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sábado, novembro 05, 2005

ARROGÂNCIA E CULTURA “HUMANISTA”

A mais recente catilinária de Mário Soares contra Cavaco Silva, foi aquela presumida afirmação de que este candidato não tem cultura humanista, não sabe nada de história, de filosofia ou de jurisprudência, e por isso não tem perfil nem classe para poder ser Presidente da República.
A afirmação tem contornos de preconceitos de classe e dois aspectos muito feios, que importará apreciar.

Em primeiro lugar, denota uma grande e aristocrática arrogância, não só intelectual, muito pouco própria de alguém que se reclama ser democrata, progressista ou de “esquerda”.
Cavaco Silva, “ele” no dizer de Mário Soares, por ter feito o curso secundário numa escola comercial e não no liceu, nunca estudou latim, nunca leu Virgílio ou Tito Lívio, nunca vibrou ao ler Antero de Quental, nem nunca aprendeu um pouco sobre a teoria do conhecimento de Kant. Pouco mais estudou e aprendeu que a trivial contabilidade.
“Ele” nunca lê nem terá lido o “Nouvel Observateur”, nem costuma passar os olhos pelo Monde Diplomatique, só se interessando, quando muito, por ler aquele horroroso pasquim em papel cor de rosa, da terra do execrável Sr. Blair, e que dá pelo nome de Finantial Times...

Em segundo lugar, o conteúdo daquele falar de Mário Soares releva de uma concepção escolástica e jacobino- afrancesada de “cultura”. Muito típica de grande parte da intelectualidade pequeno-burguesa indígena, diga-se de passagem.
Isto é, portuga culto é, por exemplo, quem leu, em francês, a obra de André Gide ou a poesia de Aragon; quem sabe distinguir um Cézanne de um Degas; quem for capaz de pronunciar o nome de Wittgenstein sem se engasgar, e de não adormecer ao assistir a uma peça de teatro de Bertolt Brecht ou um filme de Manuel de Oliveira.
Pode não saber quem foi David Ricardo ou John Keynes, não fazer a menor ideia do 2º princípio da termodinâmica, dos conceitos básicos do electromagnetismo, ou da composição do átomo, não ser capaz de resolver um sistema de duas equações a duas incógnitas.
Se souber muito de artes, letras, filosofias, sociologias, antropologias e outras humanidades, então ele poderá ser considerado e chamado de “pessoa de cultura”...

Seguindo a tortuosa linha de raciocínio de Mário Soares, caberia questionar se poderá reclamar-se de pessoa de cultura, e por isso aspirar a ser Presidente da República, alguém como ele, tão primária e gritantemente iletrado em matéria das novas tecnologias e dos conhecimentos de informática a nível do utilizador. Saberá que sinal é este : @ ? E para que serve? Ou o que é fazer um “download”?....

E mais. Poderá considerar-se pessoa culta e ser Presidente da República , alguém que não percebe patavina de inglês, e que não é capaz sequer de manter a mais elementar conversação naquela língua? Haverá no mundo inteiro meia dúzia de governantes ou de chefes de Estado que não falem inglês, e que para falar duas tretas triviais com um seu congénere da Índia, do Japão, da Indonésia ou da China, tenham de ter sempre intérpretes pelo meio ?

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