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domingo, outubro 30, 2005

UM POLITICO PROFISSIONAL

Tenho de convir que a alegação de Cavaco Silva de que não é um político profissional, não é feliz , é equívoca e pode ser interpretada como tendo um sabor um tanto a roçar a demagogia. Para além de obviamente não corresponder à verdade quando aplicada por Cavaco Silva a si próprio.

Ele deveria certamente pretender um certo aproveitamento do sentimento de distanciamento e repulsão para com os chamados “políticos” que, com razão ou sem ela, se vem espalhando pela opinião pública, de forma crescente e inquietante.
Tudo o que seja alimentar esse sentimento, apoucando, desdenhando ou mesmo diabolizando a actividade política, uma actividade que se não está rodeada da devida nobreza, deveria estar, é negativo para a estabilidade e bem estar do regime democrático, o qual tem obviamente de ser governado por políticos.
Nunca gostei de ouvir, em determinados contextos, expressões tais como “ eu cá não sou político”, “ a política a mim não me interessa”, “os políticos são todos iguais”, ou aquela outra, muito comum no tempo da ditadura ( até mesmo da boca de tantos convertidos depois em “anti fascistas” do 26 de Abril ) de que “ a minha política é o trabalho”.

Cavaco Silva poderia ter dito “ não sou um profissional da política “, o que soaria de forma diferente. Poderia, ou poderá dizer “ nunca precisei nem preciso da política para viver” , ou “ nunca enriqueci à custa da política”, o que é rigorosamente verdade. Poderá mesmo acrescentar, querendo juntar alguma mordacidade ao seu discurso, que não tem nem nunca teve dinheiros para criar uma fundação, a qual, para se constituir, necessita obviamente de “fundos”...
Agora que é um político, é . Importa pouco juntar ou não o adjectivo profissional.
E é inegável que faz política com profissionalismo, como pode concluir-se da forma como soube gerir os seus silêncios, a oportunidade das suas intervenções, e até a encenação da apresentação da sua candidatura.

Todavia, foi desproporcionado e descabelado o ataque que, directa e explicitamente lhe fez anteontem Mário Soares, a propósito daquela sua afirmação.
Mais do que propriamente as palavras que proferiu, a crispação do seu rosto, o timbre da sua voz, a tonalidade do seu discurso e a sua linguagem corporal, denotaram claramente um grande nervosismo, e uma crescente irritação , e deram sinais que o verniz lhe estará quase a estalar. Como costumava ( e decerto costuma ainda) acontecer, quando se sente acossado nos seus desígnios ou nos seus caprichos.
A dar assim tiros nos pés, não chegará à segunda volta, se a esta realmente tiver de se chegar.

Mais serenas, subtis e polidas, foram as declarações de Manuel Alegre, também proferidas a propósito de outra parte das declarações de Cavaco Silva.
Por isso mesmo mais eficazes, junto da opinião pública e do eleitorado.

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