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segunda-feira, outubro 30, 2006

MAIS VIDA PARA ALÉM DO DEFICIT, OU A PREMONIÇÃO DE SALAZAR

“ Por mim, tudo gira à volta dum possível e próximo, definitivo equilíbrio orçamental. Se, usando de todos os meios, mesmo os aparentemente mais violentos, se equilibrar o orçamento, todos os outros problemas virão a ter, a seu tempo, uma solução satisfatória.
Se não se conseguir, por uma vez, este desiderato, as dificuldades que ora se sentem surgirão de novo agravadas “ (Nota)


Quem escreveu isto, não foi Teixeira dos Santos, nem José Sócrates, nem Manuela Ferreira Leite, nem Vítor Constâncio, nem Cavaco Silva.
Aquele é um trecho de uma entrevista dada por Oliveira Salazar ao diário Novidades, em 6 de Agosto de 1926.
O golpe militar do 28 de Maio fora há pouco mais de 2 meses. Por aquela altura, Salazar ainda não sonhava que se iria tornar o ditador que foi depois por 40 anos.

A situação das contas públicas não era assim tão má como a pintaram, antes do golpe militar de Gomes da Costa, em 28 de Maio. O último ministro das Finanças do último governo da 1ª República, Marques Guedes, havia conseguido reduzir o crónico deficit orçamental, endémico desde há muitos anos.
Os instrumentos então usados foram todavia a desvalorização do escudo ( truque hoje impossível de fazer em Portugal, como é sabido) e contraindo empréstimos na banca estrangeira.
Os ministros das finanças do período inicial da ditadura militar, também eles militares, e em particular Sinel de Cordes , seguiram uma estratégia de facilitismo, praticando uma política de irresponsável despesismo, prometendo tudo a todos, concedendo generosas subvenções e autorizando sucessivas aberturas de crédito, bem como estabelecendo uma enorme defesa pautal nas importações, de forma ( pensava ele...) a defender o trabalho nacional e promover o desenvolvimento económico .
O desastre financeiro agravou-se, até o deficit das contas públicas atingir uma escala incomportável.
Meio desorientados, os militares, muitos deles adeptos fervorosos da República, acabaram por aceitar que, como declararia Carmona, “chamassem lá o padreco” .
Dois anos depois do golpe militar, Salazar entrava em força na cena política, ditando condições e impondo-se como verdadeiro homem forte da ditadura militar.
Tomou posse de Ministro das Finanças em 27 de Abril de 1928.
Ficaria no exercício de um implacável poder ditatorial durante mais 40 anos.
Caberá todavia recordar que, na entrevista dada ao Novidades de 6 de Agosto de 1926, fora premonotório.

Nota – Transcrito do livro “ A Igreja Católica na Origem do Estado Novo”, de Alfredo Madureira, recentemente publicado
Um livro que vivamente recomendo a quem quiser compreender e ter uma ideia de como foi o período de 2 anos que medeou entre o golpe do 28 de Maio e a tomada de posse de Salazar como Ministro das Finanças .

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