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sexta-feira, julho 29, 2005

PORTUGAL INSUSTENTÁVEL

Chegou-me hoje às mãos o relatório anual da EDP referente a 2004.
“ Um contributo para a sustentabilidade”, escreve-se nele.
A palavra sustentável está decididamente na moda, bem acolhida no mais genuíno jargão “politiquês”. O mesmo sucede com o adjectivo incontornável, por exemplo.

O dito relatório é constituído por :
- 4 volumes
- num total de 446 páginas, de tamanho bizarro, não normalizado
- com um peso total de 3,06 kg ( não ria o leitor, fui mesmo pesar)
O papel de impressão é couché de alta qualidade, alto nível de brancura e elevada gramagem.
Um verdadeiro luxo asiático, enfim. Ao melhor estilo de uns administradores e directores ricos, de uma empresa com um produto assim assim, de um país pobre.

Qual é o publico alvo de tal excelente mas megalómana publicação, com uma reduzida tiragem de 2500 exemplares ?
Os consumidores que pagam cara a energia? Os pequenos e médios accionistas, que o que desejam é retorno do capital investido? Os senhoritos dos órgãos governamentais e da administração pública, que talvez a vão usar para decoração das suas estantes ? Algum deste potenciais públicos-alvo vai ter pachorra para ler aquela coisa, cansando a vista com a pequenina letrinha impressa de cor acinzentada, pouco contrastante com o fundo branco do papel?
E alguém acredita que as instituição financeiras internacionais se vão deixar impressionar pela alta qualidade gráfica da magnífica publicação, olhando mais para a forma e para o “embrulho”, do que para os resultados e o essencial do conteúdo? Talvez algumas ONGA’s (Organizações Não Governamentais Ambientais, tipo Quercus..) se impressionem, isso sim.

Será oportuno fazer uma breve comparação.
O relatório de 2004 da StoraEnso, o maior grupo a nível mundial do sector industrial da pasta e do papel, trans ou multinacional, com negócios em todos os continentes, financeira e economicamente sólida, com sede num país rico e onde a energia eléctrica é mais barata que em Portugal, altamente cotada nas bolsas internacionais, é constituído por:
- 3 cadernos
- num total de 224 páginas, de tamanho normalizado A4
- com um peso total de 700 gramas ( não ria o leitor, fui mesmo pesar).
Todo o papel é de baixa gramagem, e apenas o do caderno de informação institucional é branco e couché. O papel do caderno financeiro e do caderno ambiental/responsabilidade social é de baixa brancura, com incorporação de reciclado.

O confronto entre estas duas “atitudes” (não sei se lhes hei-de chamar abordagens, políticas, ou estratégias…) levou-me a recuperar um artigo publicado há duas semanas no PUBLICO, da autoria do Prof. Carlos Cupeto, da Universidade de Évora, intitulado “ Portugal insustentável”.
Merece a pena transcrever umas breves passagens:

“(…)
Entramos então numa conjuntura que aponta inequivocamente para a necessária utilização racional da energia. Mas o que fazemos para isso? Nada. Ou melhor, escrevemos Estratégias Nacionais de Desenvolvimento Sustentável.
Quando se consome mais do que se produz e, ainda por cima, se consome mal, o resultado não é bom. Provavelmente, estamos só a viver o início de uma profunda realidade insustentável.
(…)
O grande desafio da sustentabilidade tem de ser planificar e gerir um país de baixa energia.
Entretanto, enquanto não for possível, vamos continuar a assistir ao duplamente caro exercício de escrever estratégias de sustentabilidade.
Portugal é de facto um país insustentável. Falta só saber: até quando? “
PS
Mas vá lá, nem tudo é mau.
A EDP reduziu as suas emissões de gases alegadamente com efeito estufa, em 74 kg de dióxido de carbono por cada MWh produzido em centrais termo eléctricas.
Mas isso porque em 2004 entrou em funcionamento a nova central termoeléctrica do Ribatejo, de ciclo combinado a gás natural.

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