sábado, junho 11, 2005
O DISCURSO CONTRA OS POLÍTICOS (1)
Sempre detestei o chamado discurso “politicamente correcto”
No debate que por aí vai, aceso, sobre os regimes de subvenções e acumulações de titulares de cargos políticos, está a meu ver a instalar-se (e também na blogoestera) um discurso algo insensato e “politicamente correcto” contra os “políticos” e as suas exageradas regalias e prebendas.
Senti por isso vontade de sobre o tema arrumar algumas singelas e desajeitadas reflexões.
Para já , apresento cinco delas.
1.
As acções “moralizadoras” anunciadas pelo Governo para regulamentar o regime de acumulação de pensões, subvenções e remunerações de governantes e outros políticos têm sido acusadas por alguns comentadores da nossa praça de demagógicas e populistas e de servirem somente para “embrulhar” as impopulares medidas de contenção e austeridade que a situação do País torna imperiosas, por forma àquelas serem menos difíceis de serem vendidas à opinião pública, às corporações de interesses e ao eleitorado.
A acusação não faz, a meu ver, qualquer sentido.
As referidas acções têm, inegavelmente, isso sim, uma grande carga “emblemática”, o que não é a mesma coisa de serem populistas.
O eficaz comando, em particular na Política, faz-se quase sempre através do exemplo, mediante acções com carga emblemática.
Na História, abundam os exemplos. Quando em campanha, Alexandre o Grande dormia no chão, como os seus soldados, e Napoleão comia do mesmo rancho servido às suas tropas. Quando, na 2ª Guerra Mundial, Londres sofria os terríveis bombardeamentos da aviação nazi, o rei Jorge VI e a família real recusaram deixar a capital da Inglaterra, e Churchill dormia, no seu abrigo, no mais exíguo dos aposentos, num tosco catre.
2.
Não obstante, existe sempre o risco de , nas referidas acções de “moralização” se colherem muitos efeitos perversos. A alguns destes se refere Vasco Pulido Valente, no seu peculiar, avinagrado e por vezes irritante estilo, na sua crónica do PUBLICO de hoje :
“(...) no meio da choradeira universal, nós pagamos muito mal aos nossos políticos.
Ou, mais precisamente, os políticos (porque em última análise são eles que mandam) não se atrevem a ganhar mais com medo do “povo” .
Sempre detestei o chamado discurso “politicamente correcto”
No debate que por aí vai, aceso, sobre os regimes de subvenções e acumulações de titulares de cargos políticos, está a meu ver a instalar-se (e também na blogoestera) um discurso algo insensato e “politicamente correcto” contra os “políticos” e as suas exageradas regalias e prebendas.
Senti por isso vontade de sobre o tema arrumar algumas singelas e desajeitadas reflexões.
Para já , apresento cinco delas.
1.
As acções “moralizadoras” anunciadas pelo Governo para regulamentar o regime de acumulação de pensões, subvenções e remunerações de governantes e outros políticos têm sido acusadas por alguns comentadores da nossa praça de demagógicas e populistas e de servirem somente para “embrulhar” as impopulares medidas de contenção e austeridade que a situação do País torna imperiosas, por forma àquelas serem menos difíceis de serem vendidas à opinião pública, às corporações de interesses e ao eleitorado.
A acusação não faz, a meu ver, qualquer sentido.
As referidas acções têm, inegavelmente, isso sim, uma grande carga “emblemática”, o que não é a mesma coisa de serem populistas.
O eficaz comando, em particular na Política, faz-se quase sempre através do exemplo, mediante acções com carga emblemática.
Na História, abundam os exemplos. Quando em campanha, Alexandre o Grande dormia no chão, como os seus soldados, e Napoleão comia do mesmo rancho servido às suas tropas. Quando, na 2ª Guerra Mundial, Londres sofria os terríveis bombardeamentos da aviação nazi, o rei Jorge VI e a família real recusaram deixar a capital da Inglaterra, e Churchill dormia, no seu abrigo, no mais exíguo dos aposentos, num tosco catre.
2.
Não obstante, existe sempre o risco de , nas referidas acções de “moralização” se colherem muitos efeitos perversos. A alguns destes se refere Vasco Pulido Valente, no seu peculiar, avinagrado e por vezes irritante estilo, na sua crónica do PUBLICO de hoje :
“(...) no meio da choradeira universal, nós pagamos muito mal aos nossos políticos.
Ou, mais precisamente, os políticos (porque em última análise são eles que mandam) não se atrevem a ganhar mais com medo do “povo” .
Como o “povo” os considera um bando de parasitas, ainda por cima maleficentes, tentam não o provocar recebendo abertamente o que deveriam.
Desta cobardia, já institucional, derivam três consequências.
Primeiro, só a mediocridade aceita um cargo de responsabilidade (e, às vezes, de risco), numa câmara, no parlamento ou no governo, por um ordenado comparativamente irrisório.
Segundo, os que aceitam, como por exemplo os deputados, tratam o seu lugar como se fosse uma sinecura inócua.
E, terceiro, uma grossa minoria arranja rendimentos laterais, que oscilam entre o legal e o criminoso, para se compensar de “um sacrifício” em que não vêem valor ou dignidade “ .
3.
As discussões em redor deste tema, que decorrem desde há duas semanas, foram desencadeadas pelo caso da acumulação do Ministro das Finanças.
Ora o que me parece que estava neste caso em causa não era o regime da acumulação usufruida, com inteira legalidade e legitimidade pelo Ministro.
Mas sim a surpresa e a perplexidade geradas na opinião pública pela circunstância de ter sido possível um alto funcionário do Banco do Estado ter passado a usufruir de uma pensão de mais de 10 mil Euros( 2 mil contos) por mês, devida pelo trabalho de 6 anos nessa instituição . Legalmente devida, assinale-se, com total e inequívoco suporte em regulamentação fixada pelo seu próprio colégio de dirigentes, e com respaldo em acordo de um governo.
3.
As discussões em redor deste tema, que decorrem desde há duas semanas, foram desencadeadas pelo caso da acumulação do Ministro das Finanças.
Ora o que me parece que estava neste caso em causa não era o regime da acumulação usufruida, com inteira legalidade e legitimidade pelo Ministro.
Mas sim a surpresa e a perplexidade geradas na opinião pública pela circunstância de ter sido possível um alto funcionário do Banco do Estado ter passado a usufruir de uma pensão de mais de 10 mil Euros( 2 mil contos) por mês, devida pelo trabalho de 6 anos nessa instituição . Legalmente devida, assinale-se, com total e inequívoco suporte em regulamentação fixada pelo seu próprio colégio de dirigentes, e com respaldo em acordo de um governo.
E de um governo socialista, cumpre lembrar.
Como escreve Clara Ferreira Alves na sua crónica publicada na revista do Expresso de ontem:
(...)
Estes escândalos medíocres dão o retrato do país medíocre e vulgar que temos e merecemos. Foi este “monstro” que criámos ou ajudámos a criar e, se Sócrates quer ficar na história, é este monstro que ele tem de destruir.
4.
Um persistente e acrimonioso discurso contra os “políticos” tem o grande perigo de poder facilmente deslizar para um discurso contra o próprio exercício da política e da cidadania.
Sobretudo nos primeiros tempos da ditadura do Estado Novo, Salazar impregnava o seu discurso de referências negativas e maldosas aos políticos da 1ª República .
Aqui e além, até teria por vezes muita razão. Mas viu-se no que depois deu tudo isso.
5.
Corrosivas para a imagem dos titulares de cargos políticos são, isso sim, aquilo a que Pacheco Pereira chama de “subvenções infamantes” , criadas e usufruídas para compensar os níveis baixos dos valores das remunerações base, mais ou menos oficiais e públicas.
Estas deverão por isso ser quantificadas a níveis mais justos e em equilíbrio com as responsabilidades dos cargos . Será de esperar que isso aconteça, sem complexos, depois de feita a limpeza e a arrumação que se impôs fazer daquelas outras subvenções infamantes .
É coragem para isso que, a seguir, José Sócrates deve demonstrar também possuir.
Como escreve Clara Ferreira Alves na sua crónica publicada na revista do Expresso de ontem:
(...)
Estes escândalos medíocres dão o retrato do país medíocre e vulgar que temos e merecemos. Foi este “monstro” que criámos ou ajudámos a criar e, se Sócrates quer ficar na história, é este monstro que ele tem de destruir.
4.
Um persistente e acrimonioso discurso contra os “políticos” tem o grande perigo de poder facilmente deslizar para um discurso contra o próprio exercício da política e da cidadania.
Sobretudo nos primeiros tempos da ditadura do Estado Novo, Salazar impregnava o seu discurso de referências negativas e maldosas aos políticos da 1ª República .
Aqui e além, até teria por vezes muita razão. Mas viu-se no que depois deu tudo isso.
5.
Corrosivas para a imagem dos titulares de cargos políticos são, isso sim, aquilo a que Pacheco Pereira chama de “subvenções infamantes” , criadas e usufruídas para compensar os níveis baixos dos valores das remunerações base, mais ou menos oficiais e públicas.
Estas deverão por isso ser quantificadas a níveis mais justos e em equilíbrio com as responsabilidades dos cargos . Será de esperar que isso aconteça, sem complexos, depois de feita a limpeza e a arrumação que se impôs fazer daquelas outras subvenções infamantes .
É coragem para isso que, a seguir, José Sócrates deve demonstrar também possuir.