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segunda-feira, junho 27, 2005

EU CUMPRO…

Regressado à Figueira da Foz, logo à entrada da cidade, dou de caras com um grande cartaz ( agora diz-se outdoor…) de propaganda eleitoral do candidato Duarte Silva a Presidente da Câmara.
Nele se lê : “ Eu cumpro”.
O teor da mensagem parece-me bastante infeliz, sobretudo nos tempos de descrença que correm.
E creio que também desadequado e até contraproducente para os fins publicitários visados.
Ou seja, melhor fora não lembrar isso…
Vou explicar porquê.

Desde logo, uma tal mensagem faz surgir no espírito do leitor eleitor uma reacção : presunção e água benta, cada um toma a que quer.
Quem tão enfaticamente proclama “ eu cumpro!...” está a querer insinuar ou a afirmar mais: “ eu cumpro..” , os outros é que não.
No mínimo, o eleitor leitor irá encolher os ombros; talvez acabe mesmo por dar uma sadia gargalhada.
Pois acaso não sabe ele, com saber de experiência feito, que tem sido até agora norma, não cumprirem os dirigentes políticos aquilo que prometem nas campanhas eleitorais?
Cumpriu António Guterres quando abandonou o mandato a meio, por causa do pântano?
Cumpriu Durão Barroso quando prometeu um choque fiscal com redução de impostos, e depois afinal os aumentou? Ou quando deixou também o mandato a meio e se escapuliu para a Comissão Europeia, que por aqui as coisas estavam a ficar feias? Cumpriu Santana Lopes quando anunciou ter reduzido a dívida do Município da Figueira da Foz, quando de facto a dívida real era, no final do seu mandato, 3 a 4 vezes superior à que havia anunciado?
E acaso alguém ainda acredita que José Sócrates irá cumprir o compromisso de criar 150 mil empregos, ou de não reduzir o défice com receitas extraordinárias, ou de nunca acabar com as SCUTS?


Cumpre o quê?...cogitará o eleitor leitor do outdoor .
Como estamos a falar no plano da acção política, natural, quase óbvio, será tratar-se do cumprimento de promessas políticas, sobretudo as formuladas num contexto pré eleitoral, como soe acontecer.
O eleitor leitor da mensagem é por consequência convidado ou induzido a fazer o cotejo entre o prometido e o realizado, para avaliar o grau de cumprimento. Se este for muito reduzido, quem assim proclama que “ eu cumpro…” ficará certamente mal na fotografia, e na conta do julgador.
Ora, no caso em apreço do mandato cessante do candidato, tal cotejo não se afigura abonatório do seu desempenho.
Decerto haverá muitas e ponderosas razões que justifiquem tão grande diferença entre o prometido, designadamente no programa eleitoral, e o realizado no plano do concreto.
Concederei que muitas dessas razões sejam de molde a não dever ser colocada gravemente em causa a capacidade política e gestora da pessoa em avaliação, nem alguma da bondade e da qualidade do respectivo desempenho.
Haverá razões de diversa natureza e escala que poderão explicar, pelo menos em parte, essa tamanha diferença. Umas ligadas ao irrealismo ( para não dizer irresponsabilidade) de muitas promessas feitas, porventura devidas a doses excessivas de voluntarismo e de ambição ; outras relacionadas com alterações entretanto ocorridas na situação política a nível nacional, ou até do contexto e da envolvente económica e financeira.
Mas a verdade é que, num balanço geral, e dado que o cidadão médio pouco cuida de apurar e distinguir razões, é muito grande a diferença entre o prometido no programa eleitoral apresentado em final de 2001, e o que foi efectivamente realizado.
De caminho, e mais concretamente, refiram-se, por exemplo, as enormes diferenças entre os montantes orçamentados como despesas e investimentos a fazer ( que mais não são que compromissos ou promessas), nos orçamentos anuais da Câmara Municipal da Figueira de 2003 e de 2004, e aquilo que efectivamente se verificou na execução orçamental.
Vale a pena lembrar as taxas de realização de 65,4% em 2003 e de 53,5 % em 2004 .
Chamar-se-à a isto cumprir?


A boa altura de fazer esse tal balanço, vai ser agora, em final de mandato e em tempos de campanha eleitoral. E como não creio haver maneira de certos dirigentes políticos aprenderem com as lições do passado, quase aposto que essa campanha virá a ser novamente uma feira de admiráveis e atraentes promessas .
Muitos , ou pelo menos alguns cidadãos e eleitores não deixarão de fazer aquele balanço.
Serei um deles.
A isso serão mais induzidos pela leitura da frase “Eu cumpro...”.
Mais valera pois não ter assim falado e lembrado o estado do cumprimento das promessas feitas...

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