terça-feira, novembro 14, 2006
CONFISSÃO E PEDIDO DE DESCULPA
No seu último livro, Gunter Grass, escritor alemão e prémio Nobel da literatura, causou escândalo e indignação ao confessar um segredo por si bem escondido ao longo de muitos anos : quando tinha 17 anos, fora membro das SS nazis.
Mais recentemene, foi a vez de José Saramago confessar que havia pertencido, quando era menino e moço, à Mocidade Portuguesa.
Não sendo embora prémio Nobel, achei que também eu não deveria continuar a esconder tal mancha do meu passado, e resolvi confessar que pertenci a essa tenebrosa organização fascista, onde cheguei a chefe de quina. Ainda hoje guardo com desvelo as respectivas divisas.
Numa chuvosa e fria manhã do dia 1º de Dezembro, em Vila Real, tinha eu acabado de fazer 15 anos, e molhado como um pinto, desfilei fardado de calções curtos e camisa verde, diante do Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa, Baltazar Rebelo de Sousa.
Vistosamente fardado, mas de calças compridas, e com umas divisas nos ombros, que pareciam as de um general, assistiu ao desfile, garbosamente aprumado, num palanque coberto, protegido da chuva impiedosa.
A seu lado, também fardado, perfilava-se o temido reitor do Liceu Camilo Castelo Branco, Martinho Vaz Pires. Uns quantos anos mais tarde, já depois de ter sido reitor de um liceu no Porto, viria a ascender a “deputado” da Assembleia Nacional .
A vida escolar e académica da cidade era animada por um conflito surdo entre o reitor do Liceu, gauleiter local da Mocidade Portuguesa, e os estudantes mais matulões, que faziam questão em o desafiar, festejando o 1º de Dezembro, emulando a contestatária academia de Coimbra.
A pacata população citadina, por onde se insinuavam alguns vultos do reviralho, manifestava evidente preferência e simpatia pelas celebrações académicas, com os estudantes vestidos de capa e batina, e que incluiam um baile de gala, numa Assembleia sita ali bem perto do Liceu, em plena Avenida Carvalho Araújo, para o qual as meninas mais crescidinhas iam acompanhadas pelas respectivas mamãs.
Por não haver liceu até ao então designado por 7º ano em Viana do Castelo, eu viera cair desterrado em Vila Real, para lá do medonho Marão.
Ainda mal adaptado, com escassa percepção daquele surdo conflito, resignei-me a participar no desfile, de manhã ; mas depois de almoço vesti tambem a capa e batina, andei pelas ruas a gritar os efe-erriás da praxe, e à noite fui ao baile.
Uma cautelosa atitude de compromisso entre as duas facções, tenho de reconhcer.
No seu último livro, Gunter Grass, escritor alemão e prémio Nobel da literatura, causou escândalo e indignação ao confessar um segredo por si bem escondido ao longo de muitos anos : quando tinha 17 anos, fora membro das SS nazis.
Mais recentemene, foi a vez de José Saramago confessar que havia pertencido, quando era menino e moço, à Mocidade Portuguesa.
Não sendo embora prémio Nobel, achei que também eu não deveria continuar a esconder tal mancha do meu passado, e resolvi confessar que pertenci a essa tenebrosa organização fascista, onde cheguei a chefe de quina. Ainda hoje guardo com desvelo as respectivas divisas.
Numa chuvosa e fria manhã do dia 1º de Dezembro, em Vila Real, tinha eu acabado de fazer 15 anos, e molhado como um pinto, desfilei fardado de calções curtos e camisa verde, diante do Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa, Baltazar Rebelo de Sousa.
Vistosamente fardado, mas de calças compridas, e com umas divisas nos ombros, que pareciam as de um general, assistiu ao desfile, garbosamente aprumado, num palanque coberto, protegido da chuva impiedosa.
A seu lado, também fardado, perfilava-se o temido reitor do Liceu Camilo Castelo Branco, Martinho Vaz Pires. Uns quantos anos mais tarde, já depois de ter sido reitor de um liceu no Porto, viria a ascender a “deputado” da Assembleia Nacional .
A vida escolar e académica da cidade era animada por um conflito surdo entre o reitor do Liceu, gauleiter local da Mocidade Portuguesa, e os estudantes mais matulões, que faziam questão em o desafiar, festejando o 1º de Dezembro, emulando a contestatária academia de Coimbra.
A pacata população citadina, por onde se insinuavam alguns vultos do reviralho, manifestava evidente preferência e simpatia pelas celebrações académicas, com os estudantes vestidos de capa e batina, e que incluiam um baile de gala, numa Assembleia sita ali bem perto do Liceu, em plena Avenida Carvalho Araújo, para o qual as meninas mais crescidinhas iam acompanhadas pelas respectivas mamãs.
Por não haver liceu até ao então designado por 7º ano em Viana do Castelo, eu viera cair desterrado em Vila Real, para lá do medonho Marão.
Ainda mal adaptado, com escassa percepção daquele surdo conflito, resignei-me a participar no desfile, de manhã ; mas depois de almoço vesti tambem a capa e batina, andei pelas ruas a gritar os efe-erriás da praxe, e à noite fui ao baile.
Uma cautelosa atitude de compromisso entre as duas facções, tenho de reconhcer.
Nas celebrações do 1º de Dezembro ano seguinte, no meu 7º ano, já doutrinado por alguns dos matulões meus colegas e amigos, de entre os quais se salientava o Eurico Figueiredo, não tive dúvidas em correr o risco do estigma de uma falta injustificada, e mandei á malvas o desfile da MP .
Vesti logo de manhã a capa e batina, com que me passeei durante todo o dia ; e à noite lá fui de novo, vestido a rigor, para o baile dos finalistas.
O Reitor Martinho Vaz Pires, afinal, não me castigou com falta injustificada.
Nem a mim nem a qualquer dos outros meus colegas do 7º ano .
Ainda hoje estou sem saber porquê.
E “prontos”...Já me sinto mais aliviado depois desta confissão....