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quarta-feira, março 08, 2006

OPINIÃO, MANIPULAÇÃO E CO-INCINERAÇÃO

Regressado à terra que já foi Rainha, foi hoje tempo para fazer revisão à imprensa local e regional dos últimos dias, designadamente o Diário As Beiras .

Parece que aí temos de novo uma cruzada de manipulação demagógica e obscurantista contra a co-incineração da fracção dos resíduos industriais perigosos ( RIP’s) inevitavelmente remanescentes das reciclagens que serão processadas nos chamados CIRVER’s .
Na edição de 28 de Fevereiro, em 3ª feira de Carnaval sempre cheia de muito folguedo, e a 3 /4 de toda a largura da primeira página do Diário As Beiras, sob um fundo negro (claro...) podia ler-se o aterrador e opinativo título :

“ Co-incineração
Ameaça paira de novo em Souselas”

Remetia depois para as páginas 2 e 3 , ambas repletas de “notícias” opinativas de algumas personalidades coimbrãs, mais ou menos ilustres.
Alguns dos argumentos seriam só delirantemente imaginosos, se não roçassem uma quase primária demagogia.

No sábado seguinte, nova notícia na primeira página, a toda a sua largura , mas desta feita de natureza informativa e não opinativa :

“Co-incineração
Queima em Souselas dentro de três meses”

No interior, na página 3, desenvolviam-se reacções e “argumentos” contra a co-incineração da Quercus, de um partido ficção chamado Os Verdes, do CDS-PP, do maior partido da oposição, do Bloco de Esquerda, e do inefável sociólogo coimbrão Boaventura Santos.

No essencial, a estratégia passa por aterrorizar as pessoas, aquilo a que chamam as populações, acenando com as maiores desgraças, bíblicas calamidades,pestes, epidemias, pandemias, doenças degenarativas, crónicas, agudas ou difusas, que o processo vai trazer.

Logo no dia útil seguinte, 2ª feira , a 3 /4 da largura da 1ª página do mesmo jornal, novo título aterrador e opinativo, a meu ver ao arrepio da deontologia do que deve ser a verdadeira informação :

“Coimbra
Co-incineração é um caso de saúde pública”

Só ao ler o corpo da notícia, numa página interior, se percebe tratar-se de uma opinião de um ilustre clínico do Centro Hospitalar de Coimbra ( Nota 1).

Mas lendo o fundo da mesma página, pode ficar a saber-se que, empertigado, ao bom estilo de um cacique local, e armando-se de competência para tal, o Presidente da Câmara de Coimbra diz que “ não vai autorizar a co-incineração” ; enquanto, fazendo-se de sonso, vai deixando a ameaça velada, embora dizendo o contrário, de que as “populações” poderiam “trazer a Maria da Fonte para a rua” .
Presumo que irá compartilhar a primeira linha de varapaus com o deputado Pereira Coelho.


Como uma velha senhora muito aristocrática, mas falida, Coimbra parece pretender ser apenas capital da saúde, deliciada possidente de uma antiga universidade onde se cultiva uma cultura de dimensão escolástica, carregada de charme humanista.
Que lhe preste. Depois que as suas gentes não se queixem de haver muitas cidades que lhe passam à frente.

Para a Figueira da Foz, isto é apenas preocupante na medida em que o exemplo parece querer pegar também por cá.
Só que em vez da cultura escolástica, por cá os motes são aparentemente a animação e o cachondeo .

Nota 1
Talvez fosse muito mais importante preocupar-se com as dioxinas que, anos a fio , podem ter sido emitidas pela incineradora de resíduos hospitalares do Hospital da Universidade de Coimbra. Não estou mesmo muito seguro se essas emissões não continuam a verificar-se.

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