investimento), o governo pode e deve induzir a retoma criando ele próprio emprego e investindo em força em obras públicas ; distribuindo assim liquidez monetária, estimulará a procura e o consumo, com o que, por esse efeito, aumentará a seguir a produção para oferta, e logo depois o emprego.
De certa maneira, actualmente, é esta também a tese da CGTP e do PCP, expressa à mistura com mais uns quantos slogans demagógicos.

A teoria e a receita poderão ser verdadeiras e encontrar aplicação numa grande economia, relativamente bem fechada às trocas com o exterior.
Mas é desastrosa quando aplicada à risca numa pequena economia aberta como a portuguesa, e num contexto socio-cultural como o actualmente vivido em Portugal.
Entre nós, mal o cidadão da classe média se sinta um pouco mais aliviado no seu cinto, e ouça tilintar nos bolsos mais um euros, vai pela certa correr a consumi-los em electrodomésticos, televisores de plasma, telemóveis de último modelo, leitores de DVD, ou coisas do género, nos shoppings, nos supermercados do Engº Belmiro ou nas lojas dos chineses.
O aumento deste consumo e desta procura irá assim ajudar o aumento da oferta e da produção, não do tecido produtor nacional, mas da restante Europa, de Singapura, da Coreia do Sul ou de Xangai.

A produção nacional e consequentemente o emprego, esses irão sentir de forma limitada os efeitos do aumento da procura interna.
Crescerá assim o défice de transacções correntes.
Para fazer face a esse crescimento, a solução tem sido pedir dinheiro emprestado. Pelo qual se tem de pagar mais juros.
Assim se mergulha no vórtice e na espiral devoradora, dos quais é sempre muito doloroso sair. Como se tem visto.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?