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segunda-feira, agosto 29, 2005

SENTIDO DE ESTADO E AUTORIDADE DO ESTADO

Segundo o Público deste passado sábado noticiava, a viatura do Digníssimo Juiz Presidente do Tribunal Constitucional (TC), um dos orgãos de soberania previstos na Constituição da República, foi apanhada pela GNR a circular numa auto-estrada a cerca de 200 km/h .
Foi alegado, por fonte ligada ao mesmo TC, que Sua Excelência estava atrasado para uma reunião urgente.
Não sei se tal falta grave terá ou não ficado impune. Presumo que terá.
Não é caso único, nem sequer raro, situações como esta ocorrerem com altas figuras do Estado.
Dou testemunho de um caso desses.
Foi no dia 6 de Fevereiro de 1999. Estava então em vigor uma coisa chamada “tolerância zero” , uma mirabolante descoberta de um ministro do governo de António Guterres. Só era aplicável em algumas estradas. Nas outras, poderia ser a rebalbaria que se quisesse, pois aí as polícias não prestariam muita atenção e fechariam mais os olhos; ou seja, havia tolerância quanto bastasse.
Cerca das 12:25 daquele dia, eu circulava, nos devidos 120km / hora, na auto-estrada A1 no sentido Porto-Lisboa.
Por altura do quilómetro 110, entre a saída para Fátima e a saída para Torres Novas, sou ultrapassado por um carro da Brigada de Trânsito da GNR, a alta velocidade, a piscar freneticamente, logo seguido de uma caravana de uma meia dúzia de negros, potentes e confortáveis automóveis.
De relance, pude observar que um deles era portador de uma matrícula na qual li as duas letras maiúsculas: PR. Pelas minhas estimativas, a veloz caravana devia circular a uma velocidade de 180 a 190 km / hora, pelo menos.
Ainda escrevi nessa altura uma carta, via e-mail, ao director do semanário Expresso, narrando o meu testemunho. Não foi publicada.

E quantas vezes não tenho visto as viaturas de autoridades locais, designadamente do Presidente da Câmara, estacionadas sobre os passeios, em ruas pedonais, ou noutra qualquer evidente contravenção, em locais proibidos ao comum dos cidadãos mortais?

Para haver autoridade do Estado, é condição indispensável, embora não suficiente, que os titulares dos seus altos orgãos se dêem ao respeito, dêem o exemplo, e tenham sentido de Estado.
E, por exemplo, o actual Presidente da República, não mostrou sentido de Estado quando aceitou condecorar a banda rock U2, num nobre salão do Palácio de Belém, interrompendo as suas férias, com aqueles decrépitos rockeiros provocatória e fantasiosamente vestidos como se viu, sem sequer se dignando tirar o chapéu.
Alguém imagina uma cena destas com o falecido Presidente Mitterrand, ou com o Primeiro-Ministro de Espanha, ou com o Primeiro-Ministro inglês, ou com o Chanceler da Alemanha, para já não falar na Rainha de Inglaterra? Não, ninguém sequer é capaz de imaginar.

PS.
Recordo-me também de um Presidente da República, então Mário Soares, dependurado da janela do autocarro onde seguia, a clamar em altos berros para um pobre guarda da GNR que fazia o seu melhor, sobre a sua moto, a tentar facilitar o trânsito: “ Ó senhor guarda, desapareça!..Desapareça!...”.

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