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sábado, fevereiro 25, 2006

HISTÓRIAS DO PS DE HÁ VINTE ANOS ( 1 )

Ao remexer em papelada antiga, dei com uma série de documentos sobre histórias e factos políticos ocorridos no PS da Figueira da Foz.
Foi no princípio de 1985, faz agora vinte anos.
E como se aproximam tempos de escolhas políticas, no PS e no PSD, achei que seria curioso e interessante lembrá-los aos mais velhos e contá-los aos mais novos.
Poderão, uns e outros, avaliar e concluir se as práticas e os tiques mudaram muito ou pouco. Serei rigorosamente o mais factual possível, com total suporte em documentação existente.

Estávamos então nos primeiros dias de Janeiro de 1985.
A Câmara Municipal da Figueira da Foz, eleita em Dezembro de 1982, em plena fase de desgaste e implosão política da Aliança Democrática, era constituída por 4 elementos eleitos pelo PS ( Aguiar de Carvalho, Abílio Bastos, José Elíseo de Oliveira e Armando Garrido), dois pela AD ( Galamba Marques e Moreira dos Santos) e um pela APU/PCP (António Menano).
Para o final de 1985 estavam anunciadas novas eleições para os órgãos autárquicos.

A nível interno do PS local, foram convocadas eleições para os órgãos dirigentes da Secção da Figueira da Foz para o dia 14 de Janeiro de 1985.

Entretanto, entre Outubro e o final de 1984, registara-se um inusitado afluxo de inscrições de novos filiados no PS, em grande parte de trabalhadores da Câmara Municipal.
Nos cadernos eleitorais usados para as anteriores eleições internas, ocorridas em Janeiro de 1984, estavam inscritos 140 filiados.
Um ano volvido, para as eleições convocadas para Janeiro de 1985, os cadernos eleitorais continha 390 filiados inscritos.
Num único ano, o seu número tinha sido multiplicado pelo factor 2,8 .

Apresentaram-se como concorrentes duas listas.
A lista A, sob o lema “ Acção e Vitória”, cujo candidato para Presidente da Assembleia Geral era Aguiar de Carvalho, Presidente da Câmara.
Para o Secretariado, eram apresentadas os nomes de, entre outros, Carlos Beja, José Elíseo de Oliveira, Vítor Brás e Herculano Rocha.
Entretanto, no dia 12 de Janeiro, antevéspera do dia das eleições para o PS local, os órgãos dirigentes na altura em exercício promoveram a realização de um chamado “ 7º Encontro de Autarcas Socialistas do Concelho da Figueira da Foz “ .
O tema escolhido para esse encontro foi, precisamente, “ 1985 : Acção e Vitória”...

A lista B apresentava a minha pessoa como candidato a Presidente da Mesa da Assembleia Geral.
Para o Secretariado, era encabeçada por Franklim Ramos, e incluía, entre outros militantes, os nomes de Joaquim Sousa, Mota Ascenso, Luís Ratinho e Borronha Gonçalo .
O seu lema saía um pouco fora dos padrões habituais : “ O Melhor é mudar já !...
O manifesto eleitoral rezava assim :


Porquê e para quê, agora, nos tempos difíceis que Portugal e o PS atravessam, uma candidatura de confrontação e de alternativa aos actuais órgãos locais do Partido Socialista?

Em poucas palavras, que da sua abundância estamos já todos cansados, adiante deixamos algumas das nossas razões.

1. No que acreditamos:

- que, mau grado os seus erros ou omissões, a má imagem de alguns dos seus dirigentes, e certos aspectos negativos da sua prática política, o PS conserva potencialidades suficientes para, no poder ou na oposição, ser fermento ou protagonista dum processo de transformação e modernização da sociedade portuguesa;
- que o interesse da colectividade, local ou nacional, se sobrepõe sempre aos interesses particulares de grupo, ou de Partido, e que, na sua acção política concreta, o PS não os pode misturar, e tem de prestar estrita obediência à hierarquia daqueles interesses.

2. O que desejamos :

- que, sem descabidos complexos de esquerda, o PS actualize e modernize uma parte do seu ideário, arrumando nas prateleiras da história dogmas e axiomas tornados obsoletos pelas transformações tecnológicas, económicas e sociais, operadas nas sociedades avançadas e democráticas;
- que, na sua acção política concreta, a nível nacional e local, o PS possa servir como referencial de rigor na prática governativa, de seriedade no discurso político, de serenidade no diálogo, de probidade nos processos, de limpidez no comportamento;
- que o PS dê execução às suas propostas programáticas, no poder ou na oposição, à escala nacional ou local, através duma classe política não profissionalizada nem agarrada ao poder, e que o povo português possa facilmente distinguir das classes políticas das outras formações partidárias;
- que o PS não sirva nem possa servir de trampolim de ambiciosos em mais altos voos, nem de trapézio voador para oportunistas de passagem, nem de fonte de apadrinhamentos, nem ninho de acolhimento de “lobbies” económicos ou de grupos de pressão.

3. Ao que nos propomos :

- dar expressão, no quadro de um salutar debate interno no PS, aos sentimentos de desânimo, frustração e até de algum desespero que, quer à escala nacional quer à escala local, atingem cada vez maior número de portugueses e de eleitores socialistas ;
- pelo exercício duma acção política orientada por preocupações de realismo, de isenção, de sentido das proporções, e de transparência, construir uma imagem do PS capaz de, sem promessas demagógicas e sem alimentar expectativas fantasistas, adquirir, a nível local, credibilidade política e adesão popular :
- na altura oportuna, apresentar uma candidatura aos órgãos dirigentes do Município a que, o PS primeiro, e o eleitorado depois, possam atribuir o sentido de uma proposta de mudança.

A mudança, necessária, imperiosa, e desejada, tem de ser procurada sem se perder muito tempo.

E por isso, o melhor é mudar já.


Fica para mais tarde, para outro postal, continuar a contar o que aconteceu depois .

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